Discutida desde o fim do ano passado nos bastidores do governo, a aguardada reforma ministerial foi tornada pública ontem pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Mesmo admitindo estar alijado das decisões, o vice afirmou que trocas no primeiro escalão podem ocorrer após a eleição no Congresso marcada para a próxima segunda-feira.
Uma das alterações avaliadas pelo presidente Jair Bolsonaro é a volta do atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, para o Palácio do Planalto. Ex-chefe da Casa Civil, ele deve ficar com a Secretaria-Geral da Presidência. Assim, a pasta da Cidadania, que controla o Bolsa Família e pagou o auxílio emergencial, fica disponível para ser entregue ao centrão. Parlamentares de partidos aliados, incluindo o candidato do Planalto à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendem a continuidade do benefício pago durante a pandemia- da Covid-19, o que turbinaria ainda mais a pasta.
A declaração de Mourão foi dada em entrevista à Rádio Bandeirantes. Ele estimou que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode ser um dos substituídos na reforma ministerial.
— Não tenho bola de cristal, nem esse assunto foi discutido comigo. Mas em um futuro próximo, depois da eleição dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada uma nova composição política que emergir desse processo. Talvez com isso aí alguns ministros sejam trocados, entre eles, o próprio Ministério das Relações Exteriores, disse Mourão.
Auxiliares diretos de Bolsonaro negam que há intenção de demitir Araújo, mesmo com as pressões sofridas pelo chanceler. Para eles, a declaração do vice-presidente externou apenas um desejo do núcleo militar do governo.
Em um almoço ontem com cantores sertanejos em uma churrascaria de Brasília , Bolsonaro disse que está “fazendo o melhor” escolhendo ministros. No discurso, elogiou os auxiliares presentes, e fez uma deferência especial a Araújo:
— Temos também outro importante ministro das Relações Exteriores, o Ernesto Araújo. Se leva tiro o tempo todo dessa imprensa que está aí, é sinal que está no caminho certo.
A possibilidade de reacomodar Onyx no quarto andar do Planalto, a alguns passos do gabinete presidencial, passou a ser cogitada após ele, que é filiado ao DEM, ter articulado para que Arthur Lira ganhasse apoio dentro da legenda na disputa pela presidência da Câmara. O movimento criou um racha no partido do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), que apoia Baleia Rossi (MDB-SP). ACM Neto, presidente do partido, conversou com Onyx recentemente e, ouvindo os apelos da ala governista do partido, optou pela neutralidade.
Com esta movimentação, Onyx ganhou Lira como aliado, que a interlocutores critica o excesso de militares com assento no governo. Bolsonaro também vem relatando reservadamente que está sentindo falta de auxiliares políticos mais próximos.
Atualmente, três generais ocupam pastas no Planalto: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto, que substituiu Onyx na Casa Civil em fevereiro do ano passado. Já a Secretaria-Geral está sendo comandada interinamente por Pedro Cesar Nunes, subchefe de Assuntos Jurídicos, desde que Jorge Oliveira tomou posse como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) no fim do ano passado.
“99% certo”
Dois integrantes do governo disseram que a decisão da volta de Onyx para o Planalto já é tratada como definitiva. Outro, por sua vez, diz que a situação é considerada “99% certa” e lembrou que neste governo “nada está totalmente acertado até estar no Twitter.”
Onyx se reuniu anteontem com Bolsonaro no gabinete presidencial. Foi o terceiro encontro neste ano. Ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o ministro foi questionado sobre mudar de pasta e respondeu:
— A camiseta que ele me der eu vou jogar. A gente tem um objetivo de ajudar o Brasil e transformar o Brasil. Então, onde ele julgar que eu possa ajudar mais eu vou estar lá.
Também conta a favor de Onyx o fato de ele ter sido um dos principais articuladores políticos da candidatura de Bolsonaro em 2018. E, segundo interlocutores do governo, poderia novamente ser aproveitado para organizar o projeto da reeleição de 2022.
O ministro iniciou a gestão como o homem forte do governo, mas aos poucos foi sendo esvaziado e até pouco tempo era dado como certo que perderia a pasta da Cidadania e voltaria para a Câmara. (Via: O Globo)
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