Em conversa gravada com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) na noite de sábado (10), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de "bosta" e afirmou que teria que "sair na porrada" com o autor do requerimento de criação da CPI da Covid-19.
"Se você [Kajuru] não participa [da CPI], vem
a canalhada lá do Randolfe Rodrigues para participar e vai começar a encher o
saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desses", afirmou
Bolsonaro em áudio divulgado por Kajuru na manhã desta segunda-feira (12) na
Rádio Bandeirantes.
No domingo (11), Kajuru havia divulgado gravação
de uma conversa telefônica entre ele e Bolsonaro. No trecho que veio a público,
Bolsonaro pedia ao senador que ampliasse o escopo da CPI para que atingisse
também prefeitos e governadores.
Bolsonaro disse que, se os senadores não mudarem o
escopo da CPI, ampliando para investigar as ações de governos regionais também,
será investigado apenas o governo federal e seus aliados. Segundo ele, vão
ouvir "só gente nossa" para produzir "relatório sacana".
"Se não mudar a amplitude, a CPI vai
simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório
sacana. Tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá
aí. Dá para ser uma limonada", disse ao senador.
Na
manhã desta segunda-feira, ao conversar com apoiadores, Bolsonaro condenou o
registro e a divulgação do diálogo, sugerindo que não sabia que estava sendo
gravado.
"O que está em voga hoje em dia é que eu fui
gravado numa conversa telefônica, a que ponto chegamos no Brasil aqui.
Gravado", disse Bolsonaro, segundo imagens divulgadas na internet por um
apoiador.
"Não é vazar. É te gravar. A gravação é só
com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar. E outra, só
para controle, falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da
minha parte, tá?", complementou o presidente na porta do Palácio da
Alvorada.
Kajuru, então, concedeu uma entrevista à Rádio
Bandeirantes para explicar ao apresentador José Luiz Datena.
À rádio, Kajuru disse ter avisado a Bolsonaro às
12h40 de domingo que, em 20 minutos, divulgaria o áudio da conversa.
De acordo com o senador, todos sabem que ele grava
conversas telefônicas e que já divulgou outros diálogos que teve com Bolsonaro.
Além disso, disse o senador, em nenhum momento o
presidente pediu que ele não publicasse o áudio.
"No caso do presidente Bolsonaro, eu avisei
ontem [domingo], 12h40, ao ligar para ele para contar sobre o requerimento
feito, que eu subscrevi, do senador Alessandro Vieira, nós dois somos do mesmo
partido, o Cidadania. Que é exatamente o quê? É estender a CPI para
governadores e prefeitos", disse Kajuru.
"Falei 'presidente, vou colocar agora, uma
hora da tarde, a nossa conversa, que vai ser importante'. Porque foi um
desabafo dele. Então, eu considerei que aquilo, para mim, como várias vezes eu
já conversei com ele e coloquei no ar falas dele, eu voltei a fazer isso porque
para mim foi uma proteção a ele para mostrar ao Brasil inteiro que ele está se
sentindo prejudicado e, repito, usou a palavra sacana porque realmente ele
estava chateado", afirmou o senador.
Kajuru disse que que, para proteger Bolsonaro,
omitiu o ataque a Randolfe Rodrigues.
"A única parte da entrevista que não coloquei
para protegê-lo, porque acho que foi desnecessário, foi quando ele ofendeu um
senador e falou que ia para a porrada com este senador. Falei 'presidente,
calma, não é hora disso, presidente'", relatou Kajuru.
Durante o programa, Datena mostrou a Kajuru a fala
de Bolsonaro aos apoiadores, autorizando-o a divulgar toda a conversa.
"Ele não está dizendo que eu menti. Ele está
dizendo que eu não coloquei tudo o que ele falou. E ele sabe o que ele falou.
Se ele quer que eu coloque, eu coloco", afirmou, antes de pedir a um
assessor que selecionasse o trecho para exibição.
"Se ele deseja paz com a
CPI, eu colocar no ar a parte do que ele falou, ele iria arrumar uma briga com
todos os senadores. Agora, ele quer, ele vai ter", disse Kajuru.
Até a publicação desta reportagem, o senador Randolfe Rodrigues não havia se
manifestado. Filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaor (Republicanos-RJ)
informou que irá representar contra Kajuru no Conselho de Ética do Senado. (Via: Folhapress)
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