Uma doença nova altamente contagiosa na era das redes sociais e da informação rápida e muitas vezes imprecisa. O resultado é desinformação, mentira, fake news ou algum outro sinônimo ao gosto do freguês.
Dos remédios milagrosos —que não funcionam— aos absurdos de que máscara e vacinas fazem mal, abaixo estão algumas das mentiras mais ouvidas na pandemia e como combatê-las.
Há, no momento, somente drogas que conseguem ter impacto sobre o curso da doença. A grande pesquisa Recovery demonstrou que o corticoesteroide dexametasona reduz a mortalidade em pacientes com Covid grave.
O anticorpo monoclonal tocilizumabe foi outra droga a apresentar resultados positivos. No estudo Recovery, a droga mostrou efeito em pacientes hospitalizados com hipóxia (baixa oxigenação no sangue) e quadro de inflamação, diminuindo o tempo de internação, necessidade de ventilação invasiva e mortalidade. Mas, ao contrário da dexametasona, o tocilizumabe é caro e possui menor disponibilidade.
As duas drogas têm ação e objetivo semelhantes: reduzir a inflamação dos pacientes graves, que costumam ter quadros de tempestade inflamatória, na qual o corpo ataca a si mesmo.
Outros medicamentos ainda estão em estudo.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o próprio Ministério da Saúde, apesar das evidências contrárias, incentivaram e indicaram o uso dessas drogas contra a Covid.
Algumas delas, de início, em testes in vitro, mostravam-se interessantes para análise em pesquisas em humanos. Tais estudos foram realizados e não encontraram efeitos benéficos. Dessa forma, esses medicamentos não fazem parte das orientações de tratamento das principais entidades de saúde nacionais e internacionais.
Um caso curioso é o da ivermectina. Até mesmo a indústria farmacêutica que desenvolveu a droga, a Merck (MSD, no Brasil) veio a público afirmar que estudos mostram não haver benefício no uso do vermífugo contra a Covid.
Nesta quarta (31), a OMS afirmou que a droga não deve ser usada fora de testes clínicos e que se deve combater a prescrição indiscriminada do remédio sem eficácia, o que pode trazer mais malefício do que benefício.
Vale destacar que a verificação de efeito de uma droga se dá por estudos duplo-cegos, randomizados e com grupo controle. Assim, é possível minimizar vieses que possam interferir no resultado da pesquisa.
Um exemplo simples é o caso da aspirina e da dengue. A droga, amplamente conhecida, não é indicada para a doença transmitida pelo Aedes aegypti pelo maior risco de sangramentos.
Já há documentação de hepatites medicamentosas derivadas do uso do “kit Covid” —o que levou um paciente do interior de São Paulo à lista de transplante de fígado. Também há relatos de mortes, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Essas drogas estão sendo prescritas —mesmo sem evidência científica de suporte— em doses e frequências normalmente não estudadas.
O vírus se conecta a um receptor específico, o ECA2, que está presente em células do sistema respiratório, intestino, rins e vasos sanguíneos. Nessas áreas, o efeito do invasor para destruir as células é direto e localizado.
A presença do vírus desencadeia a tempestade de citocinas, proteínas que regulam a resposta imunológica, e que surgem para ajudar o corpo a se defender do invasor. Mas em alguns casos essa resposta pode ficar descontrolada e atrair mais células inflamatórias para a região, o que prejudica ainda mais os órgãos afetados pelo vírus.
Recentemente, tem sido observado um aumento substancial de jovens internados em UTI. Há também a questão de possíveis sequelas da Covid, tema ainda não totalmente compreendido e estudado.
No Brasil, em regiões onde o Sars-CoV-2 teve grande circulação, como em Manaus, também não se viu a propagandeada imunidade de rebanho ao mesmo tempo em que houve níveis de mortes altíssimos, colapso do sistema de saúde, e falta de oxigênio e drogas para intubação.
A ideia se mostra , portanto, inviável pelo tamanho da perda humanitária que acarretaria.
Algumas reportagens também mostram dados de mortes do Registro Civil, que, mesmo com algum grau de atraso, reforçam a gravidade e os números elevadíssimos de óbitos por Covid.
Mas não tardou até que surgissem desinformações sobre a sua forma de ação e até mesmo vídeos em que supostos médicos ou especialistas alegam que as vacinas são capazes de modificar o material genético dos humanos.
Na verdade, pelo próprio mecanismo de ação, é impossível que as vacinas de RNA alterem nosso DNA celular pois elas nem sequer têm contato com o núcleo das células, onde está a nossa informação genética.
O RNA das vacinas vem empacotado em uma vesícula de lipídeos (gordura) capaz de entrar na membrana celular. Dentro das células, o RNA mensageiro carrega uma mensagem, no caso o código para a produção da proteína S do Spike, e ao ser lido (“traduzido”), várias cópias dessas proteínas virais são produzidas. Essas proteínas virais são reconhecidas como corpos estranhos (antígenos) e induzem à resposta imune.
A partir daí, a resposta imune é igual à que seria gerada caso fossem utilizadas vacinas mais tradicionais, como aquelas que usam fragmentos do vírus ou o vírus morto.
Em março de 2021, foram reportados casos de coágulos em pessoas vacinadas com a vacina da Oxford em diversos países europeus.
O número de casos, no entanto, era muito pequeno e, após uma análise da agência regulatória europeia, concluiu-se que o imunizante não está associado a um aumento do risco geral de coágulos nas pessoas vacinadas, tampouco foi possível comprovar que a vacina tenha provocado os casos.
No Brasil, a ocorrência de efeitos adversos graves nos vacinados corresponde a 0,007%, segundo dados do Ministério da Saúde, considerando ainda as duas vacinas aplicadas, a Coronavac e a da Oxford/AstraZeneca. Ambas têm se mostrado seguras e os efeitos mais comuns reportados são dores de cabeça, dores no corpo e fadiga.
Além disso, aumentou a colaboração mundial entre cientistas em busca de vacinas. O fato de milhares deles estarem pesquisando o mesmo assunto aumentou a chance de que alguns estudos dessem certo.
Por fim, agências reguladoras e governos agilizaram autorizações para os testes clínicos e foi mais fácil achar dezenas de milhares de voluntários para as pesquisas, ainda mais ao se levar em conta os elevados números de infectados no mundo.
Esse esforço fez com que as vacinas pudessem ser criadas muito mais rápido que foram para outras doenças. Apesar disso, os imunizantes seguiram todas as etapas de testes clínicos, de segurança e de registro por autoridades sanitárias, no caso daquelas que já foram autorizadas.
As máscaras devem ser feitas com materiais que filtram as partículas maiores, mas ainda permitam a passagem do ar para não haver risco de sufocamento. Elas devem ser usadas bem ajustadas, sem espaços entre a máscara e o rosto.
Para funcionar, a máscara precisa estar seca e bem ajustada ao rosto. Especialistas recomendam respiradores do tipo PFF2 (N95) para situações de maior risco.
Um exemplo de lockdown bem sucedido vem da cidade de Araraquara (a 273 km de São Paulo), que viu as mortes causadas pela Covid-19 caírem drasticamente após adotar uma série de medidas restritivas mais severas.
É impossível que qualquer medicamento ou vacina transforme uma espécie animal em outra. Também não é verdade que a vacina pode dar superpoderes, fazer crescer barba ou alterar o tom da voz de uma pessoa.
A frase “virar jacaré” virou meme e até foi criado um site chamado jacaré-tracker para monitorar quantas pessoas já viraram jacaré após tomar a vacina. O acumulado até agora é zero.
Uma outra teoria conspiratória surgiu alegando que as vacinas contra Covid-19 produzidas na China iriam implantar um chip 5G no corpo das pessoas. Dentre os componentes das vacinas estão água, sais, estabilizantes, adjuvantes, como o hidróxido de alumínio, que ajuda a aumentar a resposta imunológica, açúcar e até derivados de ovo, mas não há microchips. Ou seja, sem upgrade gratuito na conexão do celular. (Via: Folhapress)
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