O líder do grupo criminoso Clã do Golfo, Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como "Otoniel", foi preso no sábado (23) em uma operação conjunta da polícia e das Forças Armadas no noroeste da Colômbia. Ele era o traficante de drogas mais procurado do país. As informações são da agência internacional de notícias EFE.
Imagens divulgadas por diversos meios de comunicação mostram o criminoso sorrindo, vestido de calça e camisa pretas e com as mãos amarradas nas costas, sendo conduzido por soldados armados com rifle após descer de um helicóptero militar.
Segundo as primeiras informações, a prisão de Otoniel ocorreu na zona rural de El Totumo, que faz parte do município de Necoclí, no Golfo de Urabá, noroeste da Colômbia. Foi nessa região que surgiu o Clã do Golfo, que posteriormente se espalhou pelo país.
O traficante era procurado desde 2015 na região de Urabá por milhares de policiais e militares envolvidos nas duas fases da Operação Agamenon, na qual dezenas de homens sob seu comando foram presos ou mortos, além da apreensão de toneladas de cocaína.
O governo colombiano afirma que o Clã do Golfo é responsável pelo envio de toneladas de cocaína aos Estados Unidos, além de montar uma rede criminosa dedicada à extorsão de empresários e comerciantes na região de Urabá, na fronteira com o Panamá, e principalmente na costa atlântica. O grupo também é acusado de assassinar vários policiais e líderes sociais como parte de sua estratégia de terror nas áreas onde o clã opera. Por essas razões, Otoniel tem mais de 100 processos abertos na Justiça colombiana e a Interpol o procurava com um aviso vermelho.
De camponês e guerrilheiro de
esquerda a traficante mais procurado: quem é o colombiano 'Otoniel'
O presidente colombiano, Iván
Duque, comparou sua detenção à queda de Pablo Escobar, o grande barão da
cocaína, morto pela polícia colombiana em 1993. Escobar, lendário chefe do
cartel de Medellín, foi de longe o traficante de drogas mais famoso do mundo.
"É o
golpe mais duro desferido contra o narcotráfico neste século no nosso
país", disse Duque em uma declaração pública.
'Otoniel', de
50 anos, lidera o Clã do Golfo, a principal quadrilha criminosa da Colômbia.
Não era procurado apenas pelas autoridades locais: os Estados Unidos ofereciam
até US$ 5 milhões por informações sobre seu paradeiro ou que permitissem sua
captura. Já o governo da Colômbia oferecia cerca de US$ 800 mil. Foi quase uma
década de buscas.
Segundo a
imprensa colombiana, 'Otoniel' era procurado pela Interpol por diversos
homicídios, sequestros, formação de quadrilha e outros crimes. Ele é réu em
mais de 120 processos judiciais na Colômbia.
O traficante nasceu em 15 de
setembro de 1971 no município de Necoclí, em uma estratégica região do noroeste
da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e
do Caribe.
Úsuga liderava
um grupo de paramilitares que se autodenomina Autodefesas Gaitanistas da
Colômbia (AGC), também conhecidas como Clã do Golfo, presente em quase 300
cidades do país, segundo o centro de estudos independente Indepaz. Esse aparato
criminoso fica principalmente no Pacífico, um local estratégico para o envio de
cargas de drogas.
Ele passou a
liderar o Clã do Golfo após a morte do seu irmão, Juan de Dios,
"Giovanni", em confronto com a polícia em 2012.
"Tem um
portfólio amplo de atividades criminosas, que incluem garimpo ilegal e a
passagem de imigrantes para o Panamá", explicou à AFP o especialista em
segurança Ariel Ávila.
Segundo o
centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo também
atua na contratação de gangues de rua locais para realizar em seu nome
atividades de microtráfico, extorsão e pistolagem.
Cartel em família
De acordo com informações da BBC, o Clã del Golfo era inicialmente
conhecido como Urabeños, pela região de Urabá onde opera. Mas o grupo tinha
braços em grande parte do país e em outros países - membros do grupo foram
capturados no Brasil, na Argentina, no Peru, na Espanha e em Honduras.
O núcleo de
poder do cartel é composto não só por 'Otoniel' e Giovanni, mas também vários
primos e outros parentes próximos dos dois.
Por exemplo,
Francisco José Morelo Peñata, conhecido pelo apelido de "El Negro
Sarley", teve um relacionamento amoroso com uma das irmãs de Otoniel,
segundo a polícia, e se tornou o segundo na organização após a morte de
Giovanni. Peñata foi morto em uma operação policial em abril de 2013.
O responsável pelas finanças
do grupo era a namorada de 'Otoniel', Blanca Senobia Madrid Benjumea, a
"La Flaca", que foi capturada em 2015. E quem fazia o contato com
cartéis mexicanos e coordenava o narcotráfico para a América Central era o
sobrinho de Otoniel, Harlison Úsuga, o "Pedro Arias" , também preso
em 2015.
Em agosto de
2020, o governo colombiano autorizou a extradição para os Estados Unidos de
Alexander Montoya Úsuga, conhecido como 'El Flaco', primo de Otoniel que havia
sido capturado em 2012 em Honduras.
Os fortes
laços familiares do grupo e sua firme implantação em uma área da Colômbia muito
conhecida pelo cartel são alguns dos motivos que dificultaram a captura de
Otoniel pelas autoridades.
A família é
nativa da região de Urabá e sabe como administrar suas terras e ter poder sobre
a população local.
Táticas para não ser preso
'Otoniel', sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de Dios
Úsuga, um casal que diz ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e gado no
departamento de Antioquia (noroeste), usava táticas de guerrilha para burlar a
força pública.
O líder
criminoso viajava sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas
no mesmo lugar, relataram as autoridades colombianas.
Nas últimas
semanas, chegou a dormir na selva, sob chuva ou em cabanas de madeira, mas sem
se aproximar de residências.
Essas casas
rurais contrastavam fortemente com as televisões de tela grande, bebidas caras
e perfumes sofisticados que as autoridades costumavam encontrar nos locais onde
ele morava. Outra característica distintiva de seus esconderijos eram os caros
colchões especiais que ajudavam a aliviar o desconforto de uma hérnia de disco.
Segundo a
imprensa colombiana, Otoniel não utilizava celulares para evitar o
rastreamento. Ele se comunicava com os integrantes de sua organização enviando
mensagens de voz que eram distribuídas em gravadores e pen drives ou por
e-mail.
Nos últimos dias da
perseguição, adentrou na mata virgem da região de Urabá, de onde é originário,
e se desfez de seus telefones, substituindo-os por correios humanos.
Otoniel também
tinha vários truques para escapar da polícia. Entre eles estava o uso de cães
treinados para alertar quando algum estranho se aproximava, para poder fugir.
Em uma dessas
fugas, Otoniel teve que deixar para trás um dos cachorros, que foi adotado pela
polícia e batizado de Oto. O cão foi então treinado e usado em uma operação de
2015 para ajudar a procurar seu antigo dono, cujo cheiro ele já conhecia.
'Não muito ideologizado'
Aos 18 anos, uniu-se ao
Exército de Libertação Popular (EPL), uma guerrilha marxista desmobilizada em
1991. Voltou a combater junto a grupos paramilitares de extrema direita, que
semearam terror nos anos 1990 com massacres e atrocidades cometidas em sua luta
contra as guerrilhas de extrema esquerda.
"Não era
revolucionário, era o que tinha e foi embora com eles", contou sua mãe em
uma entrevista ao jornal colombiano El Tiempo em 2015.
Úsuga não fez
parte do processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo
rebelde e, entre 1993 e 1994, uniu-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e
Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para
combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico.
"Era um camponês não
muito ideologizado", afirmou Ávila.
A ACCU fez
parte das Autodefesas Unidas da Colômbia, que se desmobilizaram em 2006 por
iniciativa do governo de Álvaro Uribe (2002-2010).
Mas, segundo o
analista, "Otoniel" se sentiu "desapontado" com o processo
de submissão à Justiça e decidiu se manter na ilegalidade.
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