Relator do Orçamento da União de
2015, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) está sob bombardeio por ter triplicado as
verbas destinadas ao fundo partidário, elevando-as de R$ 289,5 milhões para R$
867,5 milhões. Abandonado na trincheira, ele decidiu, por assim dizer, entregar
seus cúmplices. Disse ter tonificado essa rubrica “a pedido de todos os
partidos.” Contou que, se dependesse dos dirigentes das legendas, o valor teria
sido quintuplicado, subindo para R$ 1,48 bilhão.
“Os
partidos pediram R$ 1,2 bilhão a mais”, declarou Jucá na tribuna do Senado.
“Eu, como relator, entendi que deveria fazer um acréscimo de R$ 500 milhões.”
Em verdade, a adição providenciado por Jucá foi de R$ 578 milhões. Em tempos de
Lava Jato, o senador deu a entender que os colegas foram a ele de pires na mão
porque as fontes privadas secaram.
“Estavam
todos apavorados. Não havia recursos para que os partidos pudessem funcionar
neste ano. Por conta de várias questões políticas, as doações empresariais
cessaram.”
Esse
tema ganhou as manchetes depois que Dilma Rousseff sancionou o Orçamento sem vetar o fundo partidário
turbinado. Politicamente debilitada, a presidente foi generosa com os partidos
num instante em que seu governo se prepara para anunciar cortes bilionários nos
gastos e investimentos previstos no Orçamento que acaba de ser sancionado.
A
senadora Ana Amélia (PP-RS), que se opõe à elevação do fundo partidário, brincou
com o descoforto de Jucá. Disse que os partidos o deixaram “pendurado no
pincel.” Jucá reiterou: “a solicitação foi de todos os partidos”. E a senadora:
“Vossa Excelência matou a bola no peito e agora recebe uma bola pelas costas.
Está pagando o preço de uma conta que não é só sua, é uma conta que deve ser
compartilhada com os dirigentes partidários.”
Discursando
antes de Jucá, o senador Regufe (PDT-DF) caprichara nas críticas à benevolência
do colega para com os partidos. Em resposta, Jucá dedurou o presidente do
partido do orador rival. “Respeito a posição do senador Reguffe, mas ele deve
cobrar do presidente [do PDT, Carlos] Lupi, que mandou um ofício por escrito
pedindo R$ 1,2 bilhão. Se o partido não quiser receber o recurso, ele o
devolve. Ninguém é obrigado a gastar, não!”
Num
aparte ao pronunciamento de Jucá, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) deu o
braço a torcer: “Eu acho que nós erramos coletivamente e precisamos fazer o
mea-culpa.” Para Ferraço, faltou sensibilidade ao Congresso e também à presidente,
que não exerceu o seu poder de veto.
Ferraço
empilhou as razões que os congressistas e Dilma ignoraram, todas relacionadas
aos “sacrifícios sem precedentes” que a conjuntura impõe aos brasileiros: a
inflação alta, a elevação do desemprego, o balanço “estarrecedor” da Petrobras…
“O ambiente é de muita icerteza, é de manifestações impopulares. O Congresso
errou. Eu faço o meu mea-culpa. E errou a presidente Dilma em não vetar, porque
um erro não justifica o outro.”
Jucá
não se deu por achado. “Nós temos um orçamento de R$ 1,4 trilhão. O governo
acaba de crescer R$ 26 bilhões em receita, e eu digo com muita tranquilidade
que não serão R$ 500 milhões, cortando-se o funcionamento pleno dos partidos,
que vão resolver o problema do país. Pelo contrário, eu acho que o problema do
país se resolve pela política, resolve-se pela afirmação política, resolve-se
com o funcionamento pleno dos partidos.”
O
relator do Orçamento disse recear que os críticos passem a mirar acima do fundo
partidário. “Daqui a pouco, alguém vai dizer: ‘Quanto custa o Congresso? Vamos
fechar o Congresso porque é uma economia que se vai fazer?” Defensor do
financiamento privado das campanhas, Jucá enxergou na reação à mexida que fez
no Orçamento uma evidência de que o brasileiro não aceita eleições bancadas com
verbas públicas.
“Fizemos
as contas. Se o financiamento público de campanha passar, o que vai haver no
fundo partidário serão R$ 6 bilhões para campanha. E não acredito que a maioria
da sociedade brasileira concorde em tirar R$6 bilhões da educação, da saúde, da
mobilidade urbana, do Minha Casa, Minha Vida, para colocar em fundo partidário
para financiar candidatura de ninguém.” (Por Josias de Souza)
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