Parte do grupo prioritário na vacinação contra a Covid-19 em todo o país, as forças de segurança e salvamento de 11 estados não conseguiram alcançar a média de aplicação da primeira dose equivalente à do restante da população. Nessas unidades federativas, a quantidade de policiais civis, militares e bombeiros vacinados com a primeira dose contra a Covid-19 está abaixo de 81%, porcentagem atual da população geral acima de 12 anos que já recebeu ao menos uma aplicação de imunobiológico.
Segundo os dados do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública e planos estaduais de imunização, a estimativa
é que existam 773.896 membros de forças de segurança e salvamento atualmente no
Brasil. No país, 76.283 trabalhadores dessas áreas ainda não procuraram os
postos de vacinação, segundo os registros até essa segunda-feira (4/10), o que
representa 9,85% do total.
Um dos grandes problemas dessa situação é que esse contingente de não
vacinados trabalhando nas ruas sem imunização coloca em maior risco de contágio
os colegas de profissão e a população em geral. Foi para evitar essa ameaça à
saúde dos próprios agentes e dos cidadãos que as forças de segurança e
salvamento foram incluídas como prioridade na vacinação.
No último lugar da lista, o Maranhão tem apenas 45% dos membros de segurança e
salvamento vacinados. Segundo a Secretaria de Saúde do estado, somente 10.230
dos 22.723 integrantes buscaram a imunização contra a doença.
No Acre, na Paraíba e
no Paraná, um pouco mais da metade dos empregados nas duas
áreas procurou os postos de vacinação, com 51,7%, 53,2% e 53,1% de membros que
tomaram ao menos uma dose, respectivamente. No Paraná, 11.753 PMs ainda
precisam ser imunizados. O estado, que contabiliza a Polícia Militar
separadamente dos demais grupos, conta com um efetivo de 25.073 policiais.
Amapá (66,2%), Santa Catarina (68,9%), Piauí (79,7%), Rondônia (74,3%), Tocantins (73,2%), Roraima (73,6%)
e Rio de Janeiro (72,2%) também compõem a lista das
unidades federativas que ficam abaixo da média nacional de vacinação.
No estado do Rio de Janeiro, ao contrário da capital fluminense, que exige
a obrigatoriedade de vacinação para seus servidores, o governo estadual não
possui nenhuma orientação ou decreto sobre o assunto, cabendo a cada corporação
decidir a exigência do comprovante de imunização aos agentes.
O estado de Roraima apresenta números de segunda dose superiores aos da
primeira, devido à aplicação de 4.532 doses únicas, o que totaliza 83,4%.
As forças de salvamento e segurança fazem parte dos grupos prioritários da
vacinação contra a Covid-19, segundo determina o Plano
Nacional de Imunizações (PNI).
O levantamento foi realizado pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles.
Para o
doutor em administração pública e governo (EAESP/FGV) e associado ao Fórum
Brasileiro de Segurança Pública Alan Fernandes, os dados obtidos revelam a
realidade dos quartéis brasileiros, em grande parte influenciados pelo
negacionismo contra a vacina e ciência e aliados à ideologia do presidente da
República, Jair Bolsonaro (sem partido).
“As informações vindas do governo federal são muito consumidas por esse
público. E temos o maior líder político do país com esse discurso. Então para
eles não é fake news, isso é verdade”, explica o especialista.
Para
Fernandes, entretanto, também faltaram medidas estaduais para conter a baixa
adesão, como a obrigatoriedade imposta em alguns locais no país. “A questão
pública de saúde é maior que a questão individual. E se você não consegue fazer
uma gestão sobre essa população, que está no funcionalismo público, me preocupa
esse cenário na população em geral”, diz Alan Fernandes.
Falta de dados corretos
inflacionam vacinados
Se de um lado há unidades federativas que penam para vacinar seus membros
de segurança e salvamento, por outro há estados que inflacionam os números de
imunizados, devido a problemas na tabulação de informações e à mistura de
profissionais de apoio entre os agentes de segurança e salvamento.
É o caso de Alagoas, Bahia, Ceará e São Paulo. Nesses estados, a conta da vacinação não
fecha: a porcentagem de imunizados com a primeira dose ultrapassa o total do
público da campanha.
Alagoas (101,6%) e Ceará (105,8%)
não responderam às tentativas feitas pelo Metrópoles,
para entender o número inflacionado, até o momento de fechamento desta
reportagem.
São Paulo, que registrou 114,5% de policiais e bombeiros com a primeira
dose aplicada, afirmou que o fato é “comum em campanhas de vacinação”, quando
as previsões nem sempre são acuradas, e atribuiu o resultado à alta adesão à
campanha de vacinação no estado.
A Bahia, que foi questionada por apresentar 122,8% dos seus servidores com
a primeira dose, afirmou que o número está correto e que talvez a reportagem
estivesse “com dificuldade para interpretar adequadamente” seus dados.
Acrescentou ainda que o fato é justificável pela utilização do termo
“estimativa” em notas técnicas sobre o assunto. O estado possui a maior
defasagem de números reais de seus servidores em todo o país. (Via; Metrópoles)
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