Por Ricardo
Boechat - ISTOÉ
Ninguém pode afirmar que 2017 será pior do que este
que agora termina. Também é preciso ter bolas para apostar na hipótese
contrária. Na ausência de certezas, cabe lembrar que a favor de dias melhores
pesa um fato cronológico: a partir de 1º de janeiro começa a contagem
regressiva para 2018, quando eleições gerais poderão aplicar à realidade o
santo remédio que só o voto representa nas democracias. Ainda que nossa
experiência seja dolorosa nesse campo, como prova o lixo majoritário que
historicamente surge das urnas, algum avanço haverá de brotar do interesse dos
brasileiros pela política, num País onde todo o mal sempre foi atribuído à
“alienação do povo, focado apenas em futebol e carnaval”.
O ano que vem também justifica alguma esperança por
conta do avanço da luta contra a corrupção. Até aqui, as operações em curso,
com destaque para a Lava Jato, produziram gigantesco impacto, capaz de mudar o
amanhã; mas pode-se dizer que a efetividade dos processos, em parte por sua
própria dinâmica, ainda está devendo.
A prisão de empresários, executivos e políticos, bem
como a recuperação bilionária de ativos e a exposição do lamaçal partidário,
estão muito além do que jamais imaginamos. Mas os tubarões mais graúdos
continuam soltos, ricos e poderosos. Pelo andar da carruagem, a lei deverá
alcançá-los no curso de 2017, levando a faxina ao núcleo do mal.
Para reforçar essa possibilidade, na quarta-feira 21
surgiu a melhor notícia do Natal: o Departamento de Justiça dos EUA divulgou
suas investigações sobre as operações criminosas da Odebrecht no mundo. Além de
revelar que a empreiteira distribuiu R$ 3,4 bilhões em propinas, os promotores
garimparam três preciosidades: duas offshores nas Ilhas Virgens Britânicas e
uma em Belize, criadas para distribuir subornos em 12 países. A documentação
prova pagamentos a 14 figurões brasileiros, devidamente identificados. A
ladainha de que os investigados são vítimas de perseguição, conspiração
política ou linchamento moral vai virar pó quando a papelada vier ao sol.
Nada mal para o ano que chega.
Blog: O Povo com a Notícia