A estudante Danielly Lima mora em
Condado, na Mata Norte de Pernambuco. O município até hoje não tem nenhuma
faculdade. Mas, há três anos, parecia ter surgido a chance de realizar o sonho
de conquistar um diploma de nível superior em Serviço Social sem sair da
cidade. As supostas graduações eram oferecidas pela Faculdade de
Desenvolvimento e Integração Regional (Fadire), com sede em Santa Cruz do
Capibaribe, em parceria com a Prefeitura de Condado. “O curso foi oferecido por
meio da Secretaria Municipal de Educação. Eles faziam a propaganda e veiculavam
com carro de som, panfletos, e as inscrições eram feitas no próprio órgão”,
conta.
Assim
como Danielly, cerca de 20 mil estudantes pernambucanos foram seduzidos pela
proposta de cursar uma faculdade no próprio município, com carga horária
reduzida e mensalidades que cabiam no orçamento familiar. Foi apenas em julho
de 2015 que o escândalo veio à tona. A Justiça Federal de Serra Talhada decidiu
suspender as atividades das Faculdades Extensivas de Pernambuco (Faexpe), um
instituto sem credenciamento do Ministério da Educação (MEC) que ofertava
cursos semelhantes ao que Danielly frequentava em Condado.
Três
meses depois, foi criada na Alepe uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
para investigar o caso. Finalmente, no último dia 1º de junho, os integrantes
do colegiado apresentaram o relatório final do trabalho, que durou nove meses e
teve a participação de 151 testemunhas. O que chama a atenção de imediato é a
quantidade de siglas desconhecidas citadas no documento: Ieduc, Iesa, Cenpi,
Ierg, Ideb, Isef, Faeco e muitas outras. Ao todo, 17 instituições foram citadas
e 19 pessoas tiveram o indiciamento recomendado ao Ministério Público por
crimes como estelionato, sonegação fiscal, associação criminosa, falsidade ideológica
e publicidade enganosa (confira a lista completa no site www.alepe.pe.gov.br).
Entre
os suspeitos, estão os diretores da Fundação de Ensino Superior de Olinda
(Funeso), uma faculdade com mais de 40 anos de história, e os gestores da
Fadire, a instituição que havia prometido a Danielly e a centenas de outros
estudantes um diploma de graduação. O relatório da CPI vai ser encaminhado a
órgãos como os Ministérios Públicos Estadual e Federal, o Ministério da
Educação e a Receita Federal. O presidente do colegiado, deputado Rodrigo Novaes (PSD), espera atitudes firmes desses
órgãos, para que os institutos não voltem a atuar. “É preciso que a gente tenha
ações judiciais bem fundamentadas e que as medidas sejam tomadas com muita
energia, para que essas pessoas se arrependam do que fizeram e procurem outro
meio de ganhar a vida, que não seja enganar o povo”, avalia.
Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a atuação irregular dos
estabelecimentos de ensino superior no estado de Pernambuco. Muitos
dos cursos oferecidos pelos institutos denunciados eram vendidos como extensão,
e não graduação. De acordo com a relatora da CPI, deputada Teresa Leitão (PT), as falsas faculdades se
aproveitaram de interpretações errôneas da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) para ofertar cursos sem nenhuma validade acadêmica. “Estamos
propondo a regulamentação desses artigos pelo Conselho Nacional de Educação
para impedir esse desvio de um dos pilares mais importantes da universidade. A
extensão é que dá à academia a possibilidade de interagir com a comunidade”, explica.
A
recomendação dos integrantes da CPI aos estudantes é de que busquem reaver o
dinheiro investido e os danos morais na Justiça. Para quem não pode contratar
um advogado, a sugestão é acionar a Defensoria Pública Estadual, que já está a
par do caso. No entanto, alguns estudantes ainda procuram uma forma de
conseguir o reconhecimento oficial das disciplinas já cursadas.
É o
caso de Camila Cristina da Silva, que fazia Administração na Fadire, em São
Caetano, no Agreste Central, e já estava no terceiro ano. “A minha busca é que
a gente pudesse aproveitar o período que eu estudei. Só faltaria um ano para eu
concluir. Hoje, tive que recomeçar uma faculdade nova, do zero”, relata. Já a
estudante Ivete Andrade, do curso de Serviço Social do Instituto Belchior, em
Goiana, na Mata Norte, não tem a mesma esperança.
“Eu acho que tempo e sonho não têm valor. Mas, pelo menos, queria tentar recuperar o que perdi”, afirma. Ela revela que a decepção a fez abandonar a vontade de estudar. “Às vezes, à noite, eu nem consigo dormir. Fico pensando que desperdicei muito tempo”, diz. Os integrantes da CPI ainda pretendem se reunir com o MEC a fim de encontrar alternativas para os estudantes prejudicados.
Blog: O Povo com a Notícia
“Eu acho que tempo e sonho não têm valor. Mas, pelo menos, queria tentar recuperar o que perdi”, afirma. Ela revela que a decepção a fez abandonar a vontade de estudar. “Às vezes, à noite, eu nem consigo dormir. Fico pensando que desperdicei muito tempo”, diz. Os integrantes da CPI ainda pretendem se reunir com o MEC a fim de encontrar alternativas para os estudantes prejudicados.
Blog: O Povo com a Notícia