Empenhado na missão de continuar no comando do Palácio do Planalto por mais um mandato, Jair Bolsonaro (PL) tem investido seu tempo em agendas voltadas ao segmento religioso. Segundo levantamento feito pelo Metrópoles com base na agenda presidencial, o mandatário do país mais que dobrou sua presença em eventos religiosos do ano passado para cá.
Entre janeiro e julho de 2021, o presidente apareceu em 10 agendas com o setor. No mesmo período deste ano, foram 22 compromissos.
A tática do atual titular do Executivo federal tem surtido efeito nas consultas eleitorais. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em junho, apesar de o pré-candidato à Presidência do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, liderar a disputa pelo Planalto, é Bolsonaro quem tem a maioria das intenções de votos dos evangélicos – 40% ante 35% de Lula.
No levantamento anterior, publicado em maio, os percentuais eram 39% e 36%, respectivamente. Em março, os resultados eram 37% para Bolsonaro e 34% para Lula.
As agendas de Bolsonaro ocorrem tanto em Brasília – em seu gabinete e no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente – quanto pelo país. A Marcha para Jesus, no Espírito Santo, se tornou a mais recente delas, em 23 de julho.
A programação voltou a ser realizada de forma presencial após dois anos com encontros virtuais em razão da pandemia de coronavírus. Segundo registros oficiais da agenda presidencial, neste ano, Bolsonaro esteve em 10 atos do evento gospel – quase metade dos compromissos religiosos em que participou em 2022.
Pauta de costumes
Outros eventos que contam com a participação do atual chefe do Executivo federal são cultos e reuniões com líderes religiosos. Ocasiões em que o presidente costuma pregar a chamada “pauta de costumes” e criticar a legalização do aborto e a ideologia de gênero, por exemplo.
“O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constitua família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula”, disse em 14 de julho, durante culto no Maranhão.
Além disso, Bolsonaro tem aproveitado as agendas com religiosos para exaltar as mulheres. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em junho, a rejeição do presidente é de 61% entre o eleitorado feminino.
Aconselhado pelo seu comitê de campanha, o titular do Planalto passou a investir no discurso em favor do público feminino. “Hoje, este encontro religioso de mulheres tem um significado especial. Nenhum homem pode ser bem-sucedido se não tiver uma mulher a seu lado”, pregou durante assembleia com mulheres evangélicas.
Foco da campanha eleitoral
Interlocutores afirmam que Bolsonaro tem vantagem sobre Lula diante do segmento e defendem que católicos e evangélicos estarão novamente ao lado do presidente, a exemplo das eleições de 2018.
Segundo Rodolfo Tamahana, professor e especialista em ciências políticas do Ibmec Brasília, após aprovar a PEC dos Auxílios, que permitiu a criação de um pacote social de R$ 41,2 bilhões em pleno ano eleitoral, o foco da campanha de Bolsonaro agora se volta para a defesa da pauta de costumes. Esse seria o grande diferencial entre o atual presidente e o petista.
“A pauta de costumes é exatamente o que complementa a estratégia dele [Bolsonaro]. Ou seja, o braço econômico veio por meio da PEC dos Auxílios e, agora, a pauta de costumes passará a ser a estratégia. Isso demonstra uma aproximação muito consistente com os líderes religiosos, e é o que diferencia o candidato Bolsonaro do candidato Lula”, explicou.
Na mesma linha, Matheus Albuquerque, da Dharma Politics, diz que o diálogo de Lula com o eleitorado conservador e à direita do espectro político “ainda se constitui como uma tarefa complexa, em que enfrenta múltiplas resistências”.
“No fim do dia, Bolsonaro espera cristalizar sua vantagem percentual junto ao segmento evangélico, de modo a não ser ultrapassado por Lula, que resguarda vantagem competitiva junto ao eleitorado geral na maior parte das pesquisas de opinião do país”, pontuou.
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