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domingo, 12 de junho de 2016

Gestão Temer conserva a cabeça na responsabilidade fiscal e pés na lama

Sugestão para analisar o desempenho de Michel Temer neste domingo (12), dia em que o governo interino faz aniversário de um mês e que você não tem nada com o que se preocupar. Repare na equipe econômica. Ao celebrado Henrique Meirelles (Fazenda), adicionaram-se os aplaudidos Ilan Goldfajn (Banco Central), Maria Silvia Marques (BNDES) e Pedro Parente (Petrobras). Você ouve o que eles têm a dizer e se convence de que a situação pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Você fica otimista, volta a acreditar no futuro.

Agora pense no PMDB e nos personagens que rodeiam Temer. O presidente do partido, Romero Jucá, expurgado do Planejamento 12 dias depois de nomeado. O mandachuva do Senado, Renan Calheiros, com uma denúncia e 12 inquéritos no STF. O cardeal Eduardo Cunha, que dá as cartas na Câmara mesmo bloqueado pelo Supremo. José Sarney, o inaposentável. Todos com a prisão requerida na Suprema Corte. Desanimou, certo? É impossível pensar no PMDB e continuar otimista.

Michel Temer escolheu sustentar-se sobre duas estacas de aparência contraditória. Primeiro, propôs-se a transformar a política econômica, devolvendo-a aos trilhos da responsabilidade fiscal e da racionalidade monetária. Segundo, decidiu montar sua base no Congresso da maneira mais tradicional: comprando apoios. Manteve o toma-lá-dá-cá. Preservou e até ampliou espaços que os chefões partidários e os coronéis estaduais ocupavam na máquina federal sob Dilma.

Os mais céticos dizem que Temer busca a quadradura do círculo. Em privado, seus auxiliares palacianos dizem que não se trata de opção, mas de pragmatismo. Nessa versão, Temer mantém a cabeça nas reformas modernizantes e os pés na lama do fisiologismo porque se move com a sabedoria de quem entende o país com que está lidando. Ou o governo joga esse jogo ou Temer não será presidente, disse ao blog de Josias de Souza um dos operadores políticos do governo. É preciso recordar que o impeachment ainda não foi julgado, ele acrescentou.

Foi dando que Temer recebeu do Congresso tudo o que pleiteou até o momento. Obteve a abertura do processo de impeachment na Câmara e o afastamento de Dilma no Senado. Alterou a meta fiscal do governo, elevando o déficit de 2016 para inacreditáveis R$ 170,7 bilhões. Aprovou na Câmara, em dois turnos de votação, a emenda da DRU, que desvincula as receitas engessadas pela Constituição, permitindo ao governo gastar livremente 30% das verbas alocadas para setores específicos. São matérias que Dilma não conseguia fazer andar.

O resultado é que, vistas as coisas da perspectiva de hoje, para devolver a economia aos trilhos, o governo de Temer informa que terá de transformar sua base congressual numa espécie de PMDB hipertrofiado. A diferença é que saíram do guarda-chuva do governo PT, PCdoB e um pedaço do PDT. E entraram PSDB, DEM, PPS e Solidariedade. O resto se manteve irremediavelmente igual ao que vigorava sob Dilma.

Por mal dos pecados, é esse pedaço do Brasil, o pedaço das negociatas e dos vícios insanáveis, é esse pedaço do país que transforma a Operação Lava Jato num sucesso de público. Afirma-se no Planalto que, depois que deixar de ser um presidente interino, Temer acumulará musculatura para tomar distância dos companheiros tóxicos do PMDB e adjacências. Será?

O sucesso do governo continuará dependendo de sua funcionalidade no Congresso. Nesta semana, até quarta-feira, Temer deve levar pessoalmente ao Legislativo a proposta de emenda constitucional sugerida por Henrique Meirelles para impor um teto às despesas da União. A aprovação dessa matéria e de outras reformas como a da Previdência e a trabalhista exigirão muita co$tura política.

Temer, depois de ter beijado a cruz do fisiologismo, não terá como assegurar a tão propalada governabilidade senão por meio das alianças espúrias e da tolerância com os maus costumes. Uma tolerância que já o levou a praticar gestos tão arriscados como confiar a presidência da Caixa Econômica Federal a Gilberto Occhi, um funcionário de carreira que foi apadrinhado pelo PP, o partido do petrolão.

Quis o destino que, três décadas depois da eleição de Tancredo Neves, em 1985, o PMDB retornasse a Presidência da República. Novamente, pela via indireta. O maior partido do país não tem prestígio para eleger um presidente pelo voto direto. Tentou com Ulysses Guimarães, em 1989. Amealhou ridículos 4,7% dos votos válidos. Foi à luta novamente com Orestes Quércia, em 1994. Cravou irrisórios 4,4% dos votos. Desde então, o PMDB dedica-se a trocar tempo de tevê e apoio congressual por posições na máquina estatal, onde encaixa seus balcões.

A alegação de que o governo não sobrevive sem uma rendição incondicional às alianças espúrias já não é aceitável. Impossível digerir, por exemplo, a presença de André Moura (PSC-SE) — tri-réu no STF, acusado de tentativa de homicídio, investigado na Lava Jato, miliciano parlamentar de Eduardo Cunha — na posição de líder do governo na Câmara. Difícil de engolir também a presença de investigados na Esplanada dos Ministérios.

De resto, permanece atravessado na traqueia o silêncio de Temer diante da notícia de que a fina flor do seu partido teve a prisão requerida pela Procuradoria da República. Com um mês de existência, o PMDB e a decadência política que o partido representa tornam o resto do governo quase supérfluo.

Se Temer não for capaz de se dissociar do pedaço podre de sua coalizão, não será possível notar nada nos próximos dois anos e meio, nem mesmo uma eventual evolução da economia, de tanto que vai existir o PMDB de Renan, Cunha, Jucá e Sarney. Dependendo do lado que Temer escolher, seu destino será: enquanto a Lava Jato crescer, o governo irá ficando cada vez mais desnecessário.

Hoje, a grande sorte de Temer é que ninguém deseja a volta de Dilma. Aparentemente, nem ela própria, já que sua prioridade depois de um hipotético retorno seria a realização de um plebiscito para saber se os brasileiros querem vê-la novamente sentada na poltrona de presidente. Depois da corrupção sistêmica, do desgoverno permanente e do empregocídio que levou mais de 11 milhões de brasileiros ao olho da rua, não é difícil prever qual seria o resultado da consulta popular.

Blog: O Povo com a Notícia