Apesar da instalação de filtros
de contenção no rio Paraopeba e a expectativa de que a represa de Três Marias,
na região central de Minas Gerais, retenha a lama de rejeitos liberada pelo
rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a possibilidade de o material
atingir o rio São Francisco não está descartada. As informações são do jornal O
Globo, que ouviu especialistas da Fiocruz, os quais discutiram, na manhã desta
terça-feira (5), os impactos da tragédia de Brumadinho na saúde pública.
Caso a hipótese se confirme, a contaminação poderá afetar um número muito
maior de pessoas. “A grande questão agora é se essa água contaminada alcançará
também o Rio São Francisco. Vai ser um perigo. Várias cidades da Bahia,
Alagoas, Sergipe e Pernambuco usam a água do São Francisco”, alerta Christovam
Barcellos, pesquisador Instituto de Comunicação e Informação Científica e
Tecnológica em Saúde e doutor em Geociência.
E acrescenta: “Terá que ser mantido um programa muito bem executado de
vigilância da qualidade da água, principalmente para metais pesados, o que não
é rotina. Possivelmente chegará à represa de Três Marias (na região do São
Francisco)”.
O governo federal informou poucos dias depois da tragédia que trabalhava
com a hipótese de a lama não chegar à baía de São Francisco. E, a Vale chegou a
instalar três filtros para conter os rejeitos. “A colocação de barreiras no rio
é uma medida paliativa que não vai reter esses elementos tóxicos da água”,
alerta o cientista. “Não existe maneira de barrar a lama. Talvez a represa de
Três Marias, por ser grande, retenha a lama. Se isso acontecer, a própria
represa se tornará um problema daqui por diante, porque ela estará com o fundo
carregado de metais pesados”.
A composição exata dos rejeitos da barragem que rompeu em Brumadinho ainda
não é conhecida. O governo de Minas Gerais coletou amostras e deve divulgar os
resultados em 15 dias. Além dos efeitos imediatos, como náuseas, vômitos e
dermatites, a contaminação com metais pesados pode causar transtornos
neurológicos a longo prazo, a depender da concentração.
Técnicos da Fundação SOS Mata Atlântica informaram que as barreiras de
contenção da Vale não seguraram todo o rejeito que avança pelo rio Paraopeba
rumo ao rio São Francisco. A SOS Mata Atlântica faz uma expedição para avaliar
os danos ao Rio Paraopeba, e percorrerá 356 quilômetros do curso do rio. Em 11
pontos de análise já analisados, a qualidade da água é péssima. A equipe
realizou medições antes e depois das membranas, para avaliar sua efetividade.
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