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terça-feira, 12 de julho de 2022

Documento da Polícia Civil aponta que número de armas roubadas de depósito da corporação é três vezes maior que o divulgado em 2021

O número de armas roubadas do depósito da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, no Recife, é pelo menos três vezes maior do que o que tinha sido divulgado em agosto de 2021. Foram 1.131 armamentos furtados, segundo aponta um documento interno da própria corporação, de fevereiro do ano passado.

O caso foi descoberto em janeiro de 2021 e, em agosto do ano passado, a polícia fez uma coletiva de imprensa em que divulgou que 326 armas foram roubadas.

Antes disso, em janeiro do ano passado, a polícia chegou a tratar o caso, com a imprensa, como sumiço de "algumas armas". No entanto, o número divulgado pela corporação representa menos de um terço do que foi roubado da Core, sob responsabilidade da Polícia Civil, que nega que o número tenha sido subestimado (confira a resposta da corporação).

A informação sobre o número de armas roubadas foi publicada pelo Jornal do Commercio e confirmada pelo g1, que teve acesso à listagem de todas as pistolas, metralhadoras e revólveres roubados (confira, mais abaixo, o detalhamento do que foi furtado).

Foram 71 metralhadoras, 532 pistolas e 528 revólveres furtados com a ajuda de comissários e agentes de um galpão da corporação, no bairro de São José, no Centro do Recife, além de 3 mil munições.

Segundo a Polícia Federal, nenhuma das armas roubadas foi recuperada. Com relação a prisões, cinco policiais civis foram presos pela Operação Reverso, por suspeita de roubar as armas e repassar a criminosos (saiba quem são os agentes de segurança presos).

O acervo bélico roubado inclui 119 armas da Guarda Municipal de Ipojuca, avaliadas em mais de R$ 500 mil, e armas da Academia de Polícia Civil, que estavam armazenadas na Core por "questões de segurança”, justamente para evitar que fossem roubadas.

Essa lista de armas roubadas é um documento interno da Polícia Civil, assinado pelo delegado especial Adelson dos Santos Barbosa, então chefe da Unidade de Operações Especiais (Uniope). A relação foi feita no dia 24 de fevereiro de 2021, cinco meses e 16 dias antes de a Polícia Civil divulgar que o número de armas furtadas era 326.

No documento da Polícia Civil, o delegado especial Adelson dos Santos Barbosa afirmou que as armas listadas não foram encontradas no setor de Armaria da unidade e que isso indicava a "existência de subtração criminosa" (entenda como o roubo foi descoberto).

Ainda segundo o documento, a listagem das armas foi inserida no Sistema Nacional de Armas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O g1 entrou em contato com a Polícia Federal, que, sem dar detalhes, confirmou o recebimento da relação no dia 24 de fevereiro de 2021.

"Confirmamos o envio da relação das armas pela Core no dia 24 de fevereiro de 2021. Até agora, não houve o registro de recuperação de nenhuma arma citada na relação enviada. Esse monitoramento é feito com informação enviada pelas Secretarias de Defesa Social dos estados", afirmou a Polícia Federal, por meio de nota.

O g1 entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social (SDS) e com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que não se pronunciaram até o horário da última atualização desta reportagem.

Lista de armas roubadas
As armas levadas da Core foram as seguintes:

Pertencentes à Academia Integrada de Defesa Social:

15 metralhadoras modelo Famae;
2 metralhadora SMT40;
43 pistolas PT24/PRODS;
29 pistolas PT840;
23 revólveres calibre 38;
Armazenadas no depósito da Core:

33 metralhadoras SMT40;
22 metralhadoras Famae;
11 pistolas PT840;
64 pistolas PT-24/7;
3 pistolas PT-24/07;
5 pistolas PT-101;
377 pistolas PT-940;
505 revólveres calibre 38.
O que diz a polícia
Procurada pelo g1, a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) se pronunciou sobre o caso por meio de uma nota. No texto, declarou que "o número de 326 armas subtraídas, apresentado em coletiva de imprensa, foi resultado de uma auditoria criteriosa realizada no setor de armaria do Core".

No comunicado, a corporação disse que o "trabalho contou com a participação de seis policiais que, após criação do novo sistema, fez os levantamentos nas unidades da PCPE que possuíam armamentos acautelados, bem como policiais que as tinham a título de carga pessoal, tendo os mesmos comparecido ao Core e procedido o recadastramento".

A polícia disse que não houve mais armas roubadas: "O próprio ofício do delegado já destaca a necessidade de confirmação posterior daquele número, pois foi enviado de maneira preliminar e precária, baseada em planilhas que não estavam atualizadas, afirmando que as armas do anexo 'não foram localizadas' e que havia indícios ou suspeitas de que poderiam ter sido subtraídas".

Ainda na nota, a corporação explicou que "muitas das planilhas eram produzidas e editadas pelos próprios indiciados, sendo um dos meios dos quais se utilizavam para a perpetração dos delitos".

Além disso, declarou que o roubo de armas do Core foi investigado e que o inquérito foi remetido à Justiça. Também citou a Operação Reverso, que cumpriu 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão, no dia 12 de agosto de 2021, contra suspeitos do crime.

"Além de investigar e punir com rigor, no âmbito criminal e administrativo, a Polícia Civil realizou um amplo inventário de materiais apreendidos e adotou novos protocolos de segurança, de modo a evitar que fatos como este voltem a ocorrer", afirmou a corporação, no texto

Presos
O g1 também teve acesso à denúncia feita pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra 20 pessoas envolvidas no caso.

Ela inclui cinco policiais civis: Cleidio Graf Gonçalves Torreiro, José Maria Sampaio Filho, Josemar Alves dos Santos e Edson Pereira da Silva, comissários da Polícia Civil; e Carlos Fernandes Nascimento, agente administrativo que morreu dias após ser preso, devido a problemas cardíacos.

As outras 15 denúncias são contra pessoas que, de alguma forma, encomendaram ou receptaram as armas roubadas da Core.

Entenda o caso
O caso foi descoberto por um comissário, no dia 4 de janeiro. Ao retornar de férias, ele constatou a falta de seis pistolas, ao manusear caixas de papelão que continham coletes a prova de balas e maletas com armas de fogo para manutenção e posterior uso por policiais civis. Havia cinco policiais civis com acesso “irrestrito” ao acervo. Eles eram os únicos que tinham acesso às chaves do local.

Esse mesmo policial civil realizou buscas na unidade pelas armas e, além de não encontrá-las, descobriu que várias outras armas de fogo tinham sido roubadas. Os criminosos deixaram maletas de pistolas vazias.

De acordo com as investigações, para simular o peso das armas nas maletas em que eram armazenadas, os criminosos encheram os recipientes com munições calibre 12.

Com a relação de algumas das armas roubadas, a Polícia Civil começou a cruzar os dados delas com o de armamentos apreendidos em abordagens e operações policiais ocorridas antes e depois do dia 4 de janeiro, quando o caso foi descoberto.

A polícia descobriu que, quase um mês antes, no dia 17 de dezembro de 2020, uma quadrilha conhecida como “Bonde da Nike”, que atuava no tráfico de drogas, roubos e homicídios na Zona Oeste do Recife, foi presa com quatro submetralhadoras. Esse armamento era parte do que foi roubado.

Também houve prisões de pessoas com armamento da Core no dia 8 de janeiro de 2021, em Olinda; e 13 de janeiro de 2021, no Jordão, Zona Oeste do Recife.

Respostas
O agente administrativo Carlos Fernandes Nascimento morreu de problemas cardíacos após a prisão e a advogada responsável pela defesa dele, Janaína Eunice, preferiu não se pronunciar.

O advogado Diego Ugiette, que defende o comissário Cleidio Graf Gonçalves Torreiro, disse que o processo do caso encontra-se parado na Justiça há quase dois meses, e que a notícia "não muda em nada a condição de inocência" do acusado.

"Muito pelo contrário, comprova a tese defensiva de que não há nenhuma prova de que o o sr. Cleidio teve participação qualquer nos crimes apurados no processo e não pode pagar pela inércia e irresponsabilidade do estado. Saliento que o sr. Cleidio deveria responder ao processo em liberdade e está segregado sem justificativa plausível", disse.

O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco é quem providencia a defesa de Josemar Alves dos Santos. A advogada Maiara Raissa disse que o comissário aposentado "alerta desde o primeiro momento para o número real de armas subtraídas, o que atesta sua inocência. Passados 11 meses de sua prisão, ainda não foi ouvido pela Justiça para apresentar sua versão dos fatos". (Via: G1 PE)

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