O Brasil já tem seu primeiro satélite de imageamento da Terra 100% nacional. Lançado por um foguete indiano PSLV (Veículo Lançador de Satélite Polar, na sigla em inglês) na madrugada de domingo (28), o Amazônia-1 entrou em órbita e estabeleceu comunicação com a equipe responsável pela missão, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP).
O sucesso é um marco importante para o combalido programa espacial brasileiro e coroa um trabalho de cerca de três décadas no INPE, da concepção original ao voo. E, se trinta anos soa como um intervalo absurdamente longo para um projeto desse tipo, é porque é mesmo. A boa notícia é que uma missão espacial nunca é simples, e até agora tudo parece ter dado certo.
Lançado à 1h54 (de Brasília), a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, no sul da Índia, o Amazônia-1 foi colocado, 17 minutos depois, numa órbita polar (que circula a Terra sobrevoando os polos) com altitude de 760 km.
Equipado com uma câmera de campo amplo capaz de registrar imagens que cobrem uma largura de cerca de 860 km com resolução de aproximadamente 60 metros, ele agora fará companhia no espaço aos satélites Cbers-4 e 4A, construídos em parceria por Brasil e China. O feito eleva para três o número de equipamentos de observação da Terra nacionais em operação. A vida útil mínima do Amazônia-1 é estimada em quatro anos.
Para além de ser o primeiro satélite de observação terrestre totalmente brasileiro, esta é a missão de validação da Plataforma Multimissão (PMM), projeto do Inpe que tem por objetivo criar uma estrutura “genérica” para satélites, com todos os subsistemas essenciais do ponto de vista de engenharia, deixando espaço para a instalação de diferentes instrumentos para propósitos variados.
Um sonho antigo, por exemplo, era usar o mesmo modelo de plataforma do Amazônia-1 em um satélite astronômico, voltado para observações de raios X. A missão chegou a ser formatada no instituto, mas nunca apareceram os recursos para torná-la realidade. E a essa altura, com tanto tempo de desenvolvimento, a PMM já nasce “velha” em termos tecnológicos. Pior ainda, não existem grandes perspectivas imediatas de novas missões.
Até há planos para dois satélites da série Amazônia (1A e 2), mas não se vê perspectiva de financiamento para que eles possam iniciar seu ciclo de desenvolvimento. Outras propostas para a PMM são ainda mais remotas.
Com a iminente reformulação do PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais) para a próxima década, devemos ter uma noção mais clara do que se pode ambicionar. Mas não há razões para otimismo. O maior perigo agora, com o crescimento explosivo do déficit público e a miopia estratégica em governos recentes ao desinvestir pesadamente em ciência e tecnologia, é o Amazônia-1 acabar tendo de mudar de nome para Amazônia-Único.
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