Condenado na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
completa amanhã 100 dias preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Mais
magro do que estava quando chegou de helicóptero, na noite de 7 de abril, o
petista ainda dita as estratégias e os passos do partido e de seus principais
aliados na campanha presidencial. E mantém o PT imobilizado
na definição de uma alternativa eleitoral.
As vésperas da convenção partidária e a um mês do prazo final para o
registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o prazo é 15
de agosto –, o mais importante preso da Lava Jato transformou sua “cela” em
comitê político e eleitoral, numa espécie de campanha via porta-vozes.
Desde que foram autorizadas as visitas especiais de amigos, o
ex-presidente já esteve com dezesseis pessoas em onze datas distintas. A
presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), é quem mais visitou o
ex-presidente. É ela a responsável por avisar o partido, governadores e líderes
políticos sobre as decisões de Lula – que, segundo a sigla, tem a palavra
final.
Anteontem, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) esteve com o
ex-presidente pela primeira vez como advogado com procuração para atuar no
processo da execução penal. Coordenador do programa de governo do PT e apontado
como possível “plano B” do partido, Haddad havia estado com Lula em sua cela
duas vezes, desde que foram liberadas pela Justiça visitas de amigos nas
quintas-feiras, pelo período de uma hora. Como advogado, o petista pode agora
ver o ex-presidente em qualquer dia da semana.
A intenção do grupo diretamente ligado a Lula é arrastar até o momento
final a definição da candidatura e tentar reverter a situação em benefício
eleitoral para o nome que for escolhido como candidato do partido, já que Lula
está potencialmente impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa.
O PT avalia que o bom desempenho do ex-presidente nas pesquisas, mesmo
depois de preso, é um trunfo eleitoral importante para as composições
estaduais. E assim, busca manter Lula candidato durante o máximo de tempo
possível e fazer a troca só depois que a Justiça decidir se aceita o registro
da candidatura.
Lula acompanha o cenário eleitoral e político do país pelos canais da TV
aberta – que assiste boa parte dos dias – e pelos relatos de amigos, familiares
e advogados.
Reveses
No inicio de junho, o PT pediu à Justiça o direito de Lula participar de
“atos de pré-campanha e, posteriormente, de campanha”, de comparecer ou
participar por vídeo da Convenção Partidária Nacional do PT marcada para o dia
28. Além disso, o partido pleiteava que Lula pudesse participar de debates e
sabatinas realizadas pela imprensa.
Na última semana, porém, a juíza federal Carolina Lebbos, responsável
pelo processo da execução provisória da pena de Lula, negou o pedido. Para a Justiça, o status do
ex-presidente atualmente é de inelegível, em decorrência da condenação em
segunda instância – a 8ª Turma do TRF4 confirmou sentença do juiz Sergio Moro
em janeiro e elevou a pena.
A decisão de negar direitos especiais a Lula saiu dois dias depois de o
desembargador de plantão do TRF4, Rogério Favreto – que tem histórico de ligações com o PT – conceder
liberdade ao ex-presidente no último dia 8. A ação foi revertida no mesmo dia
pelo relator da Lava Jato, desembargador João Pedro Gebran Neto, e pelo
presidente da Corte, Carlos Eduardo Thompson Flores.
O ex-presidente foi condenado a
doze anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do
triplex do Guarujá. O partido e a defesa do ex-presidente sustentam que ele é
inocente e vítima de uma perseguição político-judicial.
Nos primeiros 57 dias de prisão Lula leu 21 livros, uma média
de 52 páginas por dia: desde os mais densos como Homo
Deus, de Yuval Noah Harari; Quem
Manda no Mundo, de Noam Chomsky; a clássicos como O Amor nos Tempos do Cólera,
de Gabriel García Márquez; Ressurreição,
de Liev Tosltoi; e a biografia Belchior
– Apenas um rapaz latino-americano, do jornalista Jotabê Medeiros.
Nesses 100 dias, Lula passou a receber semanalmente visitas
de religiosos, todas as segundas-feiras. Ele já foi visitado, por exemplo,
pelos amigos Frei Beto e Leonardo Boff. Um pastor evangélico, um monge e um pai
de santo também estiveram com o ex-presidente em sua cela neste período. (Via: Estadão)
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