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domingo, 4 de abril de 2021

Lideranças de baixa patente das PMs tentam incitar tropa contra governadores adversários do Palácio do Planalto

Lideranças policiais alinhadas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro vêm confrontando medidas de combate à Covid-19 determinadas por governadores que fazem oposição ao governo federal. A tentativa de incitar setores das polícias contra o Executivo estadual, pano de fundo dos protestos após a morte na Bahia do soldado Wesley Santos, no último domingo, também aparece em estados como Ceará, Paraíba, Pernambuco e Espírito Santo.

Segundo analistas e até membros da bancada da bala, há uma tentativa de “politizar” queixas históricas da Polícia Militar, ligadas a questões salariais e estrutura de trabalho, para conservar o apoio ao presidente. O discurso encontra mais eco nas patentes mais baixas e resiste mesmo diante de insatisfações com a PEC Emergencial, que prevê congelamento de salários.

Na Bahia, o deputado estadual Capitão Alden (PSL) liderou uma manifestação de policiais na quarta-feira que, embora negasse “partidarismo político”, conclamava os agentes a “lutar contra governos que tentam impor medidas inconstitucionais”. A fala é um ataque a ações como lockdown, toque de recolher e fechamento do comércio, atribuições conferidas a governadores e prefeitos na pandemia, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro deputado baiano, Soldado Prisco (PSC), que chegou a ser expulso da PM por participar de motins, tentou associar decretos do governador Rui Costa (PT) à morte do soldado Wesley — antes de atirar na direção de agentes do Bope e ser neutralizado, o policial gritou não querer “prender trabalhador”. O discurso foi amplificado por aliados de Bolsonaro. Mesmo sem evidências, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Bia Kicis (PSL-DF), ligou a morte do PM a uma resistência a “ordens ilegais”. Criticada nas redes e por colegas, ela apagou a publicação.

Em pronunciamento, Rui Costa lamentou as “mentiras e ameaças” contra ele e outros governadores. O Ministério Público acompanha as investigações que apuram as circunstâncias do aparente surto psicótico do PM e da reação do Bope.

Além de Alden e Prisco, que se apresentaram como apoiadores de Bolsonaro na última eleição, outras lideranças alinhadas ao presidente usaram o episódio para fustigar governadores de seus estados. No Espírito Santo, o deputado Capitão Assumção (Patriota), que liderou uma paralisação da PM em 2017, alegou que o governador Renato Casagrande (PSB) também tenta “jogar a polícia contra o trabalhador” com medidas restritivas. O deputado paraibano Cabo Gilberto Silva (PSL) acusou governadores de tentarem “rasgar a Constituição”.

— O que aconteceu na Bahia não é caso isolado. Os governadores, especialmente no Nordeste, querem desgastar o presidente, disse.

Instrumentalização

Segundo um ex-comandante-geral da PM, a base bolsonarista tenta “transformar uma onda em tempestade” e instrumentalizar a ação das polícias, em um “ciclo vicioso” de uso da força e desobediência. Ele afirma, porém, que a recusa da polícia baiana em ceder a apelos de paralisação mostra “resistência” à politização. A autorização do Ministério da Saúde para que integrantes das forças de segurança sejam vacinados também é vista por governadores como um fator que pode reduzir tensões.

Para o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio Lima, Bolsonaro vem combinando o apoio de lideranças policiais a tentativas de expandir, via legislação, sua influência sobre as corporações. Segundo Lima, o projeto de lei apresentado pelo líder do PSL, Major Vitor Hugo (GO), para ampliar poderes do presidente numa “mobilização nacional” durante a pandemia se dirigia tanto às Forças Armadas — cuja base também é alvo de apelos de radicalização feitos pelo bolsonarismo —, quanto à PM. Um decreto baixado na ditadura, e que segue em vigor, subordina PMs ao governo federal em caso de mobilização.

Blog: O Povo com a Notícia