A
campanha eleitoral de 2016 deve ser marcada pela penúria de recursos, graças à
combinação de fatores como a crise econômica, a proibição de doações de
empresas e o impacto da Operação Lava Jato. Para político e marqueteiros, a
previsão de cortes drásticos de custos representa o colapso de um modelo de
“mercado” que cresceu sem parar nas últimas três décadas.
Nas eleições municipais de 2012,
quase 80% dos gastos foram financiados por empresas. Elas eram também
responsáveis por doações significativas aos partidos em anos não eleitorais,
mas essa fonte secou mesmo antes da proibição do financiamento empresarial,
determinada pelo Supremo Tribunal Federal e acolhida pelo Congresso no fim do
ano passado.
O
PT, por exemplo, recebeu em 2015 uma única contribuição empresarial, de R$ 1
milhão – valor irrisório se comparado aos R$ 65 milhões registrados quatro anos
antes.
Sem
o financiamento empresarial, a “tábua de salvação” dos candidatos passou a ser
o Fundo Partidário. O problema é que, mesmo “turbinado” com forte injeção de
recursos públicos nos últimos dois anos, o fundo será insuficiente para bancar
o nível de gastos observado nas eleições passadas.
Em
2016, as legendas receberão, somados, R$ 819 milhões em recursos públicos. Isso
equivale a apenas 15% dos quase R$ 5,5 bilhões – em valores corrigidos pela
inflação – que foram gastos nas campanhas de 2012. Além disso, nem todo o Fundo
Partidário pode ser aplicado nas eleições, já que parte do dinheiro banca
despesas permanentes e cotidianas das siglas, como aluguéis, funcionários, viagens
de dirigentes e cursos de formação política, entre outros gastos.
Além do fundo, as duas únicas
alternativas legais de recursos são o autofinanciamento – que tende a
beneficiar os candidatos mais ricos – e as doações dos próprios eleitores.
Há
quatro anos, as pessoas físicas bancaram menos de 20% dos custos das campanhas
– estão incluídos na conta os recursos dos candidatos que doaram para si
próprios. Com a Lava Jato e o desgaste da classe política, ampliar a
arrecadação nesse segmento será um desafio para os tesoureiros.
“Todas as portas estão fechadas,
não conseguimos nenhum tostão até agora”, disse o deputado estadual Pedro
Tobias, presidente do PSDB em São Paulo. “Não sei como iremos fazer. O problema
é gravíssimo. Ainda bem que nosso candidato é rico”, completou, referindo-se ao
empresário João Doria Jr., pré-candidato tucano na capital, cujo patrimônio
supera R$ 170 milhões.
O
Estado apurou que acionistas das empresas que mais alimentaram campanhas em
2012 não estão dispostos a doar como pessoas físicas em 2016.
Na eleição municipal de 2012,
seis dos dez maiores doadores privados em todo o País eram do setor da
construção. Cinco dessas empresas foram arrastada pela Operação Lava Jato:
Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Carioca Christiani Nielsen e UTC O
presidente de uma grande construtora, que pediu para não ser identificado,
disse que o dinheiro do setor “acabou”.
O
empresário Walter Torre, controlador do grupo Wtorre, um dos maiores
financiadores de campanha na última eleição municipal, conta que esta sendo bem
seletivo. “Já fui procurado por vários candidatos, recusei vários, estou
avaliado outros, mas ainda não dei um sim para ninguém”, disse.
Emissários
do vereador Andrea Matarazzo, pré-candidato do PSD em São Paulo, estiveram com
o presidente de um dos maiores grupos privados do Brasil. Doador em campanhas
passadas, ele foi questionado sobre a disposição de doar como pessoa física. O
empresário respondeu que, como seu rendimento como pessoa física é de apenas RS
100 mil por ano, não poderá doar mais de R$ 10 mil para o conjunto dos
candidatos que o procurarem. A lei limita as doações a 10% do rendimento.
Presidente
nacional do DEM, o senador José Agripino (RN) disse que o partido vai abdicar
da busca por doadores individuais. “Não vai valer a pena gastar essa energia”,
afirmou.
Márcio
Macedo, secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT, disse que a
legenda vai priorizar as contribuições dos próprios simpatizantes e militantes
petistas. (Via: Estadão)
Blog: O Povo com a Notícia