Considerado o golpista mais
conhecido do país, Marcelo Nascimento da Rocha voltou à prisão na manhã desta
quarta-feira (25), em uma operação da Polícia Civil de Mato Grosso.
Marcelo teve sua extensa ficha criminal — a maioria dos crimes que cometeu
são ligados ao estelionato—narrada no livro “VIPs – Histórias Reais de um
Mentiroso”. A publicação depois foi adaptada para o cinema com o ator Wagner
Moura no papel do golpista.
Seu momento de maior notoriedade ocorreu quando concedeu uma entrevista em
2001 ao programa de Amaury Jr., na Rede Bandeirantes. Na entrevista, Marcelo se
passou por Henrique Constantino, filho do fundador da Gol, e até contou planos
de expansão da empresa aérea.
Também chegou a se apresentar como chefe do PCC (Primeiro Comando da
Capital) quando esteve preso em Bangu, presídio do Rio. Na época, era conhecido
como Julião. Durante uma rebelião na unidade, ele chegou a afirmar que o PCC e
o Comando Vermelho formavam "uma só família".
Preso em 12 estados diferentes, sendo que fugiu nove vezes, o
estelionatário cumpria os quase 35 anos de prisão em Cuiabá (MT). Nascido em
Curitiba (PR), Marcelo era piloto e entrou para o mundo do crime quando tinha
16 anos.
Segundo as investigações do GCCO (Gerência de Combate ao Crime
Organizado), da Polícia Civil, Marcelo foi detido sob a suspeita de fraudar uma
série de atestados de trabalho apresentados por ele à Justiça para diminuir sua
pena.
"A gente comprovou que as empresas não têm funcionários, não têm
movimentação financeira e só eram utilizadas como forma de justificar a
progressão de regime”, disse o delegado Diogo Santana, do GCCO.
Marcelo cumpriu quatro anos de prisão no regime fechado. Em 2014, ganhou o
direito ao semiaberto, mas como Mato Grosso não possui unidade prisional para
esse tipo de regime, ele passou a cumprir a pena em casa — era monitorado por
tornozeleira eletrônica.
Segundo a lei de execuções penais, uma pessoa que é condenada no país tem
um dia de pena reduzido a cada três dias trabalhados.
A fraude, segundo a Promotoria de Mato Grosso, foi descoberta a partir de
monitoramentos constantes ao cotidiano de Marcelo, que se tornou uma figura
pública também na capital mato-grossense.
REGIME FECHADO
De acordo com a promotora de Justiça do Núcleo de Execução Penal, Josane
Guariente, foram encontradas cinco empresas de fachada. Nos endereços informados,
os investigadores acharam no lugar casas abandonadas, por exemplo. Uma das
companhias, inclusive, era ligada a um comparsa de Marcelo, que também cumpre
prisão em Cuiabá e foi detido na operação desta quarta.
"Eles tentaram induzir o juízo a erro. Uma vez que os documentos
utilizados não são verdadeiros, não há direito à progressão [de regime]”,
afirmou Guariente.
A promotora disse ainda que solicitará à Justiça que Marcelo volte ao
regime fechado e seja transferido ao Rio de Janeiro.
Após ser detido, Marcelo foi levado ao Fórum de Cuiabá, onde passa por
audiência de custódia que definirá se ele vai ou não retornar ao presídio. O
resultado da audiência não foi informado até esta publicação.
Deverão ser somados à extensa ficha dele os crimes de fraude processual
para obtenção de progressão de regime e lavagem de capitais por uso de
documentos falsos.
O advogado Antonio Carlos Garcia, que faz a defesa do estelionatário,
negou que Marcelo tenha fraudado a documentação apresentada à Justiça. Ele
disse ainda que vai apresentar provas de que seu cliente é inocente, mas não
informou à reportagem da Folha quais seriam elas.
OPERAÇÃO
A operação “Regressus”, que prendeu o golpista Marcelo Nascimento, ocorreu para
desmontar um esquema de corrupção originado na 2º Vara Criminal do Fórum em
Cuiabá.
Foram cumpridos três mandados de prisão preventiva e outros 19 de busca e
apreensão nas cidades de Rondonópolis, Várzea Grande, Cuiabá e Rio de Janeiro.
As investigações também apontaram que outros detentos buscavam diminuir a
condenação que receberam da Justiça usando atestados falsos de estudo. As
instituições de ensino usadas pelos criminosos na fraude foram alvo dos
mandados de busca. Ao longo das investigações, elas terão que comprovar se os
suspeitos realmente eram alunos, quais cursos e a quantidade de aulas que
participaram.
Um caso que chamou a atenção da polícia foi a de um atestado com 4.400
horas de aulas cursadas –só essa quantidade daria para um detento reduzir um
ano de condenação.
Outro braço da investigação localizou um servidor da 2º Vara Criminal
suspeito de subtrair recursos da Justiça. Ele foi preso e responderá pelo crime
de peculato (crime de desvio de dinheiro por funcionário que tenha acesso a ele
em razão da sua função). (Via: Folhapress)
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