A única solução contra o colapso do sistema de saúde pública do Amazonas é a transferência de 1.500 pacientes das unidades de saúde do estado para hospitais de outros estados, afirmou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em um evento de recepção a 108 novos médicos contratados pelo ministério para atuarem na saúde básica de Manaus, nesta sexta (29).
Desde o início das transferências, iniciadas dois dias depois dos hospitais de Manaus entrarem em colapso por falta de oxigênio, até esta sexta (29), a força-tarefa montada pelos governos estadual e federal transferiu 320 pacientes. Pelos cálculos do ministro, é preciso transferir ainda 1.180 pessoas.
"Se não removermos 1.500 pessoas do
atendimento especializado, vai continuar morrendo de 80 a 100 pessoas por dia
porque não há UTIs e não se cria uma UTI do dia para noite. Aumentar leitos,
trazer oxigênio, criar UTIs... quantas? 20, 30? Eu tenho que remover 1.500 pacientes.
Não vou montar 1.500 leitos de UTI nunca em Manaus", justificou o ministro.
Pazuello afirmou que o Ministério da Saúde está
"trabalhando para estabilizar o [fornecimento] de oxigênio", mas que
até lá a capacidade de atendimento da rede especializada de saúde, que
inclui os quatro hospitais de referência para Covid-19 em Manaus, continuará
limitada.
A transferência de pacientes para outros estados,
reduzindo a demanda por oxigênio e leitos, é a forma mais rápida de normalizar
o fornecimento, diz o ministro.
A
falta de oxigênio também afeta as unidades de saúde do interior do estado, onde
não existem leitos de UTI.
Lá, pacientes estão morrendo sem o tratamento
adequado à espera de transferência, segundo a Defensoria Pública do Estado, que
na última quinta (28) conseguiu uma liminar judicial determinando que o governo
do Amazonas transfira seis pacientes em estado grave para UTIs de Manaus ou
outros estados até o fim desta sexta (29).
Atualmente, 612 pessoas aguardam na fila por um
leito nos hospitais de referências da capital, 73 delas à espera de um leito de
UTI. Dos pacientes que estão nessa fila, 125 são do interior do estado e 36
deles precisam de leito de UTI. Em Manaus, a taxa de ocupação dos leitos de UTI
é de 90% e, para leitos clínicos, 101%.
Pazuello disse que a situação dos pacientes do
interior é a mesma dos da capital. "'Ah, porque o interior está
impactado!' O Amazonas está impactado. A fila é única. Não há um leito de UTI.
A remoção é a única solução", disse.
O ministro atribuiu o aumento explosivo de casos à
intensificação do período chuvoso no Amazonas, à detecção da linhagem p.1.,
identificada geneticamente pela Fiocruz e presente em mais de 90% dos casos de
Covid-19 registrados em Manaus este mês, e à baixa cobertura da saúde básica.
"O inverno chuvoso está ligado diretamente ao
agravamento das Srags [Síndromes Respiratórias Agudas Graves] e a Covid é uma
delas. Para piorar, Manaus foi premiada com uma nova linhagem do coronavírus.
Essa nova linhagem, por observação, define um contágio até três vezes mais
rápido", afirmou Pazuello, durante evento de recepção aos 108 médicos
contratados pelo Ministério da Saúde para reforçar o atendimento na rede básica
de Manaus.
No entanto, o próprio Ministério da Saúde diz que
o tempo seco traz mais problemas respiratórios.
O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante),
afirmou que a contratação dos 108 médicos pelo governo federal vai preencher
uma lacuna deixada por 143 médicos afastados por terem contraído Covid-19.
Considerando também enfermeiros, técnicos de
enfermagem e outras funções da linha de frente, a prefeitura contabilizou 1.346
servidores da saúde afastados em meio a um aumento da procura por atendimentos.
"Nos 26 primeiros dias foram atendidos 156
mil pacientes só nas Unidades Básicas de Saúde Covid. Nos primeiros dias de
2021 fizemos mais exames RT-PCR do que em todo o ano passado", relatou
Almeida.
O secretário de atenção básica do Ministério da
Saúde, Raphael Parente, informou que a pasta também abriu um edital para a
contratação emergencial de 52 médicos para atuar em unidades de saúde do
interior do estado. A previsão é que os médicos comecem a trabalhar dia 9 de
fevereiro.
O evento, que era fechado para a imprensa, foi
transmitido pelas redes sociais da prefeitura de Manaus e do Ministério da
Saúde, com cerca de uma hora de atraso.
Apesar dos jornalistas não poderem acompanhar nem
fazer perguntas ao ministro, que está no centro de uma investigação do STF
sobre sua conduta na gestão da crise em Manaus, ou ao prefeito David Almeida,
que nesta semana foi alvo de um pedido de prisão e afastamento do Ministério
Público do Amazonas por suspeita de irregularidades na vacinação, um grupo de
vereadores e 20 dos 108 médicos estavam presentes. Todos seguindo os protocolos
de distanciamento, segundo a prefeitura.
O ministro, que está em Manaus desde sábado (23),
deve retornar a Brasília ainda nesta sexta (29). (Via: Folhapress)
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