O presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), afirmou que a União Brasil "certamente" terá um candidato próprio ao Palácio do Planalto e, diante disso, não fará sentido que integrantes da legenda apoiem adversários.
DEM e PSL criaram o novo partido na quarta-feira (7), quando a fusão foi aprovada em convenção conjunta em Brasília.
Uma das dúvidas dos atuais filiados às duas siglas é sobre em qual lado a União Brasil ficará em 2022 e se haverá liberação para que seus candidatos possam apoiar Jair Bolsonaro para presidente.
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"Vamos fazer um fundo comum, para que todos olhem, inclusive os jornalistas investigativos da Folha de S.Paulo e todos os outros, e olhem que aquilo não está em caixa preta", disse.
Bivar foi indiciado pela Polícia Federal por causa do esquema sob suspeita dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.
O futuro presidente do União adiantou ainda que o novo partido em São Paulo e no DF ficará sob o comando da ala do PSL, por um "acordo de cavalheiros" feito com o presidente do DEM, ACM Neto.
PERGUNTA - O PSL era um partido pequeno que cresceu muito por causa do presidente Jair Bolsonaro. Agora, tem uma expectativa de várias defecções, de cerca metade da bancada. O sr. decidiu pela fusão pelo receio de enfraquecimento e derrota nas urnas em 2022?
LUCIANO BIVAR - O partido realmente [era pequeno] comparado aos outros, mas era um partido com capilaridade no Brasil inteiro. Quando veio aquela onda de liberalismo, lavajatismo, são coisas em que sempre estivemos inseridos.
A gente nunca teve nada da Lava Jato, sempre foi um partido muito limpo. As denúncias, até por parte do seu jornal, são coisas naturais. Mas isso nunca configurou nada. Mesmo o problema dos laranjas, não fomos denunciados. Eu não tinha vinculação com aquilo. Mas foi aquilo no começo. Criou aquele problema.
Mas voltando para a pergunta. A união desses dois partidos naturalmente vai favorecer para aglutinarmos mais candidatos. Se eles se unem, podem crescer mais um pouquinho. E temos a mesma ideologia. Temos um pensamento de direita liberal, partidos que se mostram antagonistas a uma economia massificada, nós somos da economia de mercado. Então essa junção traz uma identidade mais marcante.
Do campo de vista subjetivo, é pessoal. Com esse fundo [eleitoral e partidário], parece até que a gente queria pegar esse fundo e fazer à nossa maneira. Então, preferimos ter esse desprendimento.
Vamos fazer um fundo comum, para que todos olhem, inclusive os jornalistas investigativos da Folha de S.Paulo e todos os outros e olhem que aquilo não está em caixa preta. Porque esses partidos pequenos às vezes tem R$ 10 milhões, R$ 15 milhões, R$ 20 milhões, e o cara diz 'não, vou ficar com esse dinheiro, porque tenho meu motorista'.
Os caras não vão ficar roubando dinheiro, mas usa aquilo como uma mordomia, e prefere ficar pequeno sem ter ideia de Brasil, oportunidade de oferecer um programa. Para mim, pessoalmente, foi muito bom, dá uma tranquilidade, porque as pessoas falam, 'ah, aquele cara cheio dinheiro, e agora ficou com aquele castelinho dele para fazer o que ele quer'. Não, eu quero contribuir para o país, quero que seja uma válvula, um volume de coisas que vá fortalecer as nossas lideranças.
O sr. fala que a ideologia é parecida, mas temos uma questão prática que é Bolsonaro e Lula como cenário mais provável para 2022. O sr. acha que nisso vocês vão ter acordo também?
LB - Isso depende de cada deputado.
Mas isso significa que eles estão liberados?
LB - Não. Com a fusão, eles já estão liberados todos, do DEM e do PSL. A gente tem um programa, uma ideia. Nós vamos ter um candidato próprio. Certamente o União Brasil terá um candidato à presidência.
Mas o deputado que quiser apoiar o Lula ou o Bolsonaro, ele vai ter essa liberdade?
LB - Não faz sentido você estar numa sigla onde tem um candidato a presidente e o parlamentar apoiar um candidato adversário. É até ilegal ele estar com um santinho com outro candidato. Esses mecanismos de direito eleitoral, as nossas instituições vão ter de educar os candidatos.
LB - Tanto o DEM quanto o PSL tem quadros que possam ser representativos e de experiência política para levar isso à frente.
O sr. lançou o nome do Datena...
LB - Lancei quando era PSL. Agora, com a fusão, eu tenho que ouvir a nova diretriz da União Brasil.
Datena deixa de ser pré-candidato?
LB - Não, porque assim como o [ex-ministro da Saúde Luiz Henrique] Mandetta e o [Rodrigo] Pacheco seriam pré-candidatos, o Datena também. Inclusive já tivemos uma conversa. Ele me ligou e foi extremamente sincero e disse 'eu sinto que com a fusão, zerou tudo', e eu concordo com ele. No momento zera tudo, mas você é o nosso candidato. Mas eu não tenho hoje poder absoluto de impor você como nosso candidato.
Antes da fusão ser consolidada, quem procurou quem?
LB - O Neto me procurou. Nós tínhamos conversado antes, pretendíamos fazer, era uma ideia do PP, do PSL e do DEM fazer isso aí. Nós também como cabeça de chapa. Mas se a gente teve dificuldade de ajustar as pontas com dois partidos de igual ideologia, imagina um terceiro partido. Esfriou um pouco e aí foi quando Neto falou, 'então, Luciano, gostaria de conversar'.
Parlamentares dizem que o Jair Bolsonaro quase voltou para o PSL. Isso aconteceu?
LB - O que querem os amigos de Bolsonaro e os amigos do ex-partido de Bolsonaro? Eles querem união. Então. é natural que eles estejam a todo tempo congregando, se juntando em reuniões. Saem de lá, a coisa está andando, está bem, mas eles é que têm esse interesse, está certo? De querer juntar porque é bom para todos.
Então o sr. e o Bolsonaro nunca quiseram se juntar?
LB - É porque ele tem uma linha muito personalista e nós temos uma linha muito partidária. Nós somos muito partido, não é o segmento de candidatos e parlamentares. É no sentido de ideias. As nossas ideias estão estabelecidas aí. Como ele poderia se adequar a isso agora? Tinha muitos entraves nesse sentido.
O único problema com Bolsonaro, então, é ele ser personalista?
LB - Nós temos as nossas convicções e ele tem as deles. Nós somos regidos por sentimento intuitivo. Você sabe quando flui algo. Eu ouço muito meu intituito. Se depender do meu intitutivo, é a terceira via.
Passada a fusão, vocês vão resolver os estados. O DEM, em São Paulo, tem dois pré-candidatos, o Alckmin e o Rodrigo Garcia. No DF, tem outros nomes. Como vocês vão decidir isso?
LB - Nós temos acordo de cavalheiros. No DF e em São Paulo vai ficar com o PSL.
Todos os estados estão definidos no acordo de cavalheiros?
LB - Tem alguns estados que deixamos para resolver depois da fusão.
O sr. acha que metade da bancada vai sair para apoiar Bolsonaro?
LB - Seria um palpite. Porque hoje organicamente metade está de cada lado. Mas isso todo mundo. Mas todos estão debaixo de um mesmo guarda-chuva. E nós pretendemos estar debaixo do guarda-chuva democrático. O PT é democrático. Então, quem for democrático, que acreditar nas instituições, respeitar o estado de direito, aí já vem uma linha diferente de outros partidos de esquerda, quem acreditar na economia de mercado [estará no mesmo guarda-chuva].
O sr. fala que o PT é democrático. Se num segundo turno houver Bolsonaro e Lula, quem o União deve apoiar?
LB - Eu não raciocino sobre hipóteses. Nós vamos estar no segundo turno.
Bolsonaro está dentro do guarda-chuva democrático?
LB - Se o Bolsonaro vai para o PP e dá uma entrevista e diz 'somos democratas'. Bolsonaro vem a público dizer isso, vamos dizer. Eu estou no oceano, eu tenho que escolher entre os democratas. Não sendo democrata, não estando dentro do meu intuitivo que é democrata, certamente não vai ter a nossa simpatia.
O sr. tem dúvida se ele é democrata?
LB - Eu não estou aqui para julgar o subjetivo da cabeça do Bolsonaro.
O sr. disse que tem um castelinho de dinheiro e ficaria com uma bancada pequena e quer dividir...
LB - Isso, com pessoas que me emprestam a sua inteligência dentro do nosso projeto democrático e institucional.
Decidiu como vai fazer essa divisão?
LB - Não. Não é um casamento apostólico romano. Nós temos boa vontade.
O sr. disse no início que as denúncias não deram em nada. Mas o sr. foi indiciado e o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio também. O PSL ficou com a imagem de partido dos laranjas. Que autocrítica o sr. faz?
LB - Deixa eu te falar como é o jogo político. Quando você quer destruir uma pessoa moralmente, você levanta as dúvidas possíveis, veicula nos jornais. Na apuração, no entanto, não repara mais aquilo. O dano já foi causado.
Se alguém quer ganhar a direção de um partido, pensa em denegrir os outros. É uma técnica psicológica que pode ter acontecido. Mas eu não me preocupei, porque eu sou o antipolítico. Entrei com ação contra colegas seus, embora não esteja tendo sucesso. Toda vez que quer machucar, alguém fomenta aquilo e o dano está feito.
Esse assunto de laranjas a coisa tem que ser pontificada. Você não pode ser uma coisa marxista, a lei fazer o costume. O costume tem que fazer a lei. Então, você querer ter 30 candidatas e tem que ter numa bancada de 10, 3 mulheres e 7 homens, por exemplo. E se uma mulher não quer, você tem que tirar o homem. Vem os nomes, você coloca os nomes, e às vezes a mulher não é fantasma, e essas mulheres não são fantasmas, elas existem, mas não fizeram campanha adequadamente. Nessa última campanha, 3000 mulheres não tiveram um voto sequer. É um fato sociológico. Eu não sou antropólogo, mas as cortes têm que atentar para isso.
[Nota da redação: Luciano Bivar e três candidatas de Pernambuco foram indiciados pela Polícia Federal por suspeita de participação no esquema de laranjas revelado pela Folha de S.Paulo. Em Minas, o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio também foi indiciado ao lado de assessores e candidatas e, em seguida, o Ministério Público apresentou denúncia]
Mas o sr. pretende melhorar os controles do partido?
LB - Os controles?
Isso.
LB - Do partido?
Isso.
LB - Ah, sim. Eu faço questão de que a gente tenha um compliance. E temos agora a Alvarez & Marsal. E eu tenho conhecimento que um dos diretores é Sérgio Moro.
O sr. admite a existência das laranjas? O sr. justificou na época reclamando que era obrigado a dar dinheiro às mulheres. Isso mudou?
LB - Na política, você investe muito e não sabe o que vai dar. A gente investiu R$ 7 milhões na Joice [Hasselmann], para Prefeitura de São Paulo. Como podem me responsabilizar por ter gastado tanto dinheiro na candidatura dela?
Moro é opção de candidatura?
LB - Ele é honrado e decente, provou isso. Qualquer partido se sentiria confortável em tê-lo.
Então ele é uma super opção?
LB - Não é, mas é honrado
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