Dilma Rousseff não respeita
delator e despreza a ‘mídia golpista’, exceto em ocasiões excepcionais — como
terremoto de amplitude pessoal, tsunami de âmbito partidário e risco de
soterramento definitivo de uma presidência.
Na
comissão do impeachment, esgotados todos os estratagemas que poderia invocar
para atingir seus subterfúgios, Dilma escorou sua defesa nas gravações do
delator do PMDB Sérgio Machado. Enquanto a delação permanece sob sigilo, Dilma
fia-se nos trechos trazidos à luz por duas logomarcas que o petismo identifica
como signos do golpismo midiático: Folha e TV Globo.
A
esse ponto chegou Dilma: não admite que o apodrecimento do governo, evidenciado
pela Lava Jato, seja invocado pelos partidários do impeachment. Mas recorre a
um delator e à mídia, tudo o que mais abomina, para exigir que os áudios que
expõem a putrefação do pedaço do PMDB que lhe dava suporte congressual sejam
tomados como trampolim para o seu retorno.
No
novo enredo de Dilma, o PMDB tramou o “golpe” com o deliberado propósito de paralisar
a Lava Jato tão logo Michel Temer assumisse o poder. De fato, os cardeais
Romero Jucá e José Sarney vocalizam esse sonho nas fitas de Sérgio Machado. Mas
falta divulgar os trechos em que a dupla afirma acreditar em Papai Noel.
Relator
do impeachment, o senador tucano Antonio Anastasia rejeitou o pedido da defesa de Dilma para incluir no
processo a delação de Machado, um ex-presidente da Transpetro que Lula nomeou e
que madame permitiu que apodrecesse no cargo. Negou também a oitiva de
especialistas, uma perícia e uma auditoria contábil internacional nas mumunhas
fiscais que serviram de mote para o afastamento de Dilma.
Minoritária
na comissão, a bancada de Dilma esticou a sessão desta quinta-feira por quase
dez horas. No final, os aliados da presidente afastada agarraram-se ao método
de votação dos requerimentos — em bloco, não um por um — como pretexto para
abandonar o campo de batalha, num gesto de protesto.
“Hoje,
a situação chegou a um tal ponto que a defesa se retirou e senadores que não
concordaram também”, disse o ex-ministro petista José Eduardo Cardozo, mantido
na função de advogado de Dilma. “Nós fizemos isso porque a violência contra o
direito de defesa é inominável.”
O
líder tucano Cássio Cunha Lima ironizou: “Eles fizeram tudo para que o processo
de impeachment não começasse. Agora, recorrem a todos os artifícios para tentar
impedir que termine.”
Simultaneamente,
o ministro Teori Zavaschi, relator da Lava Jato no STF, levantou o sigilo da
delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Num trecho, ele declara que Dilma mentiu sobre a compra da refinaria de
Pasadena. E diz supor que ela sabia que políticos petistas embolsavam
petropropinas.
Em
nota, Dilma negou. Cerveró frequenta o rol de delatores que ela não respeita.
Considerando-se que há outros silvérios que a acusam e que Marcelo Odebrecht
ainda fará a mãe de todas as delações, Dilma talvez devesse considerar a
hipótese de mudar de assunto. Falar de delação na comissão do impeachment é
como brincar de corda em casa de enforcado. (Via: Josias de Souza)
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