Um suposto esquema de desvio de verbas da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar de São Paulo levou à queda do diretor de finanças da entidade, apontado como um dos responsáveis por um rombo estimado em R$ 35 milhões nos cofres da instituição.
Segundo estimativa do Conselho Fiscal da entidade, responsável pela sindicância aberta para apurar as supostas irregularidades, são cerca de R$ 20 milhões em prejuízos e mais R$ 15 milhões em desvios para contas particulares do então diretor Edmilson Aparecido da Silva.
Parte dos desvios, de acordo com o presidente do conselho, Gilson Braga, ocorreu por meio de uma empresa que prestou auxílio a funerais de policiais militares e da qual Silva foi sócio. O valor do contrato passava de R$ 5 milhões anuais -a prestadora de serviços foi dispensada após as suspeitas.
A associação de cabos e soldados paulista é considerada a maior do país, com cerca de 50 mil membros e receita anual em torno de R$ 45 milhões. Seu patrimônio é estimado em R$ 200 milhões.
Silva foi afastado do cargo no início de agosto, após votação unânime de integrantes da cúpula da entidade. O presidente do conselho deve apresentar na próxima semana denúncia contra ele no Ministério Público e na Corregedoria da PM, além de mover uma ação na Justiça para reparação dos supostos prejuízos causados.
Procurado pela reportagem, Silva confirmou ter sido sócio da empresa, mas negou irregularidades. Disse que Braga não é "uma fonte fidedigna", porque quer comandar a associação e tenta criar escândalos para derrubar Wilson de Oliveira Morais, conhecido como cabo Wilson e presidente da entidade desde 1995.
O diretor afastado também se referiu a reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 2019: "Além disso, ele mesmo, Gilson Braga, já foi objeto de matéria de sua autoria, como possuidor de patrimônio incompatível com seus rendimentos, de modo que agora ele vai surgir, em matéria requentada, como o 'salvador da ACS [associação] e da pátria'".
Silva faz referência a reportagem da Folha de S.Paulo que revelou que um grupo de diretores da associação de PMs tinha patrimônio incompatível com os rendimentos de policiais.
A lista incluía tanto Braga como o cabo Wilson, além de Silva, que era quem aparecia com o maior patrimônio estimado pela reportagem, algo em torno de R$ 2,9 milhões em imóveis e veículos. O salário dele na época era de R$ 4.431,48. Os integrantes da cúpula da associação não recebem salário pela função.
A sindicância trabalha com a possibilidade de o patrimônio de Silva ser ainda maior do que o apontado pela reportagem da Folha de S.Paulo. O conselho diz que ele tem ao menos 15 imóveis, além de R$ 2,4 milhões depositados em quatro contas criadas no nome de seus filhos.
Braga disse à reportagem que a publicação da Folha de S.Paulo em 2019 levou o conselho a conduzir a apuração interna.
Ele afirma que, no seu caso, tem como justificar o patrimônio com o trabalho regular e bicos realizados ao longo dos anos.
"A partir dali [da reportagem], eu comecei a olhar as coisas lá dentro [da associação] de uma outra forma. Já notava que o diretor de finanças tinha algumas atitudes muito suspeitas. Tudo que ele fazia era muito reservado. Nossa tesouraria era uma 'caixa de pandora'. Todos os funcionários eram instruídos a não dar nenhum tipo de informação", afirmou.
Braga diz que também há indícios de irregularidades envolvendo o setor de doação de aparelhos auditivos. Suspeita-se que eram fornecidos equipamentos para pessoas sem necessidade deles, apenas para que a empresa responsável pela venda aumentasse o faturamento.
Procurado por meio da assessoria de imprensa da associação, o cabo Wilson disse que não comentaria, "já que todas as informações sobre o caso foram passadas pelo presidente do Conselho Fiscal, Gilson Braga, responsável pela sindicância".
Em vídeo divulgado na internet, o cabo Wilson pediu para os associados continuarem confiando na entidade, incluindo nas diretorias. "Afinal, são 64 anos de trabalho e honestidade", disse.
Disse que o acusado das suspeitas terá amplo direito de defesa e contraditório e que qualquer diretor suspeito de desvio de conduta será investigado.
"Também, para maior transparência e respeito aos associados, contratamos uma auditoria independente para apurar supostas irregularidades no departamento citado", afirmou.
Disse que vai processar o presidente do conselho civil e criminalmente pelas afirmações feitas. "Já que está caluniando e difamando a mim e à própria entidade, além das duas mencionadas empresas terceirizadas e seus respectivos sócios", afirmou.
Disse que as contas da associação são constantemente fiscalizadas pelo Conselho Fiscal e associados e que todas as contas foram aprovadas.
"Assim, que 'esquema' seria esse na ACS, de tamanha envergadura, que o próprio presidente do Conselho Fiscal que agora caluniosamente denuncia não foi capaz de detectar quando emitiu seus pareceres favoráveis?"
Disse que nenhum valor saía dos cofres da entidade sem ser por cheque assinado por ele e pelo presidente. Também negou problemas no contrato de compra de equipamentos auditivos.
Antes da sindicância aberta, ainda segundo o diretor afastado, Braga e a diretora Cristiane Andreoni obtiveram de maneira ilegal informações bancárias dele e, por isso, passou a ser vítima de extorsão. "Tentarem me 'extorquir', como o fizeram, exigindo metade dos valores aplicados, crime ao qual não me submeti e prontamente denunciei", disse, sem dar detalhes.
Por fim, disse que patrimônio dele e da família foi conquistado "honestamente ao longo de uma vida de trabalho, não somente na PM, estando tudo (imóveis, valores e origens) devidamente declarado à Receita Federal nas épocas próprias", disse ele.
Braga nega extorsão. A reportagem não conseguiu contato com Cristiane. (Via: Folhapress)
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