Imagine aquela cena de filme ou da sua série médica favorita: chega um paciente após um acidente, em estado grave, e vai para a cirurgia ou atendimento clínico. Depois, segue para internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI) ou para um centro de terapia intensiva (CTI), onde vai ficar por alguns dias até a recuperação – ou não.
Nesse intervalo, que podem ser horas ou até dias e semanas, diversos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais de saúde irão passar na unidade para uma visita –a chamada "round", do termo em inglês, mas também falado de maneira popular entre as equipes médicas aqui no Brasil.
No meio do caminho, plantonistas ou médicos intensivistas
trocam de plantão, e a informação do estado do paciente ou suas necessidades de
medicação precisa ser repassada diversas vezes, e sem que haja falha no
processo de comunicação entre as equipes.
Foi pensando nisso que a
médica intensivista Clarice Costa criou o aplicativo Roundover. Com seus mais
de 20 anos de experiência na área de medicina intensiva, Costa tinha um sonho
de criar algo que facilitasse esse trabalho, por vezes muito estressante e que
demanda muito tanto física quanto psicologicamente dos profissionais
envolvidos.
A ideia já vinha germinando lá em 2019, antes da pandemia que
já assolou mais de 242 mil vidas no Brasil, mas o momento foi perfeito, afinal,
com o início de 2021 já marcado por mais de 80% de taxa de ocupação nos leitos
de UTI em oito das 27 capitais do país, uma ferramenta que auxiliasse esse
atendimento mostrou-se fundamental.
O nome Roundover denota como é o trabalho nessas unidades:
uma visita que se perpetua, não se esgota ali com o trabalho de um único
profissional. "As equipes dos CTIs atendem muitos pacientes graves e por
isso têm um volume de informação muito grande todos os dias. Algumas unidades
têm maior rotatividade, então a rotina de comunicação precisa ser estratégica
para que essas informações não se percam por conta do volume de dados ao longo
do dia", explica.
Funciona assim: cada equipe de unidade de terapia intensiva
tem um espaço próprio onde pode se comunicar através do chat, subir exames de
imagem e laboratoriais do paciente, marcar ou desmarcar tópicos dentro de uma
lista – por exemplo sedação, medicação em curso, ou como estão os exames de sangue–
e ainda registrar indicadores de gravidade –os escores utilizados para avaliar
como está a evolução do paciente, por exemplo.
Para proteger os dados tanto do paciente quanto do hospital,
os usuários podem usar números ou símbolos para cada paciente, e somente eles
terão acessos aos laudos médicos e exames, evitando assim vazamento de
informações e fraudes médicas, como foi observado em alguns hospitais que
tiveram seus dados médicos vazados em 2020.
O aplicativo, além de inovador, é o primeiro a concentrar em
uma única plataforma informações que podem ser acessadas por toda a equipe
médica em todos os níveis de função.
Se, por exemplo, o responsável da equipe quiser saber como
está a evolução do pulmão de um paciente que está com ventilação mecânica, ele
consegue acessar rapidamente uma imagem de raio-X do órgão no tópico sobre
ventilação –ferramenta muito útil para o atendimento dos pacientes internados
com a Covid-19.
Por funcionar por meio de senhas seletivas, o chefe da UTI
tem acesso a todo o conteúdo, enquanto os médicos de rotina, plantonistas ou
outros profissionais têm acesso restrito a suas áreas de atuação. "O
Roundover facilita essa comunicação, uma vez que o chefe da UTI pode saber em
tempo real como está um paciente, mesmo se ele não estiver no hospital naquele
momento", diz a médica.
Uma outra vantagem é um chat interno do aplicativo,
permitindo que a equipe tenha uma conversa em tempo real em uma ferramenta
profissional, separando assim as conversas mais informais e pessoais para
outros aplicativos.
Além das equipes, os administradores de hospital podem também
acessar com a função "gestor" –nesse caso, têm acesso às informações
do paciente, mas não aos chats de conversa, para manter um ambiente em que as
equipes possam conversar livremente.
Até o momento, já foram feitos mais de mil downloads do
aplicativo, e há o cadastro de 35 unidades de CTI ou UTI na plataforma, ou
cerca de 420 equipes, distribuídas nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e
Sudeste.
A expectativa agora é de ampliação do uso. "Meu objetivo
maior com esse aplicativo é auxiliar a equipe médica, do médico plantonista até
o chefe de UTI, porque sei como o volume de comunicação pode ser difícil de
lidar. Por isso, costumo dizer que é o slogan do app é 'A sua UTI na palma da
mão', e é isso que desejo mesmo, uma ferramenta que possa ser usada a
beira-leito ou de qualquer lugar", finaliza Costa. (Via: Folhapress)
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