No momento, uma das grandes
dúvidas nacionais é se isso que os parlamentares chamam de reforma política é
ou não é mais uma grande empulhação. Tudo leva a crer que é. As orelhas
grandes, o focinho pronunciado e os dentes pontiagudos são de Lobo. Ainda
assim, muita gente tem a esperança de que seja uma vovozinha disfarçada. Não se
engane. Quem acreditar piamente agora não terá como piar depois.
Basta olhar para os partidos políticos para não acreditar na reforma
política. A suposta reconstrução é comandada por legendas que estão em ruínas.
As principais agremiações são presididas por encrencados na Lava Jato: Romero
Jucá no PMDB, Gleisi Hoffmann no PT, Aécio ‘Licenciado’ Neves no PSDB e Ciro
Nogueira no PP. O ex-presidiário e mensaleiro Valdemar Costa Neto dá as cartas
no PR. O ex-detento Roberto Jefferson manda no PTB.
Os congressistas estão tão ocupados em moralizar a política que não lhes
sobra tempo para cobrar honestidade dos seus partidos. O maior interesse de
todos é extrair dos cofres públicos a verba para financiar suas campanhas.
Seria ótimo se fosse decente. Mas quem examina bem os métodos não confunde um
certo modelo com um modelo certo. Sobretudo quando repara que os reformadores
querem invadir o bolso do contribuinte tomando um dado dinheiro — R$ 3,6
bilhões — por dinheiro dado.
O debate virou virou uma sopa sem legumes. À medida que o processo de
votação avança, as explicações precisam necessariamente tornar-se mais aguadas,
para que os resultados sejam efetivos. Falta à receita do sopão meio quilo de
ideias sobre o barateamento das campanhas. Sobram evasivas sobre o modo como
tudo se ajeita para que a caciquia dos partidos possa aplicar suas respectivas
cotas do Bolsa Eleição como bem entender.
Todos conhecem os males da política brasileira. Os políticos já fizeram um
diagnóstico acurado sobre o que o paciente precisa. Entretanto, quando têm a
oportunidade de curá-lo, receitam uma dose reforçada de purgante. Ninguém
ignora, por exemplo, que é fundamental reduzir o número de partidos. Hoje, há
mais de três dezenas. Meia dúzia já seria demais. A solução seria condicionar o
acesso dos partidos à verba do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda na TV
à capacidade de obter votos.
A discussão sobre a chamada cláusula de barreira é velha como a primeira
missa. Há 11 anos, o Supremo Tribunal Federal derrubou uma boa regra aprovada
pelo Congresso. Previa que só teriam direito a dinheiro e tempo de TV os
partidos que obtivessem pelo menos 5% dos votos nas eleições para deputado
federal em pelo menos nove Estados.
Mais recentemente, o Senado aprovou uma emenda constitucional que abrandou
a exigência: 2% dos votos nacionais na eleição para deputado. E a repetição
desse percentual em pelo menos 14 Estados. Agora, trama-se na Câmara um novo
abrandamento. A exigência cairá para 1,5% dos votos nacionais, com pelo menos
1% em nove Estados. Se passar, estima-se que a quantidade de partidos cairá
para algo como duas dezenas. É muito, é demais, é uma exorbitância. Alega-se
que uma regra mais draconiana não seria aprovada. E tome purgante!
O pior de tudo é que o maior problema não está propriamente no Congresso,
mas nas pessoas que escolheram os congressistas. Examinando-se o comportamento
dos parlamentares, que supostamente representam o melhor da população
brasileira, uma conclusão se impõe: o maior déficit dos parlamentares
localiza-se entre as orelhas dos eleitores que os enviaram para Brasília. Por
sorte, esse é um problema simples de corrigir: 2018 vem aí. Contra político
ruim, o melhor purgante é a urna. (Via: Blog do Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia