Pesquisa
lista características comportamentais que as empresas estão procurando nos
jovens com ensino médio e estão encontrando dificuldade de encontrar
Depois de conseguir seu primeiro emprego com carteira
assinada há um ano e quatro meses, Fabiano da Silva, 21 anos, voltou a fazer
parte da estatística do desemprego entre os jovens com faixa etária entre 18 e
24 anos, que no trimestre deste ano alcançou a taxa aterradora de 34,5% em
Pernambuco, segundo a Pnad Contínua.
A empresa onde ele trabalhava como
porteiro decretou falência, e agora o estudante acredita que vai enfrentar uma
verdadeira via crucis para se recolocar num mercado
de trabalho cheio de desafios para os jovens. Na última segunda-feira (11), o
governo federal lançou o programa Verde Amarelo com expectativa de incentivar a
contratação de jovens de 18 a 29 anos, diminuindo os encargos para os
empregadores e criando um programa de qualificação profissional. Nessa
terça-feira (12), na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), também foi
apresentada a pesquisa Demanda do Mercado por Profissionais Jovens de Nível
Médio no Estado de Pernambuco, encomendada pela NEO.
“Ainda não entrei no
detalhe do programa, mas vi que foi lançado o Verde Amarelo. É importante que
surjam iniciativas que ajudem o jovem a entrar no mercado de trabalho, porque
hoje as exigências são muitas para quem está começando. Querem que a gente
tenha experiência quando estamos buscando nosso primeiro emprego, algumas
empresas pedem inglês fluente para uma vaga de estágio. Isso sem falar nas
qualificações e nos diferenciais. Eu acredito que consigo me diferenciar por
algumas características como bom relacionamento interpessoal, vontade de
aprender, raciocínio rápido e boa comunicação”, diz Fabiano.
Essas são, exatamente,
algumas características comportamentais que as empresas estão procurando nos
jovens com ensino médio e estão encontrando dificuldade de encontrar, de acordo
com a pesquisa da NEO, iniciativa internacional liderada na América Latina pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), BID LAB e pela International
Youth Foundation.
Realizado com 30 empresas no
Estado, o levantamento mostrou que a maioria dos empregados com idade entre 14
a 29 anos (95%) está nos setores de serviços, comércio e indústria. “Há um
entendimento entre as empresas dos diversos setores de que a parte técnica é
mais fácil de qualificar dentro do próprio ambiente de trabalho, mas as
qualidades comportamentais são um desafio. Os empregadores estão em busca de
profissionais que saibam trabalhar em equipe, tenham interesse em aprender,
sejam responsáveis”, observa Vinícius Lobo, analista de Políticas Sociais da
Superintendência Regional do Trabalho, uma das entidades parceiras no estudo.
OFERTA E DEMANDA
A pesquisa da Neo também mostra a
necessidade de melhorar o diálogo entre as escolas de qualificação em
Pernambuco e as empresas para reduzir o descasamento entre a formação do jovem
e a demanda do mercado de trabalho. De acordo com o estudo, o casamento entre a
necessidade do mercado e a entrega das escolas não chega nem a 50%. O setor
mais assertivo é o da indústria, com 45% de coincidência ocupacional, enquanto
no comércio e nos serviços, não passa de 35%.
A coordenadora geral da Aliança
Neo no Brasil, Neila Vilar, diz que o exemplo de maior descompasso acontece no
Porto Digital. “As vagas que surgem no pólo de tecnologia não encontram as
qualificações que as empresas demandam, especialmente em áreas de empregos mais
qualificados ou relacionadas ao mundo do trabalho do futuro, que é o
conhecimento na área de informática e das habilidades socioemocionais”, diz.
Na avaliação de Vinícius Lobo, o
Jovem Aprendiz talvez seja a melhor maneira de inserir o jovem no mercado de
trabalho com qualidade, segurança e estabilidade. “Em 2018, o número de
aprendizes no Estado foi de 12.724. No próximo dia 21, às 14h, no auditório da
Superintendência Regional do Trabalho, vamos realizar evento A Integração
Empresa-Escola na Aprendizagem, com objetivo se aproximar essas duas pontas. Assim,
acredito que novas oportunidades para os jovens poderão se abrir”, defende.
RENDA DOS JOVENS
Além de representar a maior faixa
de desempregados do Brasil, com taxa de 25,8% na faixa etária de 18 a 24 anos
contra 12% da média nacional no segundo semestre segundo a Pnad Contínua, os
jovens também foram os que mais perderam renda do trabalho nos últimos cinco
anos. O resultado está na pesquisa Juventude e Trabalho - Qual foi o Impacto da
Crise na Renda dos Jovens? E nos Nem-Nem?, realizada pela FGV Social.
O diretor do FGV Social, Marcelo
Neri aponta que os dados são alarmantes mesmo na comparação com outros grupos
tradicionalmente excluídos. “Enquanto entre analfabetos, negros e moradores das
regiões Norte e Nordeste apresentaram reduções de renda pelos menos duas vezes
maior que a da média geral, essa perda foi cinco vezes mais forte entre jovens
de 20 a 24 anos e sete vezes pior entre os jovens adolescentes”, compara. Há
aumento na desigualdade de renda nesse grupo de jovens, 41,2% maior que o
aumento observado para o conjunto da população, indicando a necessidade de
entender a dinâmica dos diversos segmentos da juventude.
Entre o quarto trimestre de 2014
e o segundo trimestre de 2019, a perda de renda média acumulada foi de 14,66%
entre o total dos jovens, com percentuais diferentes por grupos: de 15 e 19
anos (-26,54%), de 20 e 24 anos (-17,76%), entre os nordestinos (-23,58%) e
entre os analfabetos (-51,1%).
Segundo a pesquisa, o que
provocou a diminuição da renda foi basicamente os mesmos motivos entre os
diferentes grupos de jovens: aumento do desemprego, redução de jornada de
trabalho, queda do salário por hora/ano de estudo. “Em meio a esta tragédia
juvenil há algumas novas direções positivas. A partir do primeiro trimestre de
2017 as perdas da média e da desigualdade de renda desses jovens são
interrompidas. O governo federal anuncia o lançamento de redução de encargos
trabalhistas de cerca de 30% do primeiro emprego para jovens de 18 a 29 anos.” (Via: Jc Online)
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