Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram uma técnica capaz de verificar, com 100% de precisão, se uma determinada pessoa foi responsável por disparar um tiro de arma de fogo. A ferramenta também identifica, em poucos minutos, o tipo de munição e o calibre do armamento utilizado num crime.
De acordo com um dos orientadores da pesquisa, o professor Vagner Bezerra, do Departamento de Química Fundamental da UFPE, atualmente as autorias de crimes com uso de armas de fogo são investigadas por meio de análises em laboratório, um processo que, segundo ele, é mais caro e demorado.
"A análise em si [no laboratório] dura algumas horas, mas, como a fila [de casos] é muito grande, hoje se levam meses [para sair o resultado]. Com essa técnica, a análise demora 20 segundos no máximo e, depois de colocar nos modelos matemáticos, a gente consegue saber em dois ou três minutos. O método atual também pode apresentar falsos positivos, quando o teste aponta para alguém que não teve contato nenhum com a arma", afirmou o cientista, em entrevista ao g1.
A descoberta é resultado de um projeto de dissertação de mestrado, feito em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e com apoio do Instituto de Criminalística de Pernambuco (IC).
Segundo Vagner Bezerra, para confirmar se foi ou não aquela pessoa quem atirou, o equipamento de detecção eletroquímica tem uma precisão de 100%. Já para descobrir o tipo de arma e munição, a precisão é de 85%.
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Análise biológica
De acordo com Vagner Bezerra, que é líder do Laboratório de Instrumentação e Automação em Química Analítica Aplicada da UFPE (LIA3), a análise é realizada após a coleta de material biológico extraído das mãos do suspeito – um tipo de exame semelhante aos testes de Covid-19, conhecido como "swab" (veja na ilustração abaixo).
O objetivo é extrair possíveis resíduos do tiro, que podem ficar no corpo do atirador por alguns dias depois do crime.
"É como se fosse um cotonete, embebido numa solução de acetato, sódio e ácido acético. Ele estabiliza os resíduos do disparo. A gente consegue extraí-los com o 'swab' e coloca num recipiente que tem um líquido da mesma composição. Então, a gente pega 50 microlitros por micropipeta, o que equivale a uma gota, e transfere para um eletrodo", detalhou o pesquisador.
A partir de então, é feita a análise do material biológico, por meio de um software instalado num computador, para saber se há resíduos de bala nas mãos do suspeito e as características físicas e químicas desses resíduos, cruzando informações com um banco de dados sobre os armamentos.
"Ele [o sistema] gera uma quantidade de, praticamente, 200 a 300 dados. E ali a gente consegue identificar todas as substância orgânicas e inorgânicas que têm no disparo. Esses dados são colocados num modelo que classifica o perfil de quem atirou", explicou Bezerra.
Necessidade de mais testes
Ao g1, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) disse que os profissionais do IC estão cientes do desenvolvimento da técnica pela UFPE e a consideram "uma solução notável e de baixo custo".
Ainda de acordo com a SDS, a ferramenta precisa ser submetida a "testes mais amplos, com mais tipos de armas e fora de ambiente controlado".
A SDS informou também que:
Inicialmente, a nova tecnologia pode ser usada como exame preliminar, utilizada junto com "as técnicas recomendadas pelos órgãos nacionais e internacionais";
A possibilidade de ela ser usada para a identificação de resíduos de armas de fogo é promissora, "principalmente, quando considerados os custos das outras técnicas indicadas para esse tipo de perícia";
O IC tem feito cada vez mais esforços na construção de parcerias como essa, "no intuito de aperfeiçoar a prestação do serviço pericial" no estado. (Via: G1 PE)