No meio rural, os índices de
violência são tão graves quanto nas áreas urbanas. A desigualdade de gênero é
vista como algo menor e nem no campo da segurança pública as propostas
avançaram. Uma pesquisa do DataSenado (2015) apontou que uma em cada cinco mulheres
já foi agredida pelo ex ou atual companheiro.
Na assessoria técnica
feminista que a Casa da Mulher do Nordeste desenvolve junto com as agricultoras
no Sertão do Pajeú, foram realizadas oficinas e discussões sobre a violência
contra a mulher no projeto Mulheres na Caatinga, apoiado pelo Programa de
Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS), gerenciado pelo Instituto Sociedade,
População e Natureza (ISPN). E o que se tem percebido é que o ciclo de
violência ainda persiste em suas vidas, e falta mecanismos como os serviços de
atendimento à mulher vítima de violência. “Um dos maiores problemas que
enfrentamos é a falta de delegacia da mulher.
A polícia muitas vezes convence a
mulher a não denunciar, e ela continua sofrendo violência”, contou Luciene
Ribeiro, 31 anos, do município de Solidão, Sertão do Pajeú.
A mesma pesquisa registrou
que, em 2015, 56% das mulheres afirmaram se sentir mais protegidas por causa da
lei da Maria da Penha. Com dez anos de existência, a Lei Maria da Penha que
responde em casos de violência contra a mulher, está em votação para algumas
mudanças. O projeto prevê, entre outras coisas, que as medidas protetivas
possam ser expedidas pelo próprio delegado de polícia, sem precisar esperar
chegar até o juiz.
De acordo com o movimento feminista aprovar esse projeto de
lei em nada vai colaborar para melhorar a vida das mulheres. “Ao contrário,
pode prejudicar ainda mais o trabalho das delegacias que continua precário. Já
é difícil cumprir a Lei Maria da Penha, seja pela falta de serviços de
atendimento, seja pela demanda de casos que se aglomeram nas delegacias. E
quando você coloca mais uma atividade, a gente tem um entendimento que isso não
será feito. Outro ponto importante é escutar as mulheres, o movimento. Em
nenhum momento fomos ouvidas sobre as melhorias que podem ser feitas na Lei. E
continuamos lutando para que ela seja efetiva na vida das mulheres.”, falou
Fátima Santos, coordenadora colegiada do Fórum de Mulheres do Pajeú.
O enfrentamento a todas as
formas de violência é condição necessária para um mundo efetivamente
sustentável e agroecológico, sendo imprescindível que todos que apoiam um
projeto agroecológico repudiem também a violência contra as mulheres. “A
violência não é só espancar, o preconceito é um tipo de violência”, disse
Josefa Erivoneide, de 40 anos, da comunidade de Canudos, município de São
José do Egito.
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