O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quebrou seu jejum de cerca de sete meses sem falar com a imprensa na porta do Palácio da Alvorada para responder a algumas perguntas sobre vacina contra Covid-19 na manhã desta sexta-feira (22).
Acompanhado de deputados da bancada ruralista que tomaram café da manhã com ele, Bolsonaro disse que, caso as 2 milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca cheguem ao Brasil nesta sexta (22), serão distribuídos já no sábado (23).
"Pode ter certeza que a Aeronáutica está aí
pronta para servir ao Brasil mais uma vez. E esta vacina, amanhã mesmo, se
chegar hoje à noite, amanhã mesmo começando a chegar a seus destinos",
afirmou Bolsonaro em entrevista à CNN.
Acuado desde o fim da semana passada diante das
críticas à condução de seu governo no enfrentamento da pandemia de coronavírus,
Bolsonaro tem tentado se livrar das acusações de que é responsável pelo caos
sanitário em Manaus e pelo atraso na imunização no país.
Nesta sexta, chegou a dizer que não era contra a
vacinação e se irritou quando uma jornalista o indagou sobre uma declaração
antiga de que, segundo levantamento próprio e sem qualquer base científica,
menos da metade da população não queria se imunizar.
"Olha, eu vou acabar a entrevista
assim", reagiu o presidente.
Mas, ao longo da manifestação à imprensa,
Bolsonaro emitiu novos sinais contrários sobre vacinação - ora falou a favor
ora lançou dúvida sobre os imunizantes.
"Nós entregamos [o primeiro lote de vacina]
tão logo a Anvisa aprovou... Esta era a minha oposição, né? Pessoal diz que eu
era contra a vacina. Eu era contra a vacina sem passar pela Anvisa. Passou pela
Anvisa, eu não tenho mais o que discutir, eu tenho que distribuir a vacina",
afirmou aos repórteres.
Logo em seguida, colocou em dúvida a credibilidade
de imunizantes.
"O que tenho observado é que ainda tem muita
gente que tem preocupação com a vacina. E deixo bem claro: ela é emergencial.
Eu não posso obrigar ninguém a tomar a vacina, como um governador, há um tempo
atrás, falou que ia obrigar. Eu não sou inconsequente a este ponto", disse
Bolsonaro, numa referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que
começou a imunização em seu estado um dia antes do governo federal.
Bolsonaro reiterou que a vacinação tem que ser
voluntária. "Afinal de contas, não está nada comprovado cientificamente
com esta vacina ainda", afirmou, ignorando a aprovação pela Anvisa.
"Peço que o pessoal leia -não é a bula, mas
eu chamo de bula- os contratos com as empresas para tomar pé daonde chegaram as
pesquisas e porque não se concluiu ainda dizendo que é uma vacina perfeitamente
eficaz."
E, logo depois, voltou a falar positivamente sobre
a vacina.
"Pelo que tudo indica, segundo a Anvisa, ela
vai ajudar aí que casos graves não ocorram no Brasil [em] quem for
vacinado", disse Bolsonaro.
Assim como fez em sua live semanal, Bolsonaro
voltou a negar que problemas diplomáticos sejam entraves com a Índia e,
principalmente, com a China, país de onde vem o insumo para a produção da
Coronavac no Brasil.
"Nunca houve qualquer estremecimento nas
relações entre Brasil e China e entre Brasil e Índia. A China precisa de nós e
nós precisamos da China. E o mundo é assim. Jamais fechamos as portas, seja
para qual país for. Estamos sempre prontos a atender os interesses nacionais e
obviamente, né, preservar aquilo que temos de mais sagrado aqui que é nossa
soberania", afirmou.
No entanto, quando questionado se estava em
contato com autoridades chinesas, Bolsonaro limitou-se a responder que não
divulga suas conversas, embora em suas redes sociais haja registros de diálogos
que manteve pessoalmente ou virtualmente com representantes de outros países.
Bolsonaro concedeu a entrevista ao lado de deputados
da bancada ruralista simpáticos a ele. O grupo tomou café da manhã no Palácio
da Alvorada. O compromisso não constava da agenda oficial do presidente até a
última atualização desta reportagem e a lista dos presentes também não havia
sido divulgada.
"Nós trabalhamos em parceria. Não existe
Executivo e Legislativo isolados. Não existe. Trabalhamos em parceria para o
bem do nosso Brasil. O que eles puderem ajudar, como alguns têm ajudado, sei
disso, de forma voluntariosa até, buscando soluções, eu agradeço. Tudo o que
vier a favor de nós atendermos nosso povo no tocante a vacinação, eu
agradeço", disse Bolsonaro.
O
café da manhã, que contou também com a presença da ministra Tereza Cristina
(Agricultura), também abordou a eleição para presidente da Câmara, que acontece
em fevereiro. Bolsonaro vinha cobrando apoio dos representantes do agronegócio
ao deputado Arthur Lira (PP-AL), seu candidato.
"Nós do agro somos Arthur Lira declarado,
aberto e, se Deus quiser, venceremos para poder tocar em frente os projetos
cerceados pelo antigo presidente", disse o deputado Nelson Barbudo
(PSL-MT), em referência ao deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), em um discurso
durante o café da manhã. O trecho da fala foi divulgado na rede social de uma
parlamentar que também participou do encontro.
"Viemos declarar ao presidente Bolsonaro que
a Frente Parlamentar [da Agropecuária], se não toda ela, mas a grande maioria
dos seus membros está alinhada neste projeto na presidência da Câmara",
disse o vice-presidente da bancada ruralista, deputado Neri Geller (PP-MT). (Via: Folhapress)
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