Com as recentes restrições adotadas pelo governo, profissionais que acompanham os números da Covid-19 no estado aprovam as decisões, mas defendem mais limites na circulação de pessoas. "A gente está no pior momento e piorando, disse o pesquisador Jones Albuquerque, do Instituto de Redução de Riscos e Desastres (IRRD).
“A situação
aqui é um pouco mais branda devido à quantidade de leitos, mas Recife, hoje,
está no pior momento da pandemia desde sempre”, disse o pesquisador .
Além das restrições em 63 cidades no interior, o governo de Pernambuco anunciou, nesta sexta-feira (26), a proibição de qualquer atividade não-essencial entre as 22h e as 5h em todo o estado. A medida vale a partir do sábado (27) até o dia 10 de março, em todo o território estadual.
Para Albuquerque, que monitora as estatísticas de
casos, óbitos e de infecção desde o início da pandemia em Pernambuco, em março
de 2020, os quase 12 meses de convivência com o novo coronavírus trouxeram
algumas lições, tomando como base os acontecimentos mundiais.
“O mundo
aprendeu que bloquear um bairro e não bloquear outro não funciona. Toque de
recolher, muito infelizmente, não funciona. Na fração da noite, a gente pega os
bares, mas durante o dia, a fração de indivíduos circulando no transporte
público é grande”, disse o pesquisador.
"É momento, sim, de ampliar restrições. Eu
defendo medidas mais agressivas. Não adianta restringir só o horário da noite,
a gente precisa incentivar que as pessoas fiquem em casa, restringir, se
possível, atividades não-essenciais”, disse o infectologista Bruno Ishigami, do
Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), que acredita que a suspensão dos
serviços não-essenciais 22h às 5h é "um começo".
Para Jones Albuquerque, o bloqueio efetivo das
atividades seria uma solução para conter o avanço da Covid-19, mas a medida
esbarra na dificuldade econômica enfrentada pelo estado. "Uns 14, 15 dias,
de bloqueio efetivo. Injetar dinheiro na economia para que os serviços que vão
sofrer com isso não sofram tanto", disse Albuquerque.
O problema também é visto por Ishigami como um
empecilho para que haja a diminuição efetiva dos casos. "Acho que uma
grande dificuldade da pandemia aqui no Brasil é isso. Todos os países que
conseguiram fazer isolamento efetivo deram condições para que a população
fizesse o isolamento reduzindo em algum grau o impacto econômico. Aqui a gente
não consegue fazer isso", disse o médico.
"Entre o que a gente faz hoje de medida
restritiva e um isolamento total, existem muitos passos pra gente dar. Acho que
a gente precisa ir lançando mão desses passos. Se a gente não frear a
disseminação do vírus, isso só vai aumentar e há um risco importante de
colapsar o sistema de saúde, como está acontecendo no Rio Grande do Sul", afirmou
Ishigami.
Jones Albuquerque entendeu, ainda, que a ampliação de leitos no estado é positiva, mas a
demanda pelo serviço pode crescer nas próximas semanas a ponto de a aquisição
não ser suficiente.
“Para os 490 leitos serem esgotados em uma semana,
é muito rápido. Os leitos crescem linearmente, a pandemia cresce
exponencialmente, feito juros compostos”, disse o pesquisador.
“A gente deveria dar um choque no vírus. O vírus não espera que a gente fique em casa. Ele espera que a gente circule, abrace as pessoas, encontre. Se a gente der uma travada, ganharíamos fôlego para implantara imunização e outras coisas”, disse Albuquerque. (Via: G1 PE)
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