O ex-presidente da Câmara Eduardo
Cunha, apesar de ser evangélico, disse que foi "obrigado" a escrever uma carta-protesto ao papa diante da recusa do ministro Edson Fachin, relator
da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de colocar seu pedido de liberdade
em julgamento. Cunha insinua que Fachin tem relações umbilicais com os donos da
JBS e reclama da lógica por trás das negociações dos acordos de delação
premiada. A informação é da Veja.
Na carta-protesto, escrita da carceragem do Complexo Médico Penal, em
Curitiba, ele diz que "apesar de ser evangélico e não acreditar que o papa
é o representante de Deus na Terra, tenho de me render ao ditado popular e,
quando não se tem mais a quem recorrer, recorra ao bispo ou ao papa. Como o
papa é mais graduado, ficarei com ele".
Veja a
carta-protesto na íntegra:
“Apesar de ser
evangélico e não acreditar que o papa é o representante de Deus na Terra, tenho
de me render ao ditado popular e, quando não se tem mais a quem recorrer,
recorra ao bispo ou ao papa. Como o papa é mais graduado, ficarei com ele. No
último dia 2 de maio, foi julgado o habeas corpus de Jose Dirceu na 2ª turma do
STF e contra a vontade e o voto do relator, ministro Edson Fachin, foi
libertado Dirceu. A partir desse momento, como uma criança que perde e leva a
sua bola para casa acabando com o jogo, o ministro não pautou mais nenhum HC na
turma. Ainda levou o HC de Palocci para o pleno do STF, sem pautá-lo, levando
inclusive Palocci a impetrar um HC contra o próprio ministro Fachin pedindo julgamento.
No meu caso,
houve retardamento da instrução necessária onde até o pedido de informações ao
juiz de Curitiba foi feito pelo correio, ao invés do pedido eletrônico. Após
essa demora, o relator ainda demorou um mês para enviar ao Ministério Público,
apesar de reiteradas petições de cobrança. Mesmo após tudo isso, o HC está
pronto para a pauta desde junho, a exemplo de vários outros HCs de presos da
Lava Jato. No meio do caminho, me impôs nova prisão, em decorrência da delação
da JBS, sem qualquer prova da acusação feita contra mim, prisão aliás que já
recorri e o relator também não pauta para deliberar. Aliás, a acusação contra
mim é de receber para ficar em silêncio para não delatar, como se delatar fosse
obrigação e não delatar fosse crime.
Aliás, todos
dessa operação foram soltos, incluindo a família de Aécio Neves e o ex-deputado
Rocha Loures. Só eu continuo com a prisão decretada nessa operação de 18 de
maio. Só como exemplo da falta de prova, alguém ligado a mim saiu carregando
alguma mala monitorada? Se até quem carregou a mala foi solto, por que continuo
preso? Quando os senhores Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para
ajudar na aprovação do então candidato ao STF Edson Fachin, além da relação de
amizade que declararam ter com ele, me passaram a convicção de que o país iria
ganhar com a atuação de um ministro que daria a assistência jurisdicional que a
sociedade necessitava.
Hoje estamos
vendo que a assistência célere e eficiente foi a obtida pela JBS e seus donos,
onde em apenas três dias conseguiram homologar um acordo vergonhoso, onde
ficaram livres, impunes e ricos. O que eu gostaria, assim como os demais presos
preventivos de forma alongada, é ter o direito ao julgamento e não ser vítima
de uma obstrução da Justiça a que todos os brasileiros têm direito. Não podemos
ficar reféns de uma ditadura da República de Curitiba, do estado do ministro. Por isso, para além de uma dúvida razoável e em cognição sumária, recorro ao
papa para ser julgado.”
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