Sugestão para analisar o
desempenho de Michel Temer neste domingo (12), dia em que o governo interino
faz aniversário de um mês e que você não tem nada com o que se preocupar.
Repare na equipe econômica. Ao celebrado Henrique Meirelles (Fazenda),
adicionaram-se os aplaudidos Ilan Goldfajn (Banco Central), Maria Silvia
Marques (BNDES) e Pedro Parente (Petrobras). Você ouve o que eles têm a dizer e
se convence de que a situação pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar.
Você fica otimista, volta a acreditar no futuro.
Agora
pense no PMDB e nos personagens que rodeiam Temer. O presidente do partido,
Romero Jucá, expurgado do Planejamento 12 dias depois de nomeado. O mandachuva
do Senado, Renan Calheiros, com uma denúncia e 12 inquéritos no STF. O cardeal
Eduardo Cunha, que dá as cartas na Câmara mesmo bloqueado pelo Supremo. José
Sarney, o inaposentável.
Todos com a prisão requerida na Suprema Corte. Desanimou, certo? É impossível
pensar no PMDB e continuar otimista.
Michel
Temer escolheu sustentar-se sobre duas estacas de aparência contraditória.
Primeiro, propôs-se a transformar a política econômica, devolvendo-a aos
trilhos da responsabilidade fiscal e da racionalidade monetária. Segundo,
decidiu montar sua base no Congresso da maneira mais tradicional: comprando
apoios. Manteve o toma-lá-dá-cá. Preservou e até ampliou espaços que os chefões
partidários e os coronéis estaduais ocupavam na máquina federal sob Dilma.
Os
mais céticos dizem que Temer busca a quadradura do círculo. Em privado, seus
auxiliares palacianos dizem que não se trata de opção, mas de pragmatismo.
Nessa versão, Temer mantém a cabeça nas reformas modernizantes e os pés na lama
do fisiologismo porque se move com a sabedoria de quem entende o país com que
está lidando. Ou o governo joga esse jogo ou Temer não será presidente, disse ao blog de Josias de Souza um
dos operadores políticos do governo. É preciso recordar que o impeachment ainda
não foi julgado, ele acrescentou.
Foi
dando que Temer recebeu do Congresso tudo o que pleiteou até o momento. Obteve
a abertura do processo de impeachment na Câmara e o afastamento de Dilma no
Senado. Alterou a meta fiscal do governo, elevando o déficit de 2016 para
inacreditáveis R$ 170,7 bilhões. Aprovou na Câmara, em dois turnos de votação,
a emenda da DRU, que desvincula as receitas engessadas pela Constituição,
permitindo ao governo gastar livremente 30% das verbas alocadas para setores
específicos. São matérias que Dilma não conseguia fazer andar.
O
resultado é que, vistas as coisas da perspectiva de hoje, para devolver a
economia aos trilhos, o governo de Temer informa que terá de transformar sua
base congressual numa espécie de PMDB hipertrofiado. A diferença é que saíram
do guarda-chuva do governo PT, PCdoB e um pedaço do PDT. E entraram PSDB, DEM,
PPS e Solidariedade. O resto se manteve irremediavelmente igual ao que vigorava
sob Dilma.
Por
mal dos pecados, é esse pedaço do Brasil, o pedaço das negociatas e dos vícios
insanáveis, é esse pedaço do país que transforma a Operação Lava Jato num
sucesso de público. Afirma-se no Planalto que, depois que deixar de ser um
presidente interino, Temer acumulará musculatura para tomar distância dos
companheiros tóxicos do PMDB e adjacências. Será?
O
sucesso do governo continuará dependendo de sua funcionalidade no Congresso.
Nesta semana, até quarta-feira, Temer deve levar pessoalmente ao Legislativo a
proposta de emenda constitucional sugerida por Henrique Meirelles para impor um
teto às despesas da União. A aprovação dessa matéria e de outras reformas como
a da Previdência e a trabalhista exigirão muita co$tura política.
Temer,
depois de ter beijado a cruz do fisiologismo, não terá como assegurar a tão
propalada governabilidade senão por meio das alianças espúrias e da tolerância
com os maus costumes. Uma tolerância que já o levou a praticar gestos tão
arriscados como confiar a presidência da Caixa Econômica Federal a Gilberto
Occhi, um funcionário de carreira que foi apadrinhado pelo PP, o partido do
petrolão.
Quis
o destino que, três décadas depois da eleição de Tancredo Neves, em 1985, o
PMDB retornasse a Presidência da República. Novamente, pela via indireta. O
maior partido do país não tem prestígio para eleger um presidente pelo voto
direto. Tentou com Ulysses Guimarães, em 1989. Amealhou ridículos 4,7% dos
votos válidos. Foi à luta novamente com Orestes Quércia, em 1994. Cravou
irrisórios 4,4% dos votos. Desde então, o PMDB dedica-se a trocar tempo de tevê
e apoio congressual por posições na máquina estatal, onde encaixa seus balcões.
A
alegação de que o governo não sobrevive sem uma rendição incondicional às
alianças espúrias já não é aceitável. Impossível digerir, por exemplo, a
presença de André Moura (PSC-SE) — tri-réu no STF, acusado de tentativa de
homicídio, investigado na Lava Jato, miliciano parlamentar de Eduardo Cunha — na
posição de líder do governo na Câmara. Difícil de engolir também a presença de
investigados na Esplanada dos Ministérios.
De
resto, permanece atravessado na traqueia o silêncio de Temer diante da notícia
de que a fina flor do seu partido teve a prisão requerida pela Procuradoria da
República. Com um mês de existência, o PMDB e a decadência política que o
partido representa tornam o resto do governo quase supérfluo.
Se
Temer não for capaz de se dissociar do pedaço podre de sua coalizão, não será
possível notar nada nos próximos dois anos e meio, nem mesmo uma eventual
evolução da economia, de tanto que vai existir o PMDB de Renan, Cunha, Jucá e
Sarney. Dependendo do lado que Temer escolher, seu destino será: enquanto a
Lava Jato crescer, o governo irá ficando cada vez mais desnecessário.
Hoje,
a grande sorte de Temer é que ninguém deseja a volta de Dilma. Aparentemente,
nem ela própria, já que sua prioridade depois de um hipotético retorno seria a
realização de um plebiscito para saber se os brasileiros querem vê-la novamente
sentada na poltrona de presidente. Depois da corrupção sistêmica, do desgoverno
permanente e do empregocídio que
levou mais de 11 milhões de brasileiros ao olho da rua, não é difícil prever
qual seria o resultado da consulta popular.
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