Nos corredores do Congresso, a PEC 282/16, proposta de emenda
constitucional que acaba com as coligações proporcionais e institui uma
cláusula de desempenho para os partidos nas próximas eleições ganhou um
apelido: é a "PEC da Shéridan.
No caso, Shéridan Oliveira (PSDB-RR), 33, deputada de primeira viagem e
também a primeira mulher a relatar um projeto de reforma política, segundo
consultores da Câmara dos Deputados. Na última quarta (23), seu relatório foi aprovado na comissão especial.
A expectativa é de que a proposta seja levada para análise do plenário nesta
quarta (30).
Eleita aos 31 anos, a roraimense já foi identificada com o grupo dos
chamados "cabeças-pretas" do PSDB, os jovens que querem o desembarque
do governo de Michel Temer, mas nega fazer parte. "Não sou cabeça preta,
branca ou rosa. Sou uma cabeça responsável, não fui eleita para fazer parte de
grupos".
Segundo colegas de bancada, a deputada –que recebeu 35 mil votos, sendo
a mais votada do Estado– é mais próxima politicamente da velha guarda do
partido. No caso da denúncia contra Temer, levada a plenário em agosto, por
exemplo, Shéridan chegou a se alinhar com os "cabeças pretas":
declarou que votaria pela aceitação da denúncia.
Mas no dia da votação não compareceu, o que, na prática, ajudou o
presidente a enterrar a acusação. Normalmente sorridente e falante, ela franze
o cenho e dá uma resposta curta quando questionada a respeito. "Estava em
uma viagem pessoal e tive problema com o voo".
Na mesma votação, outra polêmica chamou a atenção para a parlamentar:
quando seu nome foi anunciado para a votação, foi chamada de
"gostosa" em um dos microfones do plenário.
Shéridan, que diz rejeitar o rótulo de "musa" com que convive
desde o início do mandato, entrou com pedido na Mesa Diretora para identificar
o deputado. "É um ambiente muito machista, inóspito ainda", afirma
ela.
Seu projeto tem como objetivo reduzir o número de partidos nanicos nos
próximos anos. Não é surpresa, portanto, que enfrente resistência dos partidos
médios e pequenos –até de parlamentares de seu Estado. "Se o distritão não
passar, vamos ter que derrubar o relatório", diz Hiran Gonçalves (PP-RR).
Do outro lado, porém, há quem critique a deputada justamente por ter
amainado as regras para os nanicos –na PEC original, o valor mínimo de votos
válidos a serem atingidos já em 2018 era de 2% em no mínimo 14 Estados. No
relatório da deputada, caiu para 1,5% em pelo menos nove unidades da Federação.
A deputada dá de ombros. "Não temos como alcançar unanimidade,
fazer um projeto ideal", diz. "Deve ser um projeto viável,
aprovável."
Sem pertencer a nenhum grupo dentre os tucanos, ela afirma que sua própria
ida para o partido não foi ideológica. "Comecei a conhecer o partido já
deputada", diz.
Isso porque a carreira política de Shéridan está ligada à de seu
ex-marido, o ex-governador de Roraima José Anchieta (PSDB). O tucano foi eleito
vice-governador em 2006, mas assumiu logo, em dezembro de 2007, por causa da
morte de Ottomar Pinto.
A primeira-dama, então com 22 anos, acabava de dar à luz a segunda
filha, Lara, hoje com nove anos. A primeira, Júlia, vai fazer em setembro a
idade que a mãe tinha quando a teve: 17 anos.
Formada em jornalismo, ela tinha trabalhado brevemente como repórter em
um jornal de Boa Vista, mas decidiu trocar de lado da bancada e seguir para a
vida pública.
É da época de primeira-dama o problema com a Justiça que a acompanha até
hoje. Shéridan e o marido são acusados de usar um jato do governo para
transportar o funkeiro MC Sapão para sua festa de aniversário. No dia 18 de
agosto, o ex-casal teve R$ 40 mil bloqueados pela Justiça de Roraima. Ela nega
qualquer irregularidade.
Hoje, a deputada já está de olho em 2018. "Eu não tenho idade para
ser senadora, e provavelmente o PSDB terá candidato a governador em Roraima,
então eu vou ser candidata à reeleição", diz. (Via: Folhapress)
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