Convertido
em réu pela primeira
vez na Lava Jato, Lula declarou nesta sexta-feira que sente uma vontade
incontida —“uma coceira”— de ser novamente candidato ao Planalto. Esse desejo,
no entanto, já não depende apenas da sua vontade. Além do medo de ser preso,
Lula passou a conviver com o receio de se tornar inelegível por oito anos.
Nessa hipótese, sofreria um duplo revés: ficaria de fora das próximas duas
sucessões presidenciais —2018 e 2022. E ainda entraria para a história como o
primeiro ex-presidente da República a ser enquadrado numa lei que ele próprio
sancionou: a Lei da Ficha Limpa (número 135/2010).
Afora a acusação de tentar obstruir a Lava Jato, que o
levou ao banco dos réus na 10ª Vara Federal de Brasília, Lula deve ser alvejado
por pelo menos mais três denúncias que estão no forno da força-tarefa de
Curitiba. Envolvem a suspeita de que recebeu favores da Odebrecht e da OAS,
empreiteiras que ajudaram a pilhar a Petrobras. Esses favores se materializaram
nas reformas realizadas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia, além do
transporte e aluguel de contêiners usados para guardar pertences de Lula.
Entre os crimes que devem ser imputados ao morubixaba do
PT, estão lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Sancionada por Lula em junho
de 2010, a Lei da Ficha Limpa relaciona 14 hipóteses de inelegibilidade. São
delitos que sujeitam seus autores ao banimento eleitoral por oito anos. As
encrencas foram incluídas na Lei das Inelegibilidades (número 64/1990).
Encontram-se empilhadas no artigo 1º. A alínea ‘e’ anota que “lavagem de
dinheiro ou ocultação de bens” são motivos para impedir alguém de se candidatar
a cargos eletivos.
De acordo com a lei, para que um político seja tachado de
“ficha suja”, sua condenação precisa ser confirmada por um “órgão judicial
colegiado.” Assim, os direitos políticos de Lula seriam suspensos, por exemplo,
se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, sediado em Porto Alegre,
confirmasse uma eventual condenação decretada por Sérgio Moro. Para azar de
Lula os desembargadores do TRF-4 não costumam reformar as decisões do juiz da
Lava Jato.
Lula parecia sentir o cheiro de queimado ao se manifestar
nesta sexta-feira. “Se o objetivo de tudo isso é me tirar de 2018, isso não era
necessário, a gente escolheria outro candidato mais qualificado, mas essa
provocação me dá uma coceira'', declarou, antes de exercitar o seu esporte
predileto, o autoelogio: “Duvido que tenha alguém nesse país que seja mais
cumpridor da lei do que eu, que respeite mais instituições do que eu.'' O diabo
é que o conceito que Lula faz de si mesmo combina cada vez menos com os fatos. (Via: Josias de Souza)
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