Matheus Quidute voltou a relatar situações dramáticas vividas com pacientes infectados com a Covid-19.
O programa A Tarde é Sua da Rádio Pajeú, ouviu nesta quinta-feira (21), o médico afogadense Matheus Quidute, que atua na linha de frente de combate a pandemia provocada pelo novo coronavírus em hospitais do Recife. Hoje, ele tem atendido, além de no IMIP, no Santa Joana e no Hospital Esperança Recife.
O médico revelou como está a real situação dos hospitais da
capital e demonstrou preocupação com os casos de internamento por
Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sirags), que tem aumentado em todo o estado.
“Estamos exaustos dessa rotina que já vem aí há quase um ano.
Por aqui, desde o final de dezembro vem tendo um importante crescimento de
casos, que voltaram a lotar as UTIs, tanto dos hospitais públicos como nos
privados e estamos revivendo aquele ‘bum’ do ano passado”, relatou Matheus.
Ele disse que a situação é preocupante, porque os
profissionais da saúde têm encontrado casos graves e que, apesar de terem
aprendido a lidar melhor com a doença, às vezes não têm muito o que
fazer.
“Mesmo agora sabendo conduzir de forma mais profissional, com
mais conhecimento, mais embasamentos técnicos e científicos, chega um ponto em
que não temos mais o que oferecer ao paciente, a não ser, esperar uma reação do
organismo contra a Covid-19”, afirmou.
Matheus relatou o caso de um paciente transferido de Manaus
para o Recife. “Comparamos duas tomografias deste paciente. Em dois dias ele
piorou de 25% para 80% do acometimento do pulmão”, relatou Quidute.
Ele revelou que não existe um controle cem por cento do
vírus, da forma como ele vai agir no corpo humano. “Temos o que fazer, mas, ao
mesmo tempo, isso depende de como cada pessoa vai responder”, revelou
Matheus destacando a imprevisibilidade da doença. “Você pega dois pacientes com
perfis idênticos. Um não é intubado e se recupera, o outro é intubado e evolui
à óbito”, completou.
Quidute lembrou que o programa de vacinação é longo e
destacou que não é porque a pessoa se vacinou que pode sair por aí descumprindo
os protocolos sanitários. Lembrou a situação de calamidade que vive o estado do
Amazonas e chamou as pessoas a terem consciência. “Não tem jeito. O melhor
combate é a prevenção. Continuar higienizando corretamente as mãos, usando a
máscara e o principal, evitar aglomerações.
O médico ainda relatou outros casos comoventes vivenciados
por ele. “Um casal estava internado em estado grave na UTI do Santa Joana por
conta da Covid-19. Ele faleceu, ela ainda está em estado gravíssimo na UTI”,
relatou.
Outro relato foi de uma paciente que foi internada e o marido
havia falecido há uma semana por conta de complicações com a Covid-19. “Ela
pediu para que cuidassem dela antes de intubar. Foi intubada, teve um
sangramento grave pelo sistema nervoso central e entrou em protocolo de morte
encefálica”, lembrou.
“São muitos os relatos. Pacientes que vão ser intubados e
começam a chorar porque as pessoas já sabem que o fato de você estar indo pro
tubo, tem 50% de chances de sair ou não”, disse.
“O coronavírus não escolhe endereço, nem classe social. Não
escolhe nada. Temos que conviver com situações tristes e constrangedoras que
deixam a gente com uma visão diferente da vida. É triste demais”, desabafou.
Provocado a dar uma nota entre 1 e 10 com relação à responsabilidade
da população para o agravamento da pandemia, o médico deu 11.
Questionado, enquanto médico, como se sentia ao ver pessoas
se aglomerando em festas, Quidute deu um riso de nervoso e disse acompanhar com
tristeza e revolta um perfil no Instragram que divulga festas clandestinas, que
tem acontecido desde as comemorações da virada de ano.
“Você vê colegas postando isto. Mesmo estando na linha de
frente. Estão sendo coniventes com esse tipo de evento. Então, a gente olha
para esses eventos e vê que essas pessoas vão chegar em casa e podem infectar o
pai, a mãe, os avós, tios… atendemos várias situações de famílias todas
contaminadas porque baixaram a guarda no ano novo, e aí depois fica se
lamentando, constrangidos com a situação”, criticou o médico.
Matheus lembrou de ter ficado muito constrangido, ao ver
colegas de profissão que participaram destes eventos e postaram nas redes
sociais. “Eu vivenciei colegas aí da região, que participaram de eventos nestas
últimas semanas e postaram nas redes sociais, isso é revoltante e depois tá se
vacinando… é uma coisa que não tem lógica, mas cada um que tenha consciência de
seus atos. E que responda por eles”, asseverou Quidute.
Matheus também criticou pessoas que tem usado de poder
econômico e conhecimento para furar as filas de vacinação país afora. “Isto é
revoltante, é um absurdo, desumano, é egoismo puro”, pontuou. (
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