Lula prevê que viverá dias
turbulentos. Indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de receber R$ 2,4
milhões em “vantagens ilícitas” da empreiteira OAS, ele dá de barato que será
denunciado pela força-tarefa da Lava Jato. De passagem por Brasília, nesta
sexta-feira, disse a um amigo não ter dúvidas de que o juiz Sérgio Moro acatará
a denúncia, convertendo-o em réu. Em conversa com o blog do Josias de Souza, o amigo
de Lula resumiu assim o drama que o atormenta: “Ele está deixando de ser dono
do seu destino político, a situação foge do seu controle.”
Após reunir-se com Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada,
Lula conversou com um grupo de senadores petistas no hangar em que tomaria o
jatinho de volta para São Paulo. Foram encontrá-lo, Jorge Viana (AC), Humberto
Costa (PE), Paulo Rocha (PA) e José Pimentel (CE). Na definição de um dos
congressistas, a notícia sobre o indiciamento deixou Lula “baqueado”. Ele
estranhou que a divulgação tenha ocorrido às vésperas da deposição de Dilma.
Enxergou na novidade uma motivação política. Irritou-se com a inclusão de sua
mulher, Marisa Letícia, no rol de indiciados.
As críticas de Lula à ação da Polícia Federal ecoaram uma
nota divulgada por seus advogados. Nela, os doutores Cristiano Zanin Martins e
Roberto Teixeira repudiaram as acusações do delegado federal Márcio Adriano
Anselmo, responsável pelo inquérito sobre o tríplex do Guarujá. Eles repisaram
o argumento segundo o qual o imóvel não pertence a Lula, mas à própria OAS.
Anotaram que o relatório do delegado tem “caráter e conotação políticos”.
Apelidaram-no de “peça de ficção.”
A guerra retórica que Lula e seus
defensores declararam à Polícia Federal está crivada de ironias. O morubixaba
do PT sempre se vangloriou da autonomia que a polícia adquiriu durante o seu
governo. Em dezembro de 2014, discursando numa homenagem ao ex-ministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos, que havia morrido, Lula enalteceu a transformação
que o amigo produzira no Departamento de Polícia Federal.
Sob o comando de Thomaz Bastos, “a ação da Polícia Federal
alcançou indistintamente ministros e ex-ministros, prefeitos e deputados de
diversos partidos, inclusive dos que apoiavam o governo”, discursou Lula. Nessa
época, ele trazia os lábios grudados no trombone: “O braço da lei, por meio da
polícia judiciária, passou a alcançar os ricos e poderosos.” Alvejado, Lula
parece lamentar que a PF tenha ampliado seu raio de ação para o nível
presidencial.
Correm na ‘República de Curitiba’ pelo menos mais dois
inquéritos contra o pajé do PT. Um deles, já em estágio avançado, envolve o
sítio de Atibaia, usado por Lula e reformado por um consórcio informal que
incluiu uma empresa do companheiro-pecuarista José Carlos Bumlai a Odebrecht e
a OAS. É contra esse pano de fundo que o amigo de Lula disse que ele “está
deixando de ser dono do seu destino político.” Ele continua insinuando que, se
o perturbarem muito, disputará novamente o Planalto. O problema é que seus
direitos políticos passaram a depender da Justiça.
Se Lula for condenado em segunda instância, ficará inelegível
por oito anos. Ou seja: o controle sobre o futuro eleitoral da única liderança
nacional do PT foi transferido para a mesa de Sérgio Moro e para o Tribunal
Regional Federal da 4a. Região, que julga em segundo grau os recursos movidos
contra sentenças do juiz da Lava Jato.
Blog: O Povo com a Notícia