Neste domingo (6), o Consórcio Nordeste publicou uma nota criticando falas do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em uma entrevista dada ao jornal "O Estado de S. Paulo" no último sábado (5). À publicação, Zema menciona a formação de uma aliança Sul-Sudeste em resposta à articulação dos governadores dos nove estados nordestinos.
Ao comentar a formação da frente, Romeu Zema falou sobre o "protagonismo econômico e político" do Sul e Sudeste. Disse, ainda, que o Brasil funciona como um "produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito", referindo-se aos estados nordestinos.
De acordo com Zema, o bloco Sul-Sudeste é formado pelos sete governadores da região. Para o governador de Minas Gerais, as regiões estariam em desvantagem em votações na Câmara, mesmo representando uma fatia maior da população.
"Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”, disse em entrevista.
Em resposta, o Consórcio Nordeste disse que o governador de Minas Gerais "demonstra uma leitura preocupante do Brasil" e que o Norte e o Nordeste foram regiões penalizadas ao longo das décadas pelos projetos nacionais de desenvolvimento. A entidade também negou "qualquer tipo de lampejo separatista".
"Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual. [...] A união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação", alegou o Consórcio, em nota.
O grupo apelou, ainda, pela união nacional em torno de áreas estratégicas, como a economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Segundo o Consórcio Nordeste, a união entre Sul e Sudeste pode representar avanços, desde que haja o compromisso no combate nacional às desigualdades e respeito às diversidades.
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Confira a nota do Consórcio Nordeste na íntegra:
O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 5 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.
O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.
É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.
Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.
A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.
Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.
Governadora de Pernambuco
A governadora Raquel Lyra publicou nas redes sociais um pronunciamento em que disse que "o Nordeste é parte da solução do país e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença".
"Nossos pleitos não vão além do que é justo diante de uma construção histórica tão conhecida. Não construiremos o Brasil que sonhamos com mais desigualdade. Na discussão da Reforma Tributária, o Senado terá voz ativa para melhorar questões como o Fundo de Desenvolvimento Regional, por exemplo", afirmou.
Raquel Lyra também afirmou que, para se diminuir diferenças regionais, é preciso "dar mais a quem tem menos".
"Pernambuco está nessa batalha por um sistema tributário mais simples e pró-desenvolvimento do Brasil, assim como na defesa irrestrita do fortalecimento de todos os instrumentos legais que permitam às regiões garantir — sem migalhas — oportunidades, emprego e renda para o seu povo", declarou.