Após uma semana tumultuada na área econômica por conta da iniciativa de furar o teto dos gastos, que resultou em uma debandada na equipe do ministro Paulo Guedes (Economia), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou neste domingo (24) que não vai interferir em preços e que vai buscar dar segurança para o mercado. O chefe do Executivo ainda buscou novamente afastar rumores de decisão e disse que vai "sair junto" com Guedes.
A fala aconteceu justamente ao lado de Paulo Guedes, convidado a acompanhá-lo em um evento de passarinhos nos arredores de Brasília. Ao final, os dois concederam uma rara entrevista a jornalistas para tratar das questões econômicas.
Guedes, por sua vez, afirmou que a aprovação das reformas econômicas que estão em tramitação no Congresso compensaria o furo do teto dos gastos. Ainda aproveitou para atacar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cobrando o avanço dessas reformas. Disse que Pacheco, cotado como candidato a presidente, precisa ajudar o governo se quiser se "viabilizar como uma alternativa séria".
O presidente Bolsonaro citou especificamente o preço dos combustíveis, que não pode ser alterado por uma canetada. Disse que isso já foi feito no passado e "não deu certo".
"Alguns querem que a gente interfira no preço. A gente não vai interferir no preço de nada. Isso já foi feito no passado e não deu certo", afirmou.
Bolsonaro, no entanto, afirmou que está discutindo com seu ministro da Economia uma solução para a Petrobras. Disse que a legislação atual a mantém independente, mas reconheceu que o processo de privatização é difícil. "Privatizar não é colocar na prateleira", afirmou.
O mandatário ainda lembrou que os preços dos combustíveis serão novamente reajustados e que por isso vai implementar um auxílio aos caminhoneiros, embora reconheça que o valor é "pouco".
"Prevendo isso [aumento dos preços], se antevendo a isso, nós discutimos bastante um auxílio ao caminhoneiro. Sabemos que é pouco, R$ 400 por mês, é pouco, mas estamos fazendo isso no limite da responsabilidade fiscal", afirmou.
Bolsonaro também aproveitou para elogiar o trabalho do ministro Paulo Guedes. Disse que fez um trabalho excepcional em 2019 e "ainda melhor" em 2020. Quando Guedes foi questionado se permaneceria no governo, Bolsonaro se antecipou e respondeu:
"A gente vai sair junto, lá na frente. Pode ter certeza disso", disse o presidente.
Guedes cobrou do Congresso, em particular do Senado, mais celeridade na tramitação das reformas econômicas. Disse que essas reformas vão compensar o furo no teto dos gastos. Citou que apenas a administrativa resultaria em uma economia no futuro de R$ 300 bilhões.
O ministro reforçou que é defensor do teto dos gastos, mas que o presidente precisou tomar uma importante decisão política e evitar o sofrimento dos mais pobres.
"Vou continuar a defender o teto, as privatizações. Agora, o presidente precisa tomar as decisões políticas muito difíceis. Se ele respeita o teto, ele deixa 17 milhões de famílias passando fome", afirmou.
Guedes elogiou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por ter avançado com as propostas que envolvem alteração no imposto de renda e também a PEC dos Precatórios - aprovada em comissão da Casa.
Por outro lado, criticou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
"O presidente do Senado se lança agora à presidência da República. Se ele não avançar com as reformas, como é que vai defender a própria candidatura dele? Ele precisa avançar com as reformas, precisa nos ajudar a fazer as reformas. Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza que ele não vai fazer", afirmou.
"Então se ele quiser se viabilizar politicamente como uma alternativa séria, ele precisa ajudar o nosso governo a avançar com as reformas", completou.
Guedes também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que os governos petistas "quebraram o Brasil".
"O presidente sempre apoiou as reformas. É um político popular, mas está deixando a economia ser reformista. Ele não é populista. Tem muito populista aí, inclusive candidato à Presidência, falando em R$ 600, R$ 700, R$ 800.", afirmou, em referência a Lula, que defendeu esse valor de auxílio.