A pré-estreia de um filme sobre a Operação Lava Jato, nesta
segunda-feira (28), fechou as oito salas de um cinema num shopping de Curitiba.
Eram 2.200 pessoas convidadas, e o ar condicionado começava a se fazer sentir
novamente quando o juiz Sergio Moro passou pelo tapete vermelho, quinze minutos
antes da sessão.
Os aplausos para o responsável pelos processos da Lava Jato na primeira
instância na Justiça Federal no Paraná foram contidos. Assim como pretende ser
o próprio filme, "Polícia Federal - a lei é para todos", que estreia
nos cinemas na próxima quinta (07).
"Não é um filme político; é de entretenimento", declarou o
diretor Marcelo Antunez, antes da exibição da produção, que conta com as
atuações de Antonio Calloni, Flávia Alessandra, Marcelo Serrado e Ary Fontoura.
"O único objetivo é promover o debate."
Escoltado por pelo menos oito seguranças, Moro estava acompanhado da
mulher Rosângela e do magistrado carioca Marcelo Bretas. "Estou ansioso;
vamos ver", declarou Moro, economicamente.
Os juízes que conduzem a Lava Jato em seus respectivos Estados sentaram
lado a lado na sala do cinema -em meio a delegados, agentes policiais,
procuradores e servidores da Justiça e do Ministério Público. Os convites foram
distribuídos pela produção do filme e pelos patrocinadores, que permanecem
anônimos (a produção foi bancada com recursos exclusivamente privados).
Segundo Antunez, os investidores do filme, orçado em R$ 16 milhões,
valor considerado alto para os padrões brasileiros, pediram para manter seus
nomes sob sigilo porque temem represálias ou simplesmente não querem ver seus
nomes publicados na imprensa.
O diretor afirma que os investidores tiveram que assinar cláusulas de
compliance nas quais afirmam não ter sofrido acusações de corrupção. Os
produtores disseram ter aberto mão de tentar incentivos fiscais porque poderia
haver "um conflito ético".
Os policiais que inspiraram o fio condutor da película, assediados quase
que exclusivamente pela imprensa na pré-estreia, também demonstravam
curiosidade em relação ao enredo. "Tem uma licença poética, mas tem uma
expectativa grande para saber se vai ser próximo da realidade", disse o
delegado Igor Romário de Paula, que coordena a Lava Jato em Curitiba.
"Independentemente de ser ou não fiel aos fatos, é um filme para o
pessoal pensar", disse o superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco.
Para o delegado Marcio Anselmo, um dos primeiros a conduzir a investigação, a
produção tem o mérito de abrir os bastidores da Lava Jato à população em geral.
"Essa operação nasceu com a insistência e a perseverança da Polícia
Federal", afirmou à reportagem a delegada Erika Marena, considerada a
"mãe" da Lava Jato.
Algumas das cenas foram gravadas na própria superintendência da Polícia
Federal no Paraná, que fez acordo de cooperação com a produção.
O filme procura contextualizar a Lava Jato em um histórico de corrupção.
Logo no início, o delegado que narra a história afirma que "a corrupção
chegou ao Brasil com as primeiras caravelas". "Os fatos narrados
nesse filme aconteceram entre abril de 1500 e março de 2016", resume um
letreiro em preto e branco, ainda nas primeiras cenas.
Algumas cenas são contadas em tom de suspense, como a prisão do
empreiteiro Marcelo Odebrecht, em que a busca pelo celular do empresário se
torna quase épica, e a detenção do doleiro Alberto Youssef.
O humor ficou por conta do personagem do doleiro, entre um
"Engordou, hein, doutor", diante do delegado que o prendeu, e outro
"tem espaço no escritório 154", a empreiteiros presos.
A plateia reagiu aos risos à conversa gravada entre Lula e Dilma
Rousseff e à aparição do "japonês da federal", retratado por um ator
quase idêntico ao agente que se notabilizou por prender investigados na Lava
Jato. O agente Newton Ishii não foi à pré-estreia.
No final de projeção de uma das salas, um espectador gritou:
"Prendam os corruptos!".
Na saída de uma das sessões, a aposentada da Universidade Federal do
Paraná Ieda Neves de Almeida cumprimentou o ator que interpretou o delegado da
PF Márcio Anselmo e tentou conversar, mas ele disse que estava atrasado para
uma viagem. Ieda disse à Folha que ajudou em uma das campanhas eleitorais do
ex-presidente Lula, mas gostou do filme. "O filme é muito bem feito, os
artistas são excelentes. Mas fico triste, pois é a situação atual do país. É
real, mas é triste", disse a aposentada. (Via: Folhapress)
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