Na sucessão interna da Câmara, os
maiores perdedores foram Eduardo Cunha e Lula, dois inimigos cordiais. No alto
do cadafalso, com a lâmina roçando-lhe o pescoço, Cunha apostou em Rogério
Rosso, do PSD. Revelou-se uma bola de ferro. Levou a pique um candidato que
entrara na disputa com ares de favorito. Lula insuflou a candidatura de Marcelo
Castro, o ‘quinta-coluna’ do PMDB. Provocou uma reação que desaguou na vitória de Rodrigo Maia — logo ele, um panfletário do
impeachment, ex-aliado de Cunha, político do DEM, a legenda que Lula por pouco
não baniu da cena eleitoral.
Consumado
o resultado, ouviram-se gritos de guerra. Primeiro: “Fora Lula” e “fora Dilma”.
Depois, a plenos pulmões: “Fora Cunha”. Maia prevaleceu sobre Rosso no segundo
turno. A diferença de votos impressionou a todos: 285 a 170. O placar estava
crivado de ironias. Idealizado por Cunha, o grupo dinheirista batizado de centrão, que deveria apoiar
Rosso, dividiu-se. Pedaços do PR e do PP caíram no colo de Maia. Os órfãos de
Dilma — PT, PDT e PCdoB —, a pretexto de evitar o triunfo de um aliado de Cunha,
também engordaram o cesto de votos de Maia, que já havia atraído os parceiros
da ex-oposição: PSDB, PPS e PSB.
Ex-ministro
de Dilma, avesso ao impeachment, Castro, o peemedebista dissidente, sucumbiu no
primeiro turno. Surgira como novidade 24 horas antes da disputa. Ao enxergar as
digitais de Lula na articulação, o Planalto evoluiu rapidamente da perplexidade
para a reação. Para retirar o candidato tóxico do PMDB da pista, o governo do
PMDB mandou às calendas o lero-lero da “neutralidade”, ligando o trator. No
segundo turno, sem Castro, a infantaria de Lula aderiu a Maia, tido como “mal
menor”. A votação foi secreta. Mas estima-se que só o PT contribuiu para o
triunfo do DEM com algo entre 30 e 40 votos.
Generalizou-se
entre os partidários de Maia o entendimento segundo o qual o centrão, herança
maldita de Cunha, está com os dias contados. Vice-líder do PSDB, o deputado
pernambucano Daniel Coelho, por exemplo, já dá o grupo por liquidado. De fato,
o derretimento de Cunha privou esse pedaço fisiológico da Câmara de sua
principal referência. Mas as legendas do centrão continuam lá, na fila do
guichê do governo. Organizadas em grupo ou isoladamente, essas agremiações não
perderão sua vocação fisiológica. Se for preciso, tocarão fogo no circo e
correrão para a bilheteria. Costumam fazer isso nos momentos em que são
chamados a exercitar o patriotismo, votando projetos de interesse do governo. (Via: Blog do Josias de Souza)
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