O jornalista Manoel Pires Medeiros Neto, assessor especial da governadora Raquel Lyra (PSDB), informou nesta quinta-feira (21) que pediu exoneração do cargo após ser acusado pelo presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), de integrar uma "milícia digital" para atacar adversários do governo do estado.
O anúncio foi feito por meio de uma carta divulgada pelo próprio servidor. Na mensagem, ele se dirige à governadora e disse ter sido vítima de "um baixíssimo golpe de violência patrocinado pelo presidente do Legislativo estadual" (leia nota na íntegra ao fim da reportagem).
O g1 entrou em contato com Álvaro Porto, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
As acusações foram feitas durante um pronunciamento de Álvaro Porto no plenário da Alepe, na quarta (20). No discurso, o deputado disse que Manoel fez uma denúncia anônima contra a deputada estadual Dani Portela (PSOL) por, supostamente, ter contratado uma empresa fantasma de um parente para prestar serviços de automatização de dados ao seu gabinete.
Dani Portela foi a autora do requerimento de abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Publicidade, que investiga supostas irregularidades em contratos do governo com agências de comunicação. Segundo a deputada, a denúncia é falsa.
Na carta endereçada à governadora, o jornalista disse que agiu "livremente, como um cidadão deve viver numa democracia" e afirmou ter sido alvo de uma "ação sem precedentes e comparável a momentos de subjugação da liberdade já vividos".
"Uma violência praticada aos olhos de todos e declaradamente realizada com aparato público: a Superintendência de Inteligência do Legislativo, que ilegalmente devassou a minha vida e expôs minha imagem na internet e nas TVs ('imagem cedida pela Alepe')", declarou Medeiros.
O assessor disse, ainda, que vai processar os responsáveis pela investigação, "oficializada com o carimbo da Casa de Joaquim Nabuco", e informou que vai registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
"Como visto e amplamente noticiado, estou sendo vítima de um baixíssimo golpe de violência política patrocinado pelo presidente do Poder Legislativo estadual simplesmente porque agi como cidadão, pela minha própria e exclusiva vontade, conectado a uma militância responsável contra a corrupção que acompanha a minha trajetória desde cedo e é conhecida por muitos", afirmou.
O presidente da Casa já tinha denunciado a existência da "milícia digital" em outro pronunciamento na semana passada. Na ocasião, ele disse que o grupo era formado por funcionários da Casa Civil.
“A Casa Civil, pelo que se desenha, é apenas um braço da rede. A cabeça, senhoras e senhores, pasmem — mas pasmem mesmo — está montada no gabinete da governadora. A milícia digital palaciana vem sendo operada pelo assessor do Gabinete Manoel Pires Medeiros Neto”, disse Álvaro Porto no pronunciamento.
De acordo com o deputado, o envolvimento de Manoel no que chamou de "gabinete do ódio" foi descoberto durante uma investigação realizada pela polícia legislativa da Alepe, a Superintendência de Inteligência Legislativa (Suint).
Durante o pronunciamento, Álvaro Porto divulgou imagens que mostram o assessor usando uma "lan house" de um shopping na Zona Sul do Recife para fazer a denúncia contra a deputada.
Manoel Medeiros trabalhava no governo desde o início da gestão Raquel Lyra. O jornalista atuou como secretário executivo de Informações Estratégicas da Secretaria de Comunicação até 31 de julho do ano passado, quando deixou o cargo para trabalhar na campanha de Daniel Coelho para a prefeitura do Recife.
Prezada governadora Raquel Lyra,
Pernambuco é terra de liberdade e há de defendê-la sempre. Como visto e amplamente noticiado, estou sendo vítima de um baixíssimo golpe de violência política patrocinado pelo presidente do Poder Legislativo estadual simplesmente porque agi livremente, como um cidadão deve viver numa democracia. Ação sem precedentes na história recente de Pernambuco e comparável a momentos de subjugação da liberdade já vividos.
Uma violência praticada aos olhos de todos e declaradamente realizada com aparato público: a Superintendência de Inteligência do Legislativo, que ilegalmente devassou a minha vida e expôs minha imagem na internet e nas TVs (“imagem cedida pela Alepe”). A respeito disso, acionei meus advogados e processarei nas instâncias cabíveis os responsáveis, declaradamente autores da investigação pessoal contra mim, oficializada com o carimbo da Casa de Joaquim Nabuco e sem decisão Judicial. Nesta sexta-feira, irei à delegacia registrar ocorrência e pedir investigação.
Agi como cidadão, pela minha própria e exclusiva vontade, conectado a uma militância responsável contra a corrupção que acompanha a minha trajetória desde cedo e é conhecida por muitos. Saber fazer jornalismo em busca do bem comum, com provas, documentos, contraditórios e informações seguras assusta muitos. Incomoda demais. E mesmo sem temer, registro aqui a existência de ameaças veladas, vinculadas a velhas formas de fazer política, que exigem uma atenção para com minha integridade física.
Diante de tudo isso, tanto para dar seguimento à busca pela justiça, como para manter e fortalecer o meu ofício jornalístico, que é propósito de vida, comunico o pedido de desligamento da gestão estadual. Tenho orgulho de ter feito parte da gestão da senhora, contribuindo efetivamente para virarmos a página de um Pernambuco dos coronéis, quando a administração do Estado era usada em benefício de poucos.
A terra de Joaquim Nabuco, Patrono da liberdade, não há de se curvar à arapongagem, à ameaça e à perseguição. Como cidadão e jornalista, garanto: a minha luta está só começando.
Nova Roma de bravos guerreiros,
Pernambuco imortal, imortal