Diante de dois policiais militares, nove filas de alunos do terceiro ano
de uma escola estadual em Manaus repetem em coro, com as mãos para trás, o que
um dos policiais grita: "Convidamos Bolsonaro, salvação dessa nação/ Nos
quatro cantos ouvirão completa nossa canção".
A cena consta de vídeo gravado no Colégio Waldocke Fricke de Lyra, uma
das oito escolas administradas pela PM por meio de um acordo com a Secretaria
de Educação do Amazonas.
Ao final, uma aluna em traje militar, dirigindo-se ao presidenciável
Jair Bolsonaro (PSC-RJ), diz: "Gostaríamos que o senhor pudesse nos honrar
com a sua presença em nossa formatura militar". Outra aluna completa:
"Nosso convite deve-se a sua trajetória ética e o seu compromisso com a
educação".
O vídeo foi distribuído nas redes sociais por Bolsonaro na sexta-feira
(04). Ele diz que se trata de um convite "irrecusável": "Um
exemplo de ensino que deveria ser adotado em todas as escolas públicas do
Brasil".
A iniciativa foi classificada de "doutrinação nazifascista de
crianças e adolescentes" pelo presidente do Conselho Estadual de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana, Glen Wilde Freitas. "É igual ao que se fazia
nas escolas alemãs dos anos 1930."
Freitas, que também é o representante da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), disse que, antes do episódio, já recebeu relatos de alunos expulsos
por reclamar da doutrina rígida. Nesta segunda-feira (07), ele solicitou uma
explicação ao comando da PM e à Secretária de Educação sobre o convite a
Bolsonaro.
Nas redes sociais, um estudante que aparece no vídeo criticou a
iniciativa. "Simplesmente não abri minha boca como muitos, escola
doutrinada. A comissão de formatura em nenhum momento veio me perguntar se era
a favor de fazer o vídeo, simplesmente obrigaram, depois ficaram dizendo que a
maioria concordou, só não falo mais porque ainda estudo nessa instituição, não
temos mais direito de definir nossa posição política", escreveu.
No domingo (06), a Folha questionou o comandante da PM, coronel David
Brandão, sobre o assunto. Ele prometeu responder no dia seguinte, o que não
ocorreu.
A reportagem entrou em contato esta segunda-feira (07) com a assessoria
do secretário da Educação, Trone Bentes, mas ele tampouco respondeu à
solicitação.
Também foi pedido um comentário ao deputado estadual Platiny Soares
(DEM), aliado de Bolsonaro a autor de um projeto de lei inspirado no movimento
Escola sem Partido, mas ele também se recusou a comentar.
Assista o vídeo:
Assista o vídeo:
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Folhapress