Pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) constatou a
presença do vírus Zika em mosquitos Culex quinquefasciatus (nome científico da
muriçoca ou pernilongo doméstico) coletados na cidade do Recife. Esse achado
confirma a espécie como potencial vetor do vírus causador do Zika, hipótese
que, de acordo com a literatura científica, não havia sido comprovada até
agora. As informações são da Agência Brasil.
O estudo foi conduzido pela Fiocruz Pernambuco na região metropolitana
do Recife, onde a população do Culex quinquefasciatus é cerca de 20 vezes maior
do que a população de Aedes aegypti. Os resultados preliminares da pesquisa de
campo identificaram a presença de Culex quinquefasciatus infectados
naturalmente pelo vírus Zika em três dos 80 grupos de mosquitos analisados até
o momento.
Em duas dessas amostras os mosquitos não estavam alimentados,
demonstrando que o vírus estava disseminado no organismo do inseto e não em uma
alimentação recente num hospedeiro infectado.
A coleta dos mosquitos foi feita com base nos endereços dos casos
relatados de Zika nas cidades do Recife e Arcoverde, obtidos com a Secretaria
de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE).
O número total de mosquitos examinados na pesquisa foi de
aproximadamente 500. O objetivo do projeto é comparar o papel de algumas
espécies de mosquitos do Brasil na transmissão de arboviroses. Foi dada
prioridade ao vírus Zika devido à epidemia da doença no Brasil e sua ligação
com a microcefalia.
De acordo com a coordenadora do estudo, Constância Ayres “a pesquisa
simula a condição de viremia de um paciente real. Em seguida, os mosquitos
foram coletados em diferentes momentos: no tempo zero, logo após a infecção,
três dias, sete dias, 11 e 15 dias após a infecção pelo vírus”, esclareceu a
pesquisadora.
Um grupo controle, com mosquitos alimentados com sangue sem o vírus,
também foi mantido. Cada mosquito foi dissecado para a extração do intestino e
da glândula salivar, tecidos que representam barreiras ao desenvolvimento do
vírus. O procedimento se dá de maneira que, se a espécie não é vetor, em
determinado momento o desenvolvimento do vírus é bloqueado pelo mosquito.
No entanto, se a espécia é vetor, a replicação do vírus acontece, se
dissemina no corpo do inseto e acaba infectando a glândula salivar, a partir da
qual poderá ser transmitido para outros hospedeiros durante a alimentação
sanguínea, pela liberação de saliva contendo vírus.
Segundo Constância, a partir do terceiro dia após a alimentação
artificial, já foi possível detectar a presença do vírus nas glândulas
salivares das duas espécies de mosquito investigadas: “Após sete dias, foi
observado o pico de infecção nas glândulas salivares o que foi confirmado
através de microscopia eletrônica”.
A partir dos dados obtidos serão necessários estudos adicionais para
avaliar o potencial da participação do Culex na disseminação do vírus Zika e
seu real papel na epidemia. O estudo atual tem grande relevância, uma vez que
as medidas de controle de vetores são diferentes.
Até os resultados de novas
evidências, a política de controle da epidemia de Zika continuará pautada pelas
mesmas diretrizes, tendo seu foco central no controle do Aedes aegypti. (Via: Folhapress)
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