Luciano Huck, 45 anos, colocou
blazer para gravar o primeiro "Caldeirão" desta temporada, na
quinta-feira (23). A justificativa para o look formal para comandar o
programa que vai ar neste sábado (1º), marcando seus 17 anos na Rede Globo, foi
homenagear cinco brasileiros no especial "Inspiração".
O novo
quadro dá visibilidade a líderes e empreendedores sociais que unem quatro
características que Huck espera ver também no candidato a presidente da
República em 2018: "Carisma, capacidade de implementação, ética e
altruísmo".
Em
entrevista à Folha de S.Paulo o apresentador diz que sua geração está pronta
para ocupar os espaços de poder e que diante do colapso do sistema politico e
da crise ética novas lideranças vão surgir. Ele fica
em cima do muro sobre o assédio de partidos e pesquisas de opinião que lhe
colocariam na corrida rumo ao Planalto.
Pergunta - Como explica a trajetória de apresentador que lançou
Tiazinha e que hoje leva ao palco prêmio Nobel da Paz e professor de ética de
Harvard?
Luciano Huck - Fui amadurecendo. A pauta pessoal norteia
muito a tua comunicação. Há 20 anos, meu universo era de menino. Orbitava na
escola ou na faculdade em que estudava, nos amigos que carregava desde a
infância. Fui ampliando as áreas de interesse, tentando entender qual é a minha
missão no mundo como apresentador, pai, marido, brasileiro, cidadão.
Pergunta - Qual é sua missão?
Huck - O poder que conquistei através do
microfone é resultado de muito trabalho. Tenho 40 milhões de seguidores nas
redes sociais e 18 milhões de pessoas todo sábado assistindo o programa. Espero
dar muito trabalho para o meu biógrafo. No final da história, ficarei contente
se puder ter melhorado o mundo à minha volta. Não gosto da ideia de viver de
forma passiva. Somos curadores em tempo integral do futuro que queremos,
precisamos imaginá-lo e criá-lo.
Pergunta - Que marca quer deixar?
Huck - A minha geração tomou as rédeas do dia a
dia. Você vê um ministro do Supremo de 47 anos (Alexandre de Moraes, que tem
48). O CEO da BRF (Pedro Faria) tem 42. É uma geração que ainda não está na
política como deveria, mas vai estar. A renovação que a gente precisa passa por
uma renovação geracional. Tive o privilégio, que pouca gente tem, de entrar nas
casas das pessoas. Viajei o Brasil todo. Sem nenhum crachá político. Estou numa
fase altamente produtiva, líder de audiência em um espaço relevante e
comercialmente viável. Bicho, vamos usar isso para o bem.
Pergunta - Você abre a temporada com um quadro chamado
"Inspiração". O que te inspira?
Huck - Tropeçar em pessoas que tenham
capacidade de tirar do papel ideias que melhorem a vida das demais. As
lideranças no mundo têm que reunir quatro características principais. Carisma é
fundamental, capacidade de implementação. Mas se ficar só nestas duas, você
pode botar Hitler e Gandhi no mesmo saco. Acrescenta ética e já tira um monte
da lista. Só que a pessoa carismática e ética pode ser egoísta. Aí coloca o
altruísmo e você encontra os líderes que admiro.
Pergunta - Você se enxerga nestas caraterísticas?
Huck - Ih, eu preciso melhorar muito. Você não
nasce necessariamente altruísta. As experiências de vida vão te ensinando.
Pergunta - São qualidades que candidatos à Presidência da
República deveriam ter?
Huck - São características fundamentais para
que alguém de fato possa transformar o país e aproveitar essa oportunidade, que
é o colapso político e a crise ética, para liderar um projeto novo de país.
Pergunta - Há dez anos, você declarou que poderia se lançar à
Presidência no futuro. Esse momento chegou?
Huck - Esta é sempre a pergunta pegadinha. Não
dá para responder na atual conjuntura. Falando seriamente, nossa geração chegou
a um momento em que tem capacidade, saúde, força de trabalho, relevância,
influência. Quem entrou na faculdade em 1990 está chegando agora aos espaços de
poder. Faço parte desta geração. Estamos vivendo um trauma moral e ético que se
soubermos capitalizar para o bem, tenho convicção de que daqui a 10, 20, 30
anos vamos ter um país de fato diferente e mais justo.
Pergunta - Fazendo política?
Huck - Já faço política, fazendo televisão aberta
no Brasil, com o poder que a Globo tem, trazendo boas histórias, dando opinião.
Agora, se me perguntarem se vou concorrer a algum cargo eletivo, eu não sei
responder. E qualquer tipo de resposta é especulação, fofoca.
Pergunta - Há pesquisas que já mostrariam seu nome entre os
candidatos. Você foi informado dos resultados de tais sondagens?
Huck - Cara, o Brasil precisa de renovação e tem
uma classe política completamente desmoralizada, sem nenhum apelo popular,
atração, charme. Se vai ser eu, não faço a menor ideia. Quero poder ajudar a
identificar lideranças.A resposta à pergunta objetiva é não.
Pergunta - É assediado por partidos?
Huck - Não vivo encastelado. Tô na favela, no
sertão, em Brasília. Tenho amigos políticos, nas Forças Armadas, na torcida do
Corinthians, na favela, no samba, no futebol.
Pergunta - Você não respondeu à pergunta. Partidos o assediam?
Huck - Nunca efetivamente.
Pergunta - Não teve convite para se lançar a nada?
Huck - Não, mas também não te responderia
[risos].
Pergunta - Você foi às manifestações?
Huck - Não fui pra rua. Tenho minha opinião
pessoal.
Pergunta - Qual é?
Huck - A mobilização não é contra A, B, C. O
sistema todo entrou em colapso. Independentemente de partido, de ideologias. E
a falência do sistema como um todo é uma oportunidade como poucas na história
do Brasil. Vamos aproveitar que o castelo caiu e construí-lo direito, em outras
bases. Bicho, vamos colocar a base da ética, da transparência. Independente de
que partido você é, da cor da bandeira que você levanta. Todo mundo deveria
querer usar as ferramentas políticas e o poder do Estado para melhorar a vida
de todos.
Pergunta - Como fazer isso diante da polarização?
Huck - O único jeito de arrumar esse país é se
a gente conseguir fazer um pacto apartidário. Sem revanchismo, sem revolta. Se
foi golpe ou se não foi golpe, não importa.
Pergunta
- E como mudar esse sistema?
Huck - O
presidente Michel Temer pode ficar para a história do Brasil se souber usar a
impopularidade dele para fazer o que precisa, para corrigir os erros da
construção da nossa democracia. Fazer voto distrital e um monte de coisas para
acabar com incongruências, vícios.Outro dia, fui gravar no interior de Alagoas,
com uma empreendedora social. O município tinha IDH horroroso, com 50% de
analfabetos. A iniciativa dela tinha, de verdade, transformado a comunidade.
Na
segunda gravação, apareceu a prefeita, não vou dar nome, que não tinha nenhuma
conexão com o lugar. Ia lá duas vezes por mês, morava em Maceió. Óbvio que foi
eleita porque o sistema está errado.
Pergunta - O que espera da Operação Lava Jato? Qual é a sua
opinião sobre o juiz Sergio Moro?
Huck - Sou a favor de todos os movimentos que
ajudem a refazer e ressignificar as bases morais e éticas do Brasil. E sem
dúvida a Lava Jato é o principal deles. Moro é um homem de coragem, e tenho
certeza que os ecos das suas atitudes irão trazer muito benefícios para as
próximas gerações.
Pergunta - Dos nomes já colocados, você tem alguma preferência para
2018?
Huck - Se falar isso agora, eu vou estar me
colocando. Não é hora. Tem muita gente se organizando pra isso, com projeto
legal, boas ideias, vontade de botar a mão na massa e vocação pública.
Só
precisa de fato dar espaço para quem não está viciado em velhas práticas.
Pergunta - Acham que você é tucano?
Huck - Eu não sou tucano, mas sou muito próximo
do Fernando Henrique, a cabeça mais moderna do Brasil e ele tem 85 anos. Sou
amigo do Aécio (Neves, senador mineiro) desde que passei a dividir minha vida
entre Rio e São Paulo, há 17 anos. Tenho carinho por ele, mas foram
pouquíssimas as vezes que misturamos esta amizade com política.
Pergunta - FHC andou falando a interlocutores que você poderia ser
um nome em 2018?
Huck - O presidente gosta de mim, é meu amigo.
Minha mãe é urbanista e casada há décadas com o economista Andrea Calabi, que
participou ativamente dos principais governos tucanos no âmbito federal e
estadual. Natural que a política tenha pautado vários almoços e jantares
familiares desde que me entendo por gente.
Minha
visão política não vou colocar aqui publicamente neste momento. É delicada.
Temos que ver como vai ser o financiamento de campanha. Quem pode dar dinheiro
para campanha de maneira legal.
Pergunta - Neste cenário, a campanha de um nome da TV seria mais
barata, por ser conhecido.
Huck - Não tem campanha nenhuma. O que vai
acontecer em 2018 está ainda em aberto. Grande incógnita. Isso angustia todo
mundo, o cidadão normal, a imprensa, quem quer investir no Brasil.
A solução
pode ser muito boa, pois esse colapso da classe política pode gerar lideranças
positivas, como também pode gerar lideranças controversas.
Pergunta - O brasileiro anda com a autoestima lá embaixo mesmo com
Copa e Olimpíada?
Huck - De novo, não tem liderança. Não tem
projeto. Você não vê ninguém fazendo sinapses e reflexões que de fato inspirem
a sociedade como um todo. A hora em que aparecer uma liderança que faça as
pessoas acreditarem que vai ter um novo capítulo de ética, de altruísmo, junta
todo mundo. São Paulo é um bom exemplo.
Pergunta - Por causa da eleição do João Doria?
Huck - Sem dúvida. João não é político
tradicional, não tem os vícios nem coisas debaixo do tapete que a velha
política teve. Isso faz diferença.
Pergunta - Como lidou com as vaias no Maracanãzinho na Olimpíada?
Huck - Não vou ser unanimidade nunca. Mas estou
em paz com minha consciência. O que a minha carreira me proporcionou e as
relações que construí, eu estou usando para o bem. E não só de quem está a
minha volta. Podem não gostar do que eu faço, da televisão que eu produzo, do
que eu penso, mas eu sou isso aí. (Via: Folhapress)
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