A Polícia Federal se prepara para reforçar ações no Arquipélago de Fernando de Noronha e no município de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, rotas do tráfico internacional de drogas. Além de novas estruturas físicas, equipes especializadas serão enviadas para ampliar investigações e reprimir outros crimes.
O reforço foi anunciado pela delegada federal Adriana Vasconcelos, nova superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, em entrevista exclusiva à coluna Segurança. Prestes da completar 22 anos na instituição, ela assume o cargo com o desafio de avançar no combate às organizações criminosas e, em 2026, reprimir os crimes eleitorais e milícias digitais no Estado.
Nas mais de duas décadas como delegada federal, Adriana passou por todas as delegacias especializadas da PF em Pernambuco. Em janeiro de 2004, começou a carreira em Salgueiro, no Sertão, combatendo o polígono da maconha. Já no final de 2005, foi transferida para a capital, onde passou a atuar na repressão aos crimes fazendários e ambientais. Houve ainda uma rápida passagem pelo Distrito Federal.
Em 2023, assumiu a Corregedoria da PF em Pernambuco e, nos últimos meses, estava no segundo maior posto da instituição. Até que recebeu o convite de substituir o superintendente Antônio de Pádua, que será o primeiro adido da instituição na Embaixada do Brasil em Pequim, na China.
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COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS
Com forte experiência no combate ao tráfico internacional de drogas e na investigação patrimonial de grandes organizações, Adriana Vasconcelos integrou a equipe da Operação Além Mar, em 2020, que cumpriu 50 mandados de prisão e 139 de busca e apreensão em 13 estados, incluindo Pernambuco.
Na operação - uma das maiores já realizadas pela PF -, 11 aeronaves foram apreendidas e mais de R$ 70 milhões bloqueados pela Justiça Federal para descapitalizar a organização que estava sob investigação na época.
A nova superintendente da Polícia Federal em Pernambuco afirmou que esse segue como um dos focos da instituição. "Estudando a fundo os processos de lavagem de dinheiro, identificando e viabilizando essa pancada na capacidade econômica da organização criminosa. Você, ao mesmo tempo que prende as lideranças, descapitaliza e viabiliza a recapitalização do Estado", disse.
A delegada destacou o trabalho da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) no Estado, que é coordenada pela Polícia Federal com participação de todas as instituições de segurança pública, como as polícias Civil e Militar.
"A Ficco é altamente produtiva, a parceria tem sido altamente exitosa. E estamos iniciando atividades em Petrolina, organizando as instalações físicas para que a gente possa também atuar nesse município do Sertão do Estado", afirmou.
"É uma questão estratégica de posicionamento. Na operação Além Mar, na fase na sigilosa da investigação, foram mais de dez toneladas de cocaína apreendidas na Europa e em portos brasileiros. O esquema passava justamente por Petrolina. Os contêineres vinham vazios do porto de Natal, passavam na região de Juazeiro (BA) e Petrolina para carregamento e, ali mesmo, eram desviados. Por isso, há necessidade de estar mais presente nessa região", explicou.
O aeroporto de Petrolina também vai ganhar reforço com uma unidade da PF. "Estamos aguardando a retomada dos voos internacionais de carga. Nossa presença é fundamental, pois onde o dinheiro circula, a gente tem que estar muito atento."
FERNANDO DE NORONHA
Outra rota de tráfico internacional de drogas que preocupa a Polícia Federal é Fernando de Noronha. Há um posto instalado na ilha desde de 2007, mas com estrutura física precária. "A gente não tinha condições de manter, por exemplo, a nossa embarcação lá, que é fundamental para o patrulhamento marítimo, nem um efetivo mais robusto", pontuou Adriana.
Nos próximos meses, um novo posto da PF será entregue. Segundo a superintendente, as investigações contra os crimes ambientais serão ampliadas.
"Contratamos a nova embarcação que vai ficar destinada exclusivamente para Fernando de Noronha. Vamos ter uma equipe para ficar só fazendo esse patrulhamento marítimo. Vamos ter condições de colocar colegas especializados na repressão ao crime ambiental, porque é uma área totalmente especializada, uma legislação diferenciada", disse.
O posto de Noronha também vai viabilizar a presença mais constante da PF no aeroporto, com ampliação do patrulhamento.
"O aeroporto passou por uma série de melhorias e está sendo discutida a possibilidade de jatos virem direto para Noronha em rotas internacionais. A Polícia Federal tem que estar com efetivo incrementado para acompanhar essa dinâmica."
Em relação ao tráfico de drogas em Noronha, Adriana destacou que a PF atua nas investigações para reprimir a demanda local e o transporte marítimo.
"A gente já teve várias situações de abordagem de veleiros com toneladas de cocaína. A rota [internacional] necessariamente é por Fernando de Noronha. Muitas vezes, o primeiro ponto de entrada em território nacional é pela ilha, assim como o último ponto de saída, e esse controle migratório é feito pela Polícia Federal. Vamos aumentar esse controle com o novo posto", afirmou.
MAIS DESAFIOS PARA 2026
A nova superintendente afirmou que as eleições de 2026 estão entre os próximos desafios da Polícia Federal. "Há o desafio da atuação na repressão a crimes eleitorais e também da questão das milícias digitais. É algo que vamos estar muito atentos, vamos ter que investir muito nas equipes nesse sentido."
A circulação e controle das armas de fogo também está entre os desafios institucionais elencados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
"Houve uma mudança no regramento de 2023 para cá, com a Polícia Federal absorvendo uma atribuição que não lhe cabia outrora. Mas isso também ajuda nas investigações, porque esses dados sobre as armas trazem uma rede de informações fundamental", disse.
Sobre a presença do crime organizado, a delegada federal enfatizou que não há territórios dominados por facções no Estado.
"Felizmente podemos dizer que aqui ainda não existe essa realidade. Existe, sim, uma pressão no sentido de tentativa de ocupação. Por isso os órgãos de segurança pública precisam cada vez mais intensificar essa atuação conjunta, cada um na sua atribuição, mas fortes nessa repressão para evitar uma realidade que não nos interessa", definiu.
NOVA SEDE DA PF
Na última sexta-feira, Adriana assinou a ordem de serviço para início da construção da nova sede da Polícia Federal em Pernambuco, localizada no Cais do Apolo, área central do Recife.
Com custo estimado em R$ 95 milhões, o projeto contempla um prédio principal com 10.000 m² de área construída e um edifício de serviços e garagem com 4.000 m². O prazo de conclusão dos serviços é de 38 meses.
O prédio principal terá sete pavimentos e contará com espaços administrativos modernos, com ambientes integrados para otimizar fluxos de trabalho; delegacias especializadas; laboratórios e instalações de alto padrão para a Perícia Criminal, ampliando a capacidade técnica e científica da PF; setor específico para atendimento de flagrantes, entre outros.
