O segundo mandato de Dilma Rousseff deve ser mesmo terrível. Em carta enviada ao Congresso, a presidente proclamou que o primeiro foi extraordinário. Como manda a Constituição, a inquilina do Planalto dirigiu-se aos congressistas no início do ano legislativo para prestar contas do que fez e informar o que fará. Tomada pelo texto, Dilma adotou a tática do avestruz. Para não tomar conhecimento da realidade, ela enfia a cabeça na autoestima. Partindo de premissas frágeis, chega a conclusões perfeitamente equivocadas.
Levado pelo primeiro-ministro Aloisio Mercadante e lido em plenário pelo primeiro-secretário Beto Mansur (PRB-SP), o documento de Dilma tem dimensões amazônicas: de capa a capa, 472 páginas. A credibilidade da peça pode ser medida em dois trechos. Num, madame promete ajustar a economia sem “recessão e retrocesso.” Noutro, sustenta que seu governo tem “combatido sem trégua a corrupção.” Suas palavras foram lidas em sessão presidida pelo petroaliado Renan Calheiros, padrinho de Sérgio Machado, o indemissível presidente licenciado da Transpetro.
Por uma dessas fatais coincidências, enquanto o lero-lero de Dilma era lido no plenário do Congresso, o empresário-delator Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, explicava num depoimento em Curitiba o mecanismo usado para pagar propinas ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que cuidava dos interesses do PT na diretoria de Serviços da estatal. A coisa envolvia, segundo ele, a contratação de serviços jamais realizados. A título de exemplo, disse ter repassado a Duque R$ 66 milhões em apenas dois falsos contratos de terraplanagem.
Levando a tática do avestruz às últimas inconsequências, a carta de Dilma anotou a certa altura que “a riqueza do pré-sal já é uma realidade” e que a refinaria pernambucana de Abreu e Lima, antro de corrupção onde operou Paulo Roberto Costa, o “Paulinho”, aquele ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que inaugurou a série de delações premiadas da Operação Lava Jato.
No pedaço da carta dedicado à economia, dá gosto ver o entusiasmo com que Dilma já defende as correções que, durante a campanha, jurava que jamais faria. “Ajustes fazem parte do dia a dia da política econômica, bem como do cotidiano de empresas e pessoas”, disse a nova Dilma. “Ajustes nunca são um fim em si mesmos. São medidas necessárias para atingir um objetivo de médio prazo, que, em nosso caso, permanece o mesmo: crescimento econômico com inclusão social. Não promoveremos recessão e retrocessos.”
Há dois anos, o então secretário do Tesouro Arno Augustin fabricava indicadores econômicos valendo-se de mágicas contábeis capazes de tirar cartolas de dentro de coelhos. Hoje, o governo convive com o déficit de R$ 32 bilhões que envenenou a escrituração de 2014.
Há dois anos, Dilma levava a cara à televisão para anunciar a chegada da energia elétrica farta e barata. Fez isso num pronunciamento em que aproveitou para jactar-se dos juros miúdos e queixar-se do pessimism dos opositores. Hoje, o Banco Central sobe os juros e insinua que a inflação pode passar dos 7%, estourando o teto da meta. E a conta de luz ficará 27% mais cara. Com sorte, a chuva cai e o PIB fica estagnado. Com azar, a estiagem forçará um racionamento que potencializará o risco de recessão.
Submetida ao cenário atual, a aparição televisiva de 2013 faz de Dilma Rousseff uma espécie de avestruz de anedota. Repare no vídeo abaixo. Antes de rodar a peça, recomenda-se retirar as crianças da frente do computador e consultar um cardiologista. Se não morrer de rir, você corre o risco de enfartar de desgosto. (Blog do Josias de Souza)
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