Uma
decisão da Justiça Federal na Paraíba (JFPB) que autorizou a Associação
Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), em João Pessoa, a manter o
cultivo e manipulação da maconha (Cannabis sativa) para fins medicinais, também
foi comemorada por pelo menos 60 famílias pernambucanas. Cerca de 10% das
famílias associadas à Abrace são do estado.
No Recife, a família de Alice Mucarbel, dois anos e oito
meses, recebeu a notícia com alívio. A menina tem síndrome de Aicardi, uma
doença genética rara caracterizada pela ausência parcial ou total do corpo
caloso (estrutura que faz a ligação entre os dois hemisférios do cérebro),
anomalias na retina e convulsões. Antes de começar a usar medicamentos, Alice
tinha cerca de 300 convulsões por dia. Com o uso do derivado da maconha, os
episódios diminuíram para no máximo quatro. Agora, a família pode receber o óleo
de canabidiol sem medo.
Até a deliberação judicial ser divulgada, a Abrace se valia
de uma liminar da Justiça paraibana para continuar fornecendo o óleo às
famílias associadas, entre elas a de Alice. "No entanto, sempre existia o
medo de a liminar ser derrubada e perdermos o direito", conta a advogada
Aline Mucarbel, 34, mãe da menina. A decisão de novembro confirmou a liminar de
27 de abril de 2017. À época, 151 famílias associadas foram atendidas pela
determinação. Hoje, a Abrace tem cerca de 600 pacientes associados (sendo 60
pernambucanos), que serão beneficiados.
Segundo Aline, a qualidade de vida da filha mudou
radicalmente desde que ela começou a fazer uso da substância. A mãe lembra que
os primeiros espasmos começaram a aparecer quando Alice tinha apenas 40 dias de
vida. “Nesse período, ela usou oito medicamentos. Chegou a tomar cinco remédios
por dia, quando as convulsões diminuíram de 300 para 20 diariamente. Foi quando
propomos à neuropediatra o uso do canabidiol. Com isso, o número baixou para
dois ou quatro por dia”, relata.
Mais do que diminuir as convulsões, o uso do canabidiol - uma
das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na maconha - “devolveu” a
menina ao convívio familiar. “Quando usava os medicamentos convencionais, ela
passava o dia dopada. Não conseguia interagir e não se alimentava. Agora, Alice
sorri, se alimenta e balbucia palavras como ‘mamãe’, ‘vovó’, ‘não’ e ‘papai’.
Isso não tem preço”, ressalta Aline.
Decisão histórica:
Blog: O Povo com a Notícia