Um homem de 39 anos, morador do município de Campo Bom, a 57 km de Porto Alegre, foi infectado por duas variantes do coronavírus em um intervalo de três meses e 11 dias.
A primeira infecção, detectada em 30 de novembro, foi
assintomática; a segunda, em 11 de março de 2021, o levou à morte.
Na ocasião, o paciente apresentou falta de ar, fadiga,
dificuldade respiratória e saturação menor que 95%. O agravamento do quadro fez
com que fosse levado à UTI e intubado.
Este caso, que foi o primeiro confirmado de morte no Brasil
por reinfecção pelo coronavírus, inédito também em infecção por variantes
diferentes, está relatado em um artigo científico produzido por 15 pesquisadores
brasileiros comandados pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da
Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), publicado na plataforma Research
Square.
De acordo com o artigo, o paciente encontrou várias pessoas,
incluindo o pai, quando este estava em um quarto de hospital onde havia outros
pacientes diagnosticados com Covid-19.
“Independentemente desse caso, uma dúvida que vem muito à
cabeça das pessoas é se a reinfecção é mais grave ou branda. Depende do
histórico. Pessoas com uma primeira infecção muito branda tendem a não ter uma
resposta imune muito duradoura e protetora. Nesses casos, a segunda infecção é
mais severa”, explica Fernando Rosado Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica
BR-MCTI e professor do mestrado em virologia da Universidade Feevale.
As comorbidades, segundo Spilki, são complicadores para a
Covid-19. O paciente em questão tinha diabetes e doença cardiovascular crônica.
O pesquisador observa que, mesmo com variantes com mutações
similares, como é o caso da P.1 e P.2 -ambas de origem brasileira-, é possível
se reinfectar.
“A outra coisa que me chamou a atenção é que a primeira
infecção foi com P.1, que surgiu em Manaus em meados de novembro. Você vê como
o Brasil está interconectado que acabou que essa pessoa, logo no final de novembro,
já tinha a variante P.1”, afirma.
Por enquanto, sabe-se que o homem não viajou. O estudo
continua em andamento, no sentido de rastrear seus contatos próximos. A
Vigilância Sanitária local também trabalha nas investigações para identificar
como ocorreu a contaminação.
Os pesquisadores examinaram dezenas de amostras dos mesmos
dias durante novembro e dezembro de 2020. A análise foi intensificada nos três
primeiros meses de 2021, quando descobriram que a reinfecção havia sido um fato
isolado, de acordo com Spilki.
“No final de janeiro, a P.1 entrou com toda a força e dominou
o cenário no Rio Grande do Sul. Hoje, ela é quase totalitária. Na Argentina e
no Uruguai foram feitas detecções pontuais de P.1, em meados de janeiro, mas
não houve transmissão. Depois, a partir de fevereiro, nestes dois locais, e
agora, o vírus se disseminou numa nova introdução. O mesmo ocorreu no Rio
Grande do Sul; no início não houve transmissão e, depois, foi terrível. A P.1,
e agora temos também a P.2”, explica.
Um estudo publicado em 14 de abril na revista Science mostra
que a P.1, identificada em Manaus, surgiu em novembro de 2020, cerca de um mês
antes do aumento expressivo de novos casos e óbitos de Srag (Síndrome
Respiratória Aguda Grave) naquela cidade. Além disso, a variante é cerca de 1,7
a 2,4 vezes mais transmissível e apresentou rápida evolução na cidade.
O caso de reinfecção ocorrido no Rio Grande do Sul serve como
alerta para que os cuidados como distanciamento físico, uso de máscaras e
evitar aglomerações sejam mantidos mesmo após a vacinação e período de
imunização, que acontece três semanas após a segunda dose, em média.
“É muito comum, e tem ocorrido com os vacinados também, que
os indivíduos infectados se imaginem imunes. Esse e outros estudos abrem esse
alerta. Mesmo que você tenha tido Covid-19, precisa manter o cuidado. Você até
pode estar protegido clinicamente, mas, dependendo da imunidade, da fase que
está na vacinação, ainda que não tenha a doença, pode transmitir. As pessoas
continuam expostas e potenciais transmissoras”, alerta Spilki.
Em dezembro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso
de reinfecção pelo coronavírus ocorrido com uma profissional de saúde de 37
anos num intervalo de 116 dias. Na ocasião, ela morava no Rio Grande do Norte e
trabalhava na Paraíba.
Para Spilki, pelo menos nos primeiros anos, a prevenção
contra a Covid-19 exigirá, provavelmente, a vacinação anual.
“O que eu tenho bastante medo é que estamos com a vacinação
muito lenta e, provavelmente, não conseguiremos fechar a meta, a menos que
ocorra uma intensificação inesperada daqui para a frente. Olha o tamanho do
desafio. Precisaremos ter um incremento muito forte para, no ano que vem,
fazermos a provável revacinação”, completa Spilki. (Via: Folhapress)
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