Se para você parece improvável
que pessoas com deficiência física possam
voar, para um grupo de pilotos de paraglider a resposta é oposta. Uma equipe de
mais 10 pessoas, entre apoio técnico, instrutores e pilotos, tornou realidade à
prática do voo de parapente para mais de 50 cadeirantes, esse mês, na praia do
Sol, litoral da Paraíba. A ação, intitulada de “Eu não posso andar, mas posso
voar”, foi coordenada pelo publicitário e piloto Claudio Cardoso, mais
conhecido como Cloud, que mostrou que o céu é o limite para quem tem força de
vontade.
O projeto, que existe há três
anos, surgiu do desejo de Cloud em oferecer experiências diferentes à pessoas
com deficiência e as que não têm condições financeiras. Para ele, os voos são
como uma forma de superação e de afirmação de autonomia. “É algo incrível, pois
quando estamos lá em cima não somos cadeirantes ou andantes. Somos voantes,
somos pássaros”, pontua. “Quando você começa a fazer um voo duplo, a tua emoção
vai ao dobro, porque você sente a própria emoção de voar e a do outro. Quando
eu voei com um cadeirante, isso foi além, pois começa a passar pela sua cabeça
a superação que existe naquela pessoa”, completa o piloto que tem 18 anos de
experiência com voos.
Para facilitar o transporte, a
Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ), por meio da
Superintendência de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), disponibilizou a van
do programa PE Conduz para buscar alguns cadeirantes em casa e levá-los até o
ponto de encontro de onde partiram dois micro-ônibus adaptados, que foram
disponibilizados pela Secretaria Estadual de Educação (SEE) por meio de uma
parceria entre o órgão e a SDSJ. Ao todo, foram levados até a praia 25
cadeirantes em cada dia.
“O PE Conduz é um programa que
busca as pessoas de cadeiras de rodas em suas residências para tratamentos de
saúde e aos fins de semana as vans são usadas para proporcionar dias de lazer.
Ele é muito importante pois oferece condição às pessoas com deficiência e isso
tem mudado de forma significativa a vida delas”, afirma o superintendente da
Sead, Edimilson SIlva.
Para o secretário da SDSCJ,
Cloves Benevides, o evento quebra paradigmas em torno das pessoa com
deficiência. “Nenhuma limitação física é maior que a força de vontade e
a capacidade das pessoas de sonharem, de voarem alto, seja para desconstruir os
estigmas e garantir cidadania, seja para acessar o mercado de trabalho e campos
produtivos e assim por diante”, ressalta Cloves.
Uma van adaptada foi até Casa
Amarela, na Zona Leste do Recife, endereço da casa do paratleta Emídio
Fernandes, um dos nomes que participou da ação. Aos 55 anos de idade e
convivendo com a deficiência desde a infância, ele conta que nunca se limitou a
nada, mas que a ideia de voar era algo que acreditava ser impossível. “Sempre
gostei de esportes radicais, então não iria perder essa oportunidade de voar.
Faço atletismo, natação, corrida de bicicleta, sou jogador de vôlei, faço tudo.
Dê uma chance, que eu aproveito”, afirma. “O defeito da sociedade é achar que
nós não temos capacidade. Qualquer esporte eu posso praticar, basta apenas ser
adaptado. Tive paralisia infantil aos 10 meses e sempre fui assim. Aqui não tem
ninguém incapaz, mas apenas com limitações e que a gente vai ultrapassando dia
após dia”, completa.
A segunda parada da equipe do
PE Conduz foi na Iputinga, bairro onde mora Walmir Barbosa. Com o sonho de ser
piloto de caça da Força Aérea, ele aceitou o convite de participar da ação como
uma realização do desejo de voar, algo que desde criança almejava. “Quando
criança sonhava em voar para ir à caça dos extraterrestres, mas nunca imaginei
que poderia fazer algo assim. Quando soube da ação, de início, fiquei um pouco
receoso por conta da minha deficiência que é mais complexa. Sou tetraplégico e
a expectativa maior é em saber como esse voo vai acontecer”, pontua.
PE CONDUZ: O programa PE Conduz é um
serviço gratuito do Governo do Estado que atua no Grande Recife, nos polos do
Agreste Central, nas Zonas da Mata Norte e Sul e no Sertão do São Francisco,
atendendo pessoas com deficiência em vans adaptadas. Nos fins de semana são
promovidas rotas de lazer com os usuários. Em 2017, 45 vans percorreram os 18
municípios pernambucanos levando uma média de 600 usuários por mês.
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