Quando os foliões saíram às ruas no Carnaval do ano passado, ninguém imaginava que aquela festa seria a última em um bom tempo. Talvez tenha sido a última vez em que as torcidas do Trio de Ferro formaram uma aglomeração saudável e orgânica, sem preocupações relacionadas aos momentos dos clubes ou a resultados recentes. Importava somente a sinergia entre os torcedores, que cantavam e dançavam como se os clubes de coração fossem agremiações carnavalescas.
Os blocos de Carnaval alusivos às torcidas do Náutico, Santa Cruz e Sport arrastam multidões há anos e levam as cores e os sons das arquibancadas às ladeiras de Olinda. Em 2021, no entanto, a pandemia da Covid-19 vai fazer com que o silêncio que recentemente tomou as arquibancadas dos estádios de futebol seja reproduzido nos principais polos da Festa de Momo em Pernambuco.
Desde 2006, a Troça Carnavalesca Mista, Ofídica, Etílica e
Erótica Minha Cobra, organizada por torcedores do Santa, leva milhares de
foliões tricolores ao Carnaval de Olinda. Na manhã da segunda-feira, uma cobra
gigante desfila pelas ruas e as colore de preto, branco e vermelho.
“O que tem motivado torcedores de arquibancada e foliões a
organizar uma troça é o pertencimento. O ‘coralismo’ é um sentimento maior do
que o futebol, então organizar esse tipo de festa é uma declaração de amor ao
clube, à cultura popular e ao Carnaval. O Santa se entrelaça muito com a massa
e, por isso, está muito próximo da cultura popular”, diz um dos membros da
organização da Minha Cobra, o torcedor e folião Esequias Pierre.
Esequias também relaciona a liberdade das ladeiras às
arquibancadas dos estádios em tempos passados. No Carnaval, é permitido fazer
uma festa de um jeito que não se faz mais nos estádios. “A gente consegue levar
bandeiras, papel picado, fazemos pirotecnia, temos a nossa orquestra e isso
tudo representa a liberdade de torcer”, completa.
Um dia antes do desfile da Minha Cobra, o Sítio Histórico de
Olinda também tem seus momentos de arquibancada. Nos domingos de Carnaval, a
Troça Carnavalesca Futebolística e Cervejeira Eternamente Sport, fundada em
2016, leva os foliões rubro-negros às ladeiras.
O presidente da Troça, Renato Galvão, usa os versos que estão
presentes no hino do clube para explicar a motivação dos torcedores-foliões em
ir às ruas no Carnaval. “Nossa motivação é o amor pelo Sport Clube do Recife.
Temos o clube como uma razão para viver e ele precisa fazer parte de todos os
momentos das nossas vidas, não poderia ser diferente no Carnaval. Até a
fundação da troça, o Sport não tinha um bloco em Olinda, mas tínhamos certeza
que precisávamos trazer essa representação”, afirma.
Um pouco mais longe do furdunço das ladeiras estreitas do
Sítio Histórico (mas com a mesma animação), está uma das manifestações mais
tradicionais que relacionam o futebol e a folia de momo. Nos Aflitos, bairro da
Zona Norte do Recife, alvirrubros e alvirrubras se reúnem há mais de 80 anos
para celebrar o Timbu Coroado. Essa tradição, que se perpetua de geração em
geração, também é motivada pelo amor ao Náutico. Mário Johnson, diretor social
do Timbu Coroado, explica que os combustíveis que fazem com que a festa
continue ano após ano são “a paixão pelo clube e o sentimento de profunda
alegria em ver os torcedores e suas famílias, vibrando e brincando”. (Via: Folha PE)
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