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domingo, 24 de outubro de 2021

Preso traficante mais procurado da Colômbia

O líder do grupo criminoso Clã do Golfo, Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como "Otoniel", foi preso no sábado (23) em uma operação conjunta da polícia e das Forças Armadas no noroeste da Colômbia. Ele era o traficante de drogas mais procurado do país. As informações são da agência internacional de notícias EFE.

Imagens divulgadas por diversos meios de comunicação mostram o criminoso sorrindo, vestido de calça e camisa pretas e com as mãos amarradas nas costas, sendo conduzido por soldados armados com rifle após descer de um helicóptero militar.

Segundo as primeiras informações, a prisão de Otoniel ocorreu na zona rural de El Totumo, que faz parte do município de Necoclí, no Golfo de Urabá, noroeste da Colômbia. Foi nessa região que surgiu o Clã do Golfo, que posteriormente se espalhou pelo país. 

O traficante era procurado desde 2015 na região de Urabá por milhares de policiais e militares envolvidos nas duas fases da Operação Agamenon, na qual dezenas de homens sob seu comando foram presos ou mortos, além da apreensão de toneladas de cocaína.

O governo colombiano afirma que o Clã do Golfo é responsável pelo envio de toneladas de cocaína aos Estados Unidos, além de montar uma rede criminosa dedicada à extorsão de empresários e comerciantes na região de Urabá, na fronteira com o Panamá, e principalmente na costa atlântica. O grupo também é acusado de assassinar vários policiais e líderes sociais como parte de sua estratégia de terror nas áreas onde o clã opera. Por essas razões, Otoniel tem mais de 100 processos abertos na Justiça colombiana e a Interpol o procurava com um aviso vermelho.

De camponês e guerrilheiro de esquerda a traficante mais procurado: quem é o colombiano 'Otoniel'

O presidente colombiano, Iván Duque, comparou sua detenção à queda de Pablo Escobar, o grande barão da cocaína, morto pela polícia colombiana em 1993. Escobar, lendário chefe do cartel de Medellín, foi de longe o traficante de drogas mais famoso do mundo.

"É o golpe mais duro desferido contra o narcotráfico neste século no nosso país", disse Duque em uma declaração pública.

'Otoniel', de 50 anos, lidera o Clã do Golfo, a principal quadrilha criminosa da Colômbia. Não era procurado apenas pelas autoridades locais: os Estados Unidos ofereciam até US$ 5 milhões por informações sobre seu paradeiro ou que permitissem sua captura. Já o governo da Colômbia oferecia cerca de US$ 800 mil. Foi quase uma década de buscas.

Segundo a imprensa colombiana, 'Otoniel' era procurado pela Interpol por diversos homicídios, sequestros, formação de quadrilha e outros crimes. Ele é réu em mais de 120 processos judiciais na Colômbia.

O traficante nasceu em 15 de setembro de 1971 no município de Necoclí, em uma estratégica região do noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e do Caribe.

Úsuga liderava um grupo de paramilitares que se autodenomina Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), também conhecidas como Clã do Golfo, presente em quase 300 cidades do país, segundo o centro de estudos independente Indepaz. Esse aparato criminoso fica principalmente no Pacífico, um local estratégico para o envio de cargas de drogas.

Ele passou a liderar o Clã do Golfo após a morte do seu irmão, Juan de Dios, "Giovanni", em confronto com a polícia em 2012.

"Tem um portfólio amplo de atividades criminosas, que incluem garimpo ilegal e a passagem de imigrantes para o Panamá", explicou à AFP o especialista em segurança Ariel Ávila.

Segundo o centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo também atua na contratação de gangues de rua locais para realizar em seu nome atividades de microtráfico, extorsão e pistolagem.

Cartel em família

De acordo com informações da BBC, o Clã del Golfo era inicialmente conhecido como Urabeños, pela região de Urabá onde opera. Mas o grupo tinha braços em grande parte do país e em outros países - membros do grupo foram capturados no Brasil, na Argentina, no Peru, na Espanha e em Honduras.

O núcleo de poder do cartel é composto não só por 'Otoniel' e Giovanni, mas também vários primos e outros parentes próximos dos dois.

Por exemplo, Francisco José Morelo Peñata, conhecido pelo apelido de "El Negro Sarley", teve um relacionamento amoroso com uma das irmãs de Otoniel, segundo a polícia, e se tornou o segundo na organização após a morte de Giovanni. Peñata foi morto em uma operação policial em abril de 2013.

O responsável pelas finanças do grupo era a namorada de 'Otoniel', Blanca Senobia Madrid Benjumea, a "La Flaca", que foi capturada em 2015. E quem fazia o contato com cartéis mexicanos e coordenava o narcotráfico para a América Central era o sobrinho de Otoniel, Harlison Úsuga, o "Pedro Arias" , também preso em 2015.

Em agosto de 2020, o governo colombiano autorizou a extradição para os Estados Unidos de Alexander Montoya Úsuga, conhecido como 'El Flaco', primo de Otoniel que havia sido capturado em 2012 em Honduras.

Os fortes laços familiares do grupo e sua firme implantação em uma área da Colômbia muito conhecida pelo cartel são alguns dos motivos que dificultaram a captura de Otoniel pelas autoridades.

A família é nativa da região de Urabá e sabe como administrar suas terras e ter poder sobre a população local.

Táticas para não ser preso

'Otoniel', sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de Dios Úsuga, um casal que diz ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e gado no departamento de Antioquia (noroeste), usava táticas de guerrilha para burlar a força pública.

O líder criminoso viajava sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar, relataram as autoridades colombianas.

Nas últimas semanas, chegou a dormir na selva, sob chuva ou em cabanas de madeira, mas sem se aproximar de residências.

Essas casas rurais contrastavam fortemente com as televisões de tela grande, bebidas caras e perfumes sofisticados que as autoridades costumavam encontrar nos locais onde ele morava. Outra característica distintiva de seus esconderijos eram os caros colchões especiais que ajudavam a aliviar o desconforto de uma hérnia de disco.

Segundo a imprensa colombiana, Otoniel não utilizava celulares para evitar o rastreamento. Ele se comunicava com os integrantes de sua organização enviando mensagens de voz que eram distribuídas em gravadores e pen drives ou por e-mail.

Nos últimos dias da perseguição, adentrou na mata virgem da região de Urabá, de onde é originário, e se desfez de seus telefones, substituindo-os por correios humanos.

Otoniel também tinha vários truques para escapar da polícia. Entre eles estava o uso de cães treinados para alertar quando algum estranho se aproximava, para poder fugir.

Em uma dessas fugas, Otoniel teve que deixar para trás um dos cachorros, que foi adotado pela polícia e batizado de Oto. O cão foi então treinado e usado em uma operação de 2015 para ajudar a procurar seu antigo dono, cujo cheiro ele já conhecia.

'Não muito ideologizado'

Aos 18 anos, uniu-se ao Exército de Libertação Popular (EPL), uma guerrilha marxista desmobilizada em 1991. Voltou a combater junto a grupos paramilitares de extrema direita, que semearam terror nos anos 1990 com massacres e atrocidades cometidas em sua luta contra as guerrilhas de extrema esquerda.

"Não era revolucionário, era o que tinha e foi embora com eles", contou sua mãe em uma entrevista ao jornal colombiano El Tiempo em 2015.

Úsuga não fez parte do processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde e, entre 1993 e 1994, uniu-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico.

"Era um camponês não muito ideologizado", afirmou Ávila.

A ACCU fez parte das Autodefesas Unidas da Colômbia, que se desmobilizaram em 2006 por iniciativa do governo de Álvaro Uribe (2002-2010).

Mas, segundo o analista, "Otoniel" se sentiu "desapontado" com o processo de submissão à Justiça e decidiu se manter na ilegalidade.

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