O policial militar aposentado
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro preso nesta
quinta-feira (18), era monitorado e sofria restrições de movimentação impostas
pelo advogado Frederick Wassef, indicam mensagens apreendidas pelo Ministério
Público do Rio de Janeiro.
Os promotores que pediram a
prisão de Queiroz afirmam que o ex-assessor buscava omitir de Wassef, também
advogado do presidente Jair Bolsonaro, as saídas que fazia do imóvel onde morou
nos últimos meses em Atibaia, de propriedade do advogado.
O MP-RJ diz ainda que o
ex-assessor e seus familiares desligavam seus telefones quando se aproximavam
da casa, a fim de evitar eventual monitoramento das autoridades policiais.
Queiroz foi preso sob suspeita
de atrapalhar as investigações do MP-RJ sobre a suposta "rachadinha"
no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa. Ele é apontado como
operador financeiro do esquema, cuja finalidade seria beneficiar o próprio
senador.
Mensagens datadas de outubro
de 2019 mostram a mulher de Queiroz pedindo à filha para informar a uma mulher
identificada como Ana que o casal está a caminho de São Paulo. A mulher
responde: "Pode ficar tranquila que não falo nada não".
Em outro áudio, Ana afirma, segundo os promotores, que não comentou com
"Anjo" sobre a viagem do casal. Para o MP-RJ, o apelido é referência
a Wassef.
Outras mensagens mostram
Queiroz explicando que precisa desligar o telefone ao se aproximar da casa de
Wassef. "A gente vai ter que desligar o telefone, daqui a pouco a gente
vai entrar na nossa área", disse Queiroz num áudio de julho de 2019.
Em agosto, outro áudio indica o procedimento adotado.
"Se tiver alguma coisa
pra falar, fala por aqui [telefone de Márcia, mulher de Queiroz] ou por aquele
telefone que tá com minha filha, tá bom? Quando eu entro na cidade em que eu
tô, eu desligo os telefones", disse Queiroz a um homem identificado como
Heyder.
Os diálogos indicam ainda que
Wassef cogitou levar toda a família de Queiroz para Atibaia após a derrota no
STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento sobre o compartilhamento de
informações financeiras detalhadas em relatórios do Coaf.
"[Wassef está] Querendo
mandar para todos [sic] para São Paulo se a gente não ganhar", disse
Queiroz em 24 de novembro de 2019 para a mulher, Márcia Aguiar.
O julgamento sobre o compartilhamento de dados do Coaf começou no dia 21 de
novembro e se encerrou no dia 28.
Na ocasião, a mulher
considerou a intenção um exagero. "Mais [sic] só se estivéssemos com
prisão decretada. Sabe que isso será impossível, né?", disse ela.
A presença de Queiroz na casa
de Wassef contrariou todo o discurso do advogado e da família presidencial ao
longo de um ano e meio, segundo o qual não havia mais contato entre os
Bolsonaro e o ex-assessor de Flávio. O senador chegou a dizer que um eventual
contato entre os dois poderia ser interpretado como obstrução de Justiça.
Queiroz é apontado pelo MP-RJ
como operador financeiro da suposta "rachadinha" no antigo gabinete de
Flávio na Assembleia, onde ele exerceu mandato de deputado estadual entre
fevereiro de 2003 e janeiro 2019.
A "rachadinha" é a
prática de recolhimento de parte dos salários de assessores de um gabinete para
fins diversos. No caso do filho do presidente, a suspeita é de que o senador
era o beneficiário final da maior parte dos valores.
Investigadores identificaram o
costume de pagamento de despesas pessoais do senador com dinheiro vivo. O MP-RJ
identificou, por exemplo, que Queiroz foi o responsável por quitar boletos de
mensalidade escolar das filhas do senador em outubro deste ano.
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