Os
primeiros resultados do pente-fino no programa Bolsa Família feito pelo governo
interino de Michel Temer levantaram indícios de fraudes cometidas por
cadastradores do programa, que estão associadas a desembolsos no valor de cerca
de R$ 100 milhões. Os cadastradores são, geralmente, funcionários das prefeituras
responsáveis por colocar os dados dos beneficiários no sistema.
Num dos casos que mais chamou a
atenção, um cadastrador conseguiu a proeza de fazer a adesão de cerca de 2,4
mil famílias beneficiárias em um único dia. A média diária, por funcionário, é
de 15 inclusões no programa. Há um longo questionário para ser registrado no
sistema a cada cadastramento de beneficiário. Em outro caso, um mesmo
colaborador cadastrou famílias residentes em 25 diferentes estados. Por mais
que beneficiários possam se mudar, sem interrupção do recebimento do recurso, o
fato suscitou a suspeita de fraude.
O governo não descarta a
possibilidade de ter sido feito um mutirão, com dezenas de colaboradores, para
se chegar à marca de quase 2,5 mil inclusões por dia. Apesar disso, o episódio
é inédito na história do programa e não condiz com boas práticas de gestão.
Um outro problema levantado no
pente-fino é a inscrição de dois cadastradores — um homem e uma mulher — com um
mesmo CPF. Para o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social
e Agrário, Alberto Beltrame, os indícios de fraude apontam qual deve ser o foco
da revisão no Bolsa Família:
— Não queremos identificar o
beneficiário que, por algum motivo, subdeclarou a renda, mas sim verificar onde
estão os grandes furos da gestão, que resultam, em última instância, nos
recebimentos indevidos. Estamos levantando dados prévios que vão ser mais bem
apurados. Já são R$ 100 milhões de pagamentos vinculados a essas coisas
estranhas.
BENEFICIÁRIO LARANJA: O pente-fino, motivado por uma
denúncia feita ao governo, é focado na gestão — e menos a busca de
beneficiários que mentem a renda para receber o Bolsa Família. Por causa de
reportagens recentes sobre fraudes, um morador da cidade de Santo Cristo (RS)
verificou, por meio da lista pública do programa, que seu nome constava como
beneficiário.
No cadastro, seus dados estavam
corretos, menos o rendimento. Ele aparecia, no sistema do Bolsa Família, que é
acessível ao público, sem qualquer fonte de sustento, o que não condiz com a
realidade. Ao verificar o registro, os funcionários do ministério confirmaram
que havia sido emitido um cartão do Bolsa Família no nome do gaúcho, e que dois
saques já tinham sido feitos. Depois disso, como não houve mais retiradas, a conta
foi bloqueada, embora tenha continuado a receber os depósitos mensais.
Blog: O Povo com a Notícia