O opositor Juan Guaidó chegou neste domingo (24) a Bogotá para
intensificar a pressão contra o governo de Nicolás Maduro, após a fracassada
operação de envio de ajuda à Venezuela, cuja repressão resultou na morte de
duas pessoas e centenas de feridos nas fronteiras do país com Brasil e Colômbia,
provocando o repúdio internacional.
Guaidó, há um mês autoproclamado presidente interino da Venezuela e
apoiado por 50 países, chegou à capital colombiana para participar da reunião
do Grupo de Lima, na segunda-feira, que contará com a presença do vice-presidente
americano, Mike Pence.
"Hoje, a Venezuela se levanta novamente com uma crise que poderia
ter sido aliviada no dia de ontem", disse, ao chegar a Bogotá.
Após a fracassada operação com que pretendia levar a ajuda internacional
doada pelos Estados Unidos e seus aliados para mitigar a pior crise na história
moderna da Venezuela, Guaidó pediu à comunidade internacional para deixar
"em aberto todas as opções para conseguir a libertação".
E neste domingo, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, advertiu
que os dias de Maduro "estão contados".
O líder opositor antecipou que discutirá em Bogotá com os chanceleres
das 14 nações americanas do grupo "possíveis ações diplomáticas"
contra Maduro.
Será a primeira vez que o bloco, criado em 2017 para promover uma saída
para a crise venezuelana, vai deliberar diretamente com Guaidó.
A aliança de 13 Estados latino-americanos e o Canadá reuniu-se pela
última vez em 4 de fevereiro, em Ottawa. Na ocasião, 11 países pediram uma
mudança pacífica de governo, pediram aos militares pare reconhecerem Guaidó e
permitir a entrada de ajuda.
"O legítimo governo da Venezuela se integra formalmente ao Grupo de
Lima", destacou o presidente colombiano, Iván Duque.
Novos
confrontos
Duque
visitou neste domingo as pontes internacionais Simón Bolívar e Francisco de
Paula Santander, epicentros dos violentos enfrentamentos de sábado.
Dezenas de
venezuelanos que tinham cruzado a fronteira para participar da caravana de
passagem da ajuda humanitária ficaram bloqueados ali.
Do lado colombiano,
era visível a forte presença policial, com conflitos constantes entre
manifestantes e guardas venezuelanos, embora em menor escala que na véspera.
Nicolasa Gil
chegou a Cúcuta vinda de Mérida. Frágil e fraca, esta mulher de 71 anos, passou
a noite em uma rua próxima à ponte Francisco de Paula Santander. "Me
assusta passar para o meu país porque estamos mais seguros aqui do que
lá", disse à AFP.
Dentro da
Venezuela, em povoados fronteiriços com a Colômbia e o Brasil, onde na véspera
foram registrados distúrbios, também foram registrados conflitos entre
manifestantes encapuzados e forças estatais, enquanto grupos armados
irregulares semeavam o medo.
Maduro se
opõe à entrada da ajuda por considerá-la o início de uma intervenção militar
americana. O presidente Donald Trump disse que não descarta nenhuma opção na
Venezuela.
Os
enfrentamentos entre manifestantes e forças chavistas deixaram no sábado 285
feridos na Colômbia, dos quais 255 venezuelanos, e pelo menos dois mortos no
estado de Bolívar, limítrofe com o Brasil. Além disso, dois caminhões
carregados com insumos foram incendiados.
Na
sexta-feira, uma mulher havia morrido em confrontos nesta região.
O
secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se declarou "comovido"
neste domingo com a morte de civis e pediu que se evite a violência.
A Alta
Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachellet, por
sua vez, condenou "o uso excessivo da força contra manifestantes
desarmados". Estados Unidos, União Europeia e vários países
latino-americanos também rejeitaram estes ataques.
O governo de
Maduro, apoiado por Moscou e Havana, conseguiu fazer recuar a operação que
pretendia fazer entrar a ajuda na Venezuela.
Asfixiadas
pela escassez de comida e remédios e pela hiperinflação, 2,7 milhões de
venezuelanos emigraram desde 2015, segundo a ONU.
Chavismo
canta vitória
Acompanhado
por generais leais a Maduro, o poderoso líder chavista Diosdado Cabello
considerou uma "vitória" que a assistência não tenha entrado.
"Não
passou nenhum caminhãozinho de ajuda", disse neste domingo, durante um ato
em San Antonio del Táchira, limítrofe com a Colômbia. "Agimos de forma
muito inteligente, segurando e afrouxando, até chegar à vitória",
manifestou.
Com o
fracasso da entrada da ajuda, Guaidó saiu enfraquecido, afirmam analistas,
apesar de em meio aos confrontos uma centena de militares e policiais terem
desertado, passando para o lado colombiano da fronteira. Segundo fontes
brasileiras, outros dois sargentos venezuelanos pediram refúgio no Brasil.
"Guaidó
sai enfraquecido" porque depois do ocorrido "não está muito
claro" que o apoio que ele tem em sua terra "seja maciço",
afirmou o internacionalista Rafael Piñeros.
O opositor
disse ter um milhão de voluntários dispostos a transportar e zelar pela ajuda,
mas a participação foi muito menor.
Guaidó
cruzou a fronteira com a Colômbia na sexta-feira, apesar de uma restrição da
Justiça ligada ao chavismo que o impedia de deixar o país, e não se sabe como
ele vai vontar.
Segundo
Duque, ele retornará à Venezuela: "Como o presidente da Venezuela não vai
voltar ao seu país?".
A tentativa
de transporte da ajuda a partir da Colômbia levou Maduro a romper relações com
Bogotá, praticamente congeladas desde 2017. A oposição também tentou levou
ajuda a partir de Brasil, Porto Rico e Curaçao.
O governo
colombiano determinou o fechamento das quatro passagens fronteiriças que ligam
o departamento de Norte de Santander com a Venezuela durante 48 horas para
avaliar os danos provocados pelos distúrbios. (Via: AFP)
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